Se a Eurovisão "não aconteceu é porque há melhor à nossa espera"

Elisa e Marta Carvalho ganharam o Festival da Canção, em março, com a canção ‘Medo de Sentir’. Deveriam representar Portugal na Eurovisão a 16 de maio, mas o evento acabou por ser cancelado devido à pandemia de Covid-19. O Notícias ao Minuto esteve à conversa com as artistas.

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Sara Gouveia
12/05/2020 09:00 ‧ 12/05/2020 por Sara Gouveia

Cultura

Eurovisão

Elisa e Marta Carvalho ganharam o Festival da Canção, em março, com a canção ‘Medo de Sentir’. A isso deveria seguir-se a representação de Portugal no Festival da Eurovisão, em Roterdão, em maio deste ano, mas, à semelhança de muitos outros eventos por todo o mundo, tal vai acabar por não acontecer, devido à pandemia da Covid-19.

Como forma de homenagear as 41 canções que estariam a concurso, a União Europeia de Radiodifusão (EBU) decidiu organizar o Eurovision: Europe Shine a Light, um espetáculo sem votações e não competitivo. O evento vai decorrer no mesmo dia em que teria lugar a Grande Final da Eurovisão, a 16 de maio e a emissão vai ser transmitida na RTP1, no sábado, pelas 21h. 

Além do evento especial, será feita ainda a Eurovision Song Celebration em que vão participar as canções pela ordem em que iriam concorrer nas duas semifinais da Eurovisão 2020. Portugal vai aparecer no segundo programa porque, segundo o sorteio, ia atuar na segunda semifinal da Eurovisão. As emissões vão decorrer nos dias 12 e 14 de maio, pelas 20h00, em direto no YouTube da Eurovisão.

O Notícias ao Minuto esteve à conversa com as artistas que recordaram como foi ganhar o Festival da Canção e como foi lidar depois com a notícia do cancelamento da Eurovisão. Revelaram ainda o que se pode esperar deste novo evento, onde Portugal vai marcar presença pela voz de Elisa.

Quando começaram a pensar na ideia de participar no Festival da Canção, alguma vez imaginaram que poderiam ganhar?

Marta Carvalho - Não, aliás em casa com a minha família dizia muitas vezes: ‘Temos aqui a canção, a Elisa é incrível mas, quer dizer, estamos a competir com pesos pesados' - Jimmy P, Tiago Nacarato, Bárbara Tinoco, Dino d’Santiago - nunca na vida vamos ganhar. Mas pronto é uma canção bonita. Não pensava mesmo que fosse possível.

Naturalmente a resposta mais comum seria que estava muito feliz, mas não estava feliz, nem triste, estava ainda em choque, em branco. Só quando subi ao palco e o Conan se ajoelhou para nos entregar o prémio é que me caiu tudo Viam o Festival desde pequenas. Já passou algum tempo desde a noite da vitória, a ideia já se tornou mais real?

Elisa - Acho que sim, um pouco. Mas ainda estou um pouco a flutuar, ainda me parece mentira. 

Marta - Eu nas primeiras 24 horas nem sequer estava a flutuar, não estava era mesmo a acreditar. Aliás a reação foi linda, mesmo na altura em que soubemos que tínhamos vencido estive constantemente a certificar-me que não se tinham enganado. Agora já consegui perceber que ganhámos mesmo. O Festival da Canção para mim a nível pessoal tem mais valor porque é nosso é português, é uma celebração do que é feito em Portugal. Tenho lá o troféu em casa em cima do piano e sempre que passo lá ainda me custa acreditar, mas aos poucos já consigo.

Como foi viver aquela votação imprópria para cardíacos? Conseguiram começar a fazer contas?

Elisa - Foi péssimo. Ainda por cima acho que somos as duas más a matemática [risos] e com os nervos piora, mil vezes, por isso foi sofrer até ao final e, como a Marta disse, ter a certeza que ninguém se tinha enganado e que tinham dito o nome correto. Foi muito tenso e no final notou-se que não estávamos em nós e que nem estávamos acreditar.

Marta - Naturalmente a resposta mais comum seria que estava muito feliz, mas não estava feliz, nem triste, estava ainda em choque, em branco. Só quando subi ao palco e o Conan se ajoelhou para nos entregar o prémio é que me caiu tudo. Foi lindo. Depois voltámos a cantar o tema e começaram a cair os confettis. Os meus pais tinham estado nos ensaios à tarde e o meu pai, a dado momento, apontou para cima para os baldes cheios de confettis e disse que iam cair em cima de nós e eu dizia-lhe: ‘Achas?! Estás maluco’ [risos]. E quando de facto caíram em cima de nós só pensava: ‘Wow, o meu pai tinha razão’. Foram vários momentos que minuto a minuto me estavam a arrepiar e que fizeram daquele dia um dos mais inesquecíveis da minha vida. 

Não é nenhuma vitória pela metade, é uma vitória por inteiro e é uma vitória nossa e muito merecida e agradecemos a todos os que votaram em nós. (...) A nossa canção foi a única que teve algum consenso porque se manteve sempre no pódioFicando em segundo lugar na votação do público e do júri, a vitória soube menos a vitória por isso?

Marta - Não. Obviamente tirando assim de um aspeto mais geral parece que não fomos favoritas de nenhum dos dois, mas mais ao menos porque tivémos a pontuação do júri em que conseguimos um 1.º, 2.º, 3.º e até 5.º lugar, de certa forma, e depois houve um voto do público totalmente diferente em que as únicas que se mantiveram no pódio fomos nós. Isso revela que fomos sempre favoritas e portanto não é nenhuma vitória pela metade, é uma vitória por inteiro e é uma vitória nossa e muito merecida e agradecemos a todos os que votaram em nós.

Elisa - Para mim a vitória já era estar a experienciar o Festival da Canção, com a Marta ao meu lado e conhecer aqueles artistas todos. Por isso ganhar o Festival era só mais um passo, só a experiência por si é que vale toda a felicidade. Ganhar foi só mais uma coisa boa que veio.

Como viram a polémica entre os Eurofãs que dizem que a Bárbara Tinoco foi ‘roubada’ nas pontuações?

Marta - No júri, por acaso, senti que deveria ter ficado mais bem classificada, com toda a certeza. Mas como disse há pouco, no público teve os 12 pontos e no júri ficou em 5.º ou 6.º lugar. Foi tão díspar. A nossa canção foi a única que teve algum consenso porque se manteve sempre no pódio, nesse sentido todas as canções poderiam ter sido prejudicadas, porque todas as pessoas têm gostos diferentes. Agora, a Bárbara Tinoco e o Tiago Nacarato já tinham uma grande legião de fãs, são pessoas incríveis e artistas muito bons que representam muito bem a boa saúde da música portuguesa atual. Temos o maior respeito por eles. E, aliás, a música deles era uma das nossas canções favoritas para ganhar. De qualquer das formas o público e o júri votaram e a que teve mais consenso foi a nossa canção.

O que é que ganhar o festival da canção pode fazer pelas vossas carreiras?

Elisa - Falo por mim, comecei agora e até já vi alguns artigos que falam sobre ‘Elisa a desconhecida que ganhou o Festival da Canção’ [risos], por isso acho que o Festival da Canção é, sem dúvida, uma rampa de lançamento. A Marta já era mais conhecida, mas mesmo assim, é sempre uma ajuda. Dá-nos a conhecer a mais pessoas. No caso da Marta ainda deu a conhecer a vertente de compositora e a mim deu-me a conhecer ao público nacional, que ainda não me conhecia.

Marta - Claro, e também mais até do que ser conhecida ou não, acaba por ser um marco nas nossas carreiras enquanto experiência. É uma experiência única na vida, portanto, pelo menos para mim ainda tem mais valor do que propriamente ser conhecida, porque se fosse só por isso até tinha cantado eu. Queria mesmo era ter esta experiência tanto no festival como na Eurovisão. Queria criar muito boas memórias e representar Portugal como muita dignidade.

Fez todo o sentido saber que as músicas não vão ser "reutilizadas". A ideia da Eurovisão é sempre trazer algo novo para o espetáculo, é diversidade e inovação, já estava a prever que a canção de 2020 não fosse usada em 2021E o que é que retiraram desta experiência?

Marta - Acho que o maior de tudo foi esta amizade entre nós. Foi este prémio e o facto de da primeira vez em que participámos ganharmos logo. Mas somos novinhas, a Elisa tem 20 e eu tenho 21, somos raparigas, portanto isto é tem tudo um grande significado para nós.

Elisa - Sem dúvida. É o que acho também. E os ensinamentos, a experiência em si dá-nos mais experiência porque estamos a passar por coisas que nunca tínhamos passado e toda esta logística da coisa, ensaios, etc., é tudo muito novo para mim por isso ajudou-me a crescer enquanto pessoa e artista. Mas a amizade e os bons momentos é o que vai ficar, para a vida mesmo.

Qual é a melhor memória que guardam da vossa passagem pelo Festival da Canção?

Marta - Acho que tenho três memórias que me marcaram muito. A primeira foi a gravação das vozes da Elisa em estúdio, isso marcou-me imenso, fiquei arrepiada porque foi de facto a primeira vez que a ouvi cantar a sério. Ainda só tinha ouvido em vídeo e muito poucas vezes ao vivo, por isso foi dos melhores dias em estúdio que tive. Fez-me mesmo achar que tinha tomado a decisão certa e fiquei muito orgulhosa dela. O segundo momento foi na final, antes de entrarmos no palco, em que lhe pedi para rezarmos juntas e estivemos as duas a rezar enquanto a música do Dino d’Santiago estava a tocar. E por último estar em palco com a Elisa e partilhar aquele momento com ela, porque estávamos a contar a nossa verdade.

Elisa - Para mim o que também me marcou muito, além desses que a Marta disse, foi no momento em que me convidou para ser intérprete do tema dela. Foi um momento que me vai ficar para sempre na memória porque foi a partir daí que tudo começou.

Sem dúvida que era uma experiência de uma vida, mas se não aconteceu é porque há melhor à nossa espera (...).  Ninguém teve culpa do que aconteceuDepois do Festival da Canção, iam passar a representar Portugal na Eurovisão. Como foi o momento em que souberam que o evento tinha sido cancelado devido à Covid-19?

Elisa - Soube pela minha equipa de management e, sinceramente, já estava à espera que algo do género fosse acontecer. De qualquer maneira não deixei de ficar triste.

Marta - Confesso que também estava à espera, tendo em conta que uma semana depois da final o país já estava parado. No entanto, claro que fiquei triste. Mas fico muito grata pela vitória do Festival da Canção.

E depois como se sentiram ao saber que a vossa canção nem ia poder atuar na edição de 2020?

Marta - Respeitei a decisão da Eurovisão e fez sentido pelas razões que apresentaram.

Elisa - Fez todo o sentido saber que as músicas não vão ser "reutilizadas". A ideia da Eurovisão é sempre trazer algo novo para o espetáculo, é diversidade e inovação, por isso já estava a prever que a canção de 2020 não fosse usada em 2021.

Sentem que vos foi roubada a oportunidade de uma vida?

Marta - Sem dúvida que era uma experiência de uma vida, mas se não aconteceu é porque há melhor à nossa espera. Acredito nisso.

Elisa - Ninguém teve culpa do que aconteceu. Óbvio que era um momento muito importante e que agora não sabemos se voltaremos a estar tão perto da Eurovisão como estávamos este ano, mas há que aceitar.

Será tudo dentro das casas dos artistas, pelo menos da minha parte é tudo dentro do meu quarto cá em Lisboa. Para dar a conhecer a parte mais "humana" de cada artista e versões mais cruas das músicas que iam a concurso  

Este novo espetáculo de homenagem, o Eurovision: Europe Shine a Light, é uma oportunidade igualmente boa ou não chega para compensar essa perda?

Marta - Considero que é uma boa iniciativa dentro das circunstâncias possíveis. Nunca será igual, mas fico grata por mesmo assim tentarem valorizar as canções de 2020.

Elisa - É algo muito bom, dá a oportunidade de nos dar a conhecer como artistas a toda a Europa, mas por outro lado tira-nos a oportunidade de conhecer os outros artistas, de viajar para outro país com a nossa canção e de pisar o palco da Eurovisão.

O que podemos esperar? Como será o formato?

Marta - A Elisa vai atuar sozinha em casa.

Elisa - Será tudo dentro das casas dos artistas [penso eu] pelo menos da minha parte é tudo dentro do meu quarto cá em Lisboa. Para dar a conhecer a parte mais "humana" de cada artista e versões mais cruas das músicas que iam a concurso.

Estão ansiosas? Já pensaram em como será a apresentação?

Elisa - Nem por isso, acho que estar em direto no palco da Eurovisão e só ter uma oportunidade de fazer a música bem é muito mais assustador. Aqui em casa consigo repetir quantas vezes quiser até obter o resultado que quero. Será uma apresentação muito caseira e intimista, algo muito simples, mas que não deixa de ter o sentimento e emoção que a música pede.

Marta - Vou estar de minha casa a apoiar a Elisa e vê-la brilhar tal como ela merece!

A apresentação do Europe: Shine a Light vai estar a cargo dos holandeses Chantal Janzen, Edsilia Rombley e Jan Smit, a que se juntam o apresentador da BBC Graham Norton e a youtuber, escolhida para a apresentação digital deste ano, NikkieTutorials, entre outros. O evento vai ser transmitido na RTP1 no sábado, dia 16 de maio.

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