Dia Mundial. Teatro "é uma luta" e "nunca uma navegação calma e fácil"
O dramaturgo e encenador paquistanês Shahid Nadeem considera que o teatro nunca é "uma navegação calma ou fácil", mas antes "uma luta", numa mensagem a propósito do Dia Mundial do Teatro, que se assinala na sexta-feira.
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Cultura Teatro
Shahid Nadeem foi o escolhido pelo Instituto Internacional do Teatro (ITI, na sigla em inglês) para redigir a mensagem do Dia Mundial do Teatro este ano, considerando a seleção uma honra, que estendeu, em tributo, à sua mulher, Madeeha Gauhar - que morreu há dois anos -, considerando-a "um ícone do teatro".
Na mensagem para o Dia Mundial do Teatro, Shahid Nadeem congratula-se ainda pelo gesto do ITI, considerando tratar-se de um reconhecimento do teatro paquistanês e recorda o "caminho longo e difícil" que a companhia percorreu "desde a rua até ao teatro".
Nadeem recorda que provém de um país maioritariamente muçulmano, que viveu "várias ditaduras militares, horríveis ataques de extremistas religiosos e três guerras com a vizinha Índia".
"Ainda hoje vivemos com medo de uma guerra desenfreada com o nosso irmão gémeo vizinho, até mesmo de uma guerra nuclear", observa, sublinhando que, por isso, às vezes dizem a brincar que "os tempos maus são bons para o teatro".
O encenador recorda que, em conjunto com o grupo de teatro que fundou, tem caminhado "na corda bamba há 36 anos".
Uma corda bamba por -- alega -- tentar manter o equilíbrio entre entretenimento e educação, entre pesquisa e aprendizagem a partir do passado e preparação do futuro, entre livre expressão criativa e confrontos temerários com a autoridade.
Um caminho pautado também pela realização de teatro "socialmente crítico e financeiramente viável", "entre tentar alcançar as massas e estar na vanguarda"
Por isso, para Shahid Nadeem, um "fazedor de teatro tem de ser um conjurador, um mágico".
Fundado em 1984, a companhia de teatro Ajoka tem o nome de uma palavra que significa, na língua punjabi, contemporâneo e o seu repertório inclui peças sobre a tolerância religiosa, a paz, a violência de género e os direitos humanos.
Segundo Shahid Nadeem, a atuação dos artistas performativos tem sido "como uma corrida de obstáculos".
"Primeiro, têm que fazer prova das suas credenciais de bons muçulmanos e cidadãos cumpridores e, depois, tentar demonstrar que a dança, a música e o teatro são "permitidos" no Islão, observa.
Por isso, um grande número de muçulmanos zelosos tem mantido relutância em aceitar as artes performativas, apesar de existirem elementos de dança, música e teatro associados às suas vidas quotidianas.
"No Paquistão, durante o regime militar da década de 1980, o Ajoka foi criado por um grupo de jovens artistas que desafiaram a ditadura através de um teatro corajoso, política e socialmente dissonante", recorda na mensagem, sublinhando que esse grupo descobriu que "os seus sentimentos, a sua raiva, a sua angústia, já tinham sido exprimidos de uma forma incrível por um bardo sufi que vivera uns 300 anos antes".
Tratava-se do poeta sufi Bulleh Shah (1680-1757) cuja poesia serviu ao grupo Ajoka "para manifestar declarações políticas explosivas, desafiando uma autoridade política corrupta e uma elite religiosa preconceituosa".
E foi então que Shahid Nadeem escreveu uma peça sobre a vida e a luta daquele poeta, intitulada "Bulha" e com a qual andaram em digressão durante 18 anos e que, segundo o próprio, assinalou o "nascimento" de uma nova forma de teatro no Paquistão.
Para o encenador e dramaturgo, "fazer teatro pode ser um ato sagrado e os atores podem, de facto, tornar-se avatares dos papéis que interpretam".
"O teatro eleva a arte de representar a um plano espiritual superior, tem o potencial de se tornar num santuário e o santuário num espaço performativo", conclui o dramaturgo e encenador paquistanês.
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