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Erotismo anima corpos de homens e mulheres numa exposição de Júlio Pomar

Corpos de homens e mulheres surgem animados pela sexualidade e erotismo nas telas e desenhos da nova exposição de Júlio Pomar (1926---2018), cuja obra foi atravessada por estas formas, "que amava por se tornarem outras", quando pintava.

Erotismo anima corpos de homens e mulheres numa exposição de Júlio Pomar
Notícias ao Minuto

10:48 - 01/05/19 por Lusa

Cultura Pintura

Para assinalar um ano da morte do artista, a 22 de maio, a diretora do Atelier-Museu do pintor, em Lisboa, Sara Antónia Matos, está a organizar uma programação especial, iniciada pela exposição que é inaugurada na quinta-feira, que dá pelo título "Júlio Pomar: Formas que se Tornam Outras".

"Para Júlio Pomar, a pintura eram formas que se tornavam outras, e isso é muito visual nestes temas da sexualidade, erotismo e sensualidade", salientou a responsável, em declarações à agência Lusa, numa visita ao Atelier-Museu, antes da inauguração.

No espaço amplo e aberto do edifício recuperado, junto à rua dos Poiais de São Bento, as 80 obras de pintura, desenho e colagens estendem-se pelo piso térreo e pelo primeiro andar, como se fossem um rasto de sensualidade, muitas vezes totalmente gráfico.

Mesmo nas obras dos anos 1940 - ponto de partida da exposição, que vai até aos anos 2000 - no período do neo-realismo, em que o pintor tratava de temas sociais, como as duras condições de vida dos trabalhadores, é visível a intensidade com que desenhava e pintava os corpos, salientou a diretora.

"Este período do neo-realismo é mais soturno nas cores e nos temas, mas a presença e realce das formas do corpo é já muito forte", comentou Sara Antónia Matos, apontando para telas como "A Varina", de 1949, na qual o corpo feminino, de contornos quase cubistas, mostra "uns seios proeminentes".

Pinturas, assemblagens, cenografias, esculturas, desenhos e obra gráfica -- gravuras, cartazes, serigrafias e ilustrações para livros -- foram reunidas nesta mostra dedicada à obra de Júlio Pomar, num percurso de 70 anos.

O percurso continua nos anos 1960 e 1970, em que o erotismo é muito mais explícito, no meio de cores vivas, e surgem obras reveladoras de relações de amizade e de amor, como representações de Graça Lobo ou de Teresa Marta, a última companheira.

"Esta exposição fala de corpos e formas que se articulam e se complementam, ou fragmentam, e que, no seu encontro se tornam outras", disse a diretora do atelier à Lusa.

Pintor e escultor, nascido em Lisboa, em 1926, Júlio Pomar, falecido em maio do ano passado, aos 92 anos, deixou um trabalho que é considerado de referência na história da arte moderna e contemporânea.

Tornou-se um dos artistas mais conceituados do século XX português, com uma obra marcada por várias estéticas, do neorrealismo ao expressionismo e abstracionismo, e uma profusão de temáticas abordadas e de suportes artísticos experimentados.

Sara Antónia Matos destacou ainda, nesta exposição, a obra "Banho Turco", de 1968, inspirada na famosa tela de Jean-Auguste-Dominique Ingres, "O Banho Turco", de 1862, e que marca uma viragem na obra de Pomar: "Quando ele se dirigia cada vez mais para a abstração, foi com esta obra de um banho turco que passou a estabilizar a pintura, em certos contornos".

Depois, Pomar passou também a explorar outros géneros no mesmo estilo, nomeadamente paisagens, colagens e naturezas mortas, que aqui na exposição foram escolhidas na linha do mesmo tema.

No primeiro piso sucedem-se os desenhos de corpos femininos, e de casais entrelaçados, naquilo que fascinava Júlio Pomar: "formas que se tornam outras formas, corpos que se tornam outros corpos".

E também surgem telas da série dos tigres, nas quais o corpo dos animais por vezes surge atravessado ou fundido por formas humanas, dando origem a outras.

O título desta exposição parte de uma afirmação do próprio artista -- "Gosto de formas que se tornam outras" -- retirada do seu livro "Da cegueira dos pintores", de 1986, recordou a responsável à Lusa.

O artista deixou uma obra multifacetada, influenciada pela literatura, a resistência política, o erotismo e algumas viagens que o marcaram, como à Amazónia, no Brasil.

A obra foi dedicada sobretudo à pintura e ao desenho, mas realizou igualmente trabalhos de gravura, escultura e 'assemblage', ilustração, cerâmica e vidro, tapeçaria, cenografia para teatro e decoração mural em azulejo.

A exposição é inaugurada às 18:00 de quinta-feira, com curadoria de Sara Antónia Matos e Pedro Faro, ficando patente até ao próximo dia 29 de setembro.

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