'A Fábrica de Nada' testou a resistência dos bruxelenses com sucesso

O público de Bruxelas rendeu-se hoje à noite ao filme "A Fábrica de Nada", resistindo à surpresa inicial de estar perante uma película de três horas de duração para aplaudir a obra na presença do seu realizador, Pedro Pinho.

'Fábrica de nada', de Pedro Pinho, premiado na Hungria e no Iraque

© Facebook/Portugal Film - Portuguese Film Agency.

Lusa
10/01/2019 23:40 ‧ 10/01/2019 por Lusa

Cultura

Cinema

A meia hora do início do arranque da programação dedicada a revelar a obra de Pedro Pinho e da Terratreme, já o bar 'underground' do cinema Nova, que serve de montra para a exposição de fotografias dos filmes da produtora portuguesa, estava lotado de espetadores que aguardavam descontraidamente pelo toque da sineta, o sinal que anunciava a abertura da sala e a contagem decrescente para a projeção.

Entre uma cerveja e outra, a espera fazia-se de diálogos cruzados, de uma banda sonora indistinta de vozes e idiomas. De quando em vez, alguém exclamava: "Três horas? Tanto?".

No entanto, assim que entraram na sala, parecida com um armazém abandonado, os espetadores, alguns ainda de copo na mão, deixaram-se embalar pela voz de Gwenaël Breës e pela sua apresentação de 'A Fábrica de Nada'.

Tal como tinha feito numa entrevista à agência Lusa, o programador do cinema Nova contou o seu processo de descoberta do filme e da produtora Terratreme, apresentou Pedro Pinho, detalhou as sessões nas quais o realizador português estará presente até domingo, pediu desculpa pela "pronúncia" ao elencar os filmes - é, de facto, um português bem distante do original - e arrancou brados com a informação de que o filme iria durar três horas.

"É para resistentes", avisou o realizador - e foram-no todos, sem que uma única desistência ou um único ecrã de telemóvel iluminado se registassem durante a projeção.

"Estou muito contente por estar aqui a celebrar os dez anos da Terratreme. Queria dizer-vos que este filme foi realizado durante a crise e que foi contaminado pelo sentimento de humilhação e desorientação que sentimos nesse momento", explicou Pinho antes que as luzes se apagassem para dar início à sessão.

O burburinho desapareceu para que 'A Fábrica de Nada' se fizesse ouvir e os espetadores "caíram" num silêncio profundo, só interrompido por muitas e sonoras gargalhadas e pelo expansivo aplauso final.

Terminada a sessão, tempo para uma conversa com o realizador: num francês quase perfeito, Pedro Pinho repassou a aventura que foi "compor" intermitentemente durante quase seis anos o filme que ganhou o Prémio da Crítica em Cannes, mencionou a crise, a 'troika', as dúvidas existenciais dos portugueses durante aqueles anos traumáticos, mas também os problemas que sentiu para garantir subvenção para a sua obra e para a distribuir -- precisamente pela sua duração.

"Tive reações muito diferentes. A maioria são positivas, as pessoas ficam até ao fim [ri-se]. O filme foi exibido em vários países. Naqueles que foram mais afetados pela crise, as pessoas compreendem muito rapidamente a mensagem, identificam-se. Por exemplo, em Espanha e no Brasil tive conversas muito longas com o público, de mais de uma hora. Infelizmente, ainda não consegui mostrar o filme na Grécia", revelou.

Gwenaël Breës aproveitou o mote para perguntar pelo Governo da 'geringonça', questionando-o se o filme hoje seria igual, com Pinho a apontar a ausência de sentimento de humilhação como a grande diferença para os dias atuais.

"Tudo melhorou ao nível económico, mas o paradigma não mudou porque o nosso destino está dependente das decisões de [Donald] Trump, do Banco Central Europeu. Qualquer coisa nos pode deixar novamente nessa situação", notou.

 

Partilhe a notícia

Escolha do ocnsumidor 2025

Descarregue a nossa App gratuita

Nono ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Leia também

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas