"Há dois anos que nos deparámos com uma disrupção imprevisível no setor automóvel. Muitas são as consequências desta crise, mas há também que evidenciar as oportunidades e a aceleração de algumas mudanças que vieram contribuir para o futuro do mercado automóvel. A redução dos descontos e benefícios fiscais, mas também a continuação da digitalização e previsões de recuperação do mercado de novos e usados no último trimestre do ano são algumas das características que vão marcar o ano 2022.
1. A expectativa é que continue a existir escassez de produto e de veículos novos no mercado ao longo do primeiro trimestre de 2022, devido à crise dos semicondutores e falta de matérias-primas, algo que se vai agravar ainda mais no segundo trimestre do ano. Apenas no terceiro trimestre se prevê o início da recuperação e o aumento de automóveis disponíveis no mercado, que se vai efetivar no último trimestre do ano.
Ao nível dos usados, a tendência acompanha a previsão dos veículos novos, mas com um desfasamento de dois a três meses mais tarde, pois são as substituições, defleet e renovação das frotas que alimentam este mercado. A importação continua a não ser suficiente para alimentar o mercado de usados, o que significa que vão continuar os esforços por parte dos operadores e vendedores profissionais para encontrar produto no mercado de particulares.
2. É expectável que existam menos descontos e benefícios fiscais, sobretudo para atingir objetivos anuais e recuperar após um longo período de escassez de veículos. A situação será semelhante no caso dos veículos usados, apesar de se esperar uma normalização e estabilização dos preços. Estes, no entanto, podem voltar a subir caso se mantenha a escassez de produto, sendo provável que voltem a normalizar ou mesmo baixar no final do ano, quando se prevê a recuperação efetiva do mercado.
3. À semelhança dos modelos de mercado americanos e ingleses, espera-se que os operadores se tornem cada vez mais orientados para os dados. É essencial que operadores e retalhistas acompanhem as flutuações do mercado, para maximizarem e ajustarem os preços de forma a não terem perdas desnecessárias, sobretudo numa fase em que é mais caro renovar o stock.
4. A digitalização veio para ficar, após o grande impulso que decorreu durante a pandemia. Os últimos dois anos contaram com uma evolução e uma forte aposta dos operadores na venda online, click-to-buy, alargamento dos serviços digitais e recurso a ferramentas como as redes sociais para vender os seus veículos. Neste momento, existem empresas que reajustaram as suas estratégias para a conquista do mercado através do formato digital e é importante que os retalhistas e os operadores se adaptem e atualizem as suas ferramentas neste sentido.
5. O aumento da importância dos veículos elétricos é também uma forte tendência que já vínhamos a evidenciar e que veremos consolidar-se em 2022. Cada vez mais fabricantes estão a apostar na eletrificação e a nível de retalho torna-se essencial apostar na formação dos vendedores para que esclareçam todas as dúvidas do consumidor final, não só no mercado de novos, mas também de usados. A nível de usados, vemos que 10% do mercado já corresponde a veículos eletrificados, o que é significativo e irá muito provavelmente continuar a aumentar."
Nuno Castel-Branco, diretor geral do Standvirtual© Global Imagens