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"Em termos de redução da carga fiscal das empresas nada foi feito"

Fernando Paiva de Castro, presidente da Associação Industrial do Distrito de Aveiro, vai marcar presença no Congresso Internacional de Negócios que decorre esta sexta-feira. Ao Notícias ao Minuto, destaca a importância da internacionalização das empresas, uma das temáticas que estará em debate durante o dia.

"Em termos de redução da carga fiscal das empresas nada foi feito"
Notícias ao Minuto

13/10/17 por Pedro Bastos Reis

Economia Paiva de Castro

Esta sexta-feira, decorre, no Parque de Feiras e Exposições de Aveiro, o Congresso Internacional de Negócios, um evento que pretende debater as “tendências e desafios na internacionalização” e o “investimento, crescimento e cooperação empresarial”. Para além disso, pretende fomentar o networking e os negócios entre os participantes.

No painel vão estar nomes como José Ribau Esteves, presidente da Câmara Municipal de Aveiro, Eurico Brilhante Dias, secretário de Estado da Internacionalização, Jorge Portugal, diretor da COTEC Portugal e Fernando Paiva de Castro, presidente da Associação Industrial do Distrito de Aveiro (AIDA).

Em entrevista ao Notícias ao Minuto, Fernando Paiva de Castro, que vai estar nas sessões de abertura e de encerramento do congresso, destaca a importância da internacionalização para as empresas portuguesas e analisa alguns dos desafios que se colocam à economia portuguesa.

Para o presidente da AIDA, as empresas portugueses têm de se expandir e aproveitar os mercados emergentes como a China ou a África do Sul. Nas áreas de investimento, destaca as tecnologias da informação como uma das mais importantes para o investimento, e dá o distrito de Aveiro como exemplo.

De forma a que se verifique a internacionalização das empresas, Fernando Paiva de Castro considera “fundamental” uma “redução da carga fiscal das empresas” e garante que vai aproveitar a presença do secretário de Estado Eurico Brilhante Dias para expôr as suas preocupações.

O Congresso Internacional de Negócios realiza-se hoje. Qual é a importância deste congresso, não só para a economia da cidade de Aveiro, como também a nível nacional?

O distrito de Aveiro é um dos principais distritos [do país] em termos de atividade económica. Caracteriza-se por ter uma atividade bastante diversificada em todos os setores, desde o primário até ao terciário. Nessa perspetiva, oferece um grande potencial de oferta que tem de ser devidamente aproveitado, explorado e apoiado. A nossa perspetiva é precisamente essa, não só informar os industriais da região de Aveiro das potencialidades que podem existir em termos de mercados externos, como também atualizar alguns conhecimentos em relação a alguns desses mercados e debater o problema da internacionalização que continua a ser um problema bastante atual.

Vai estar na sessão de abertura e na de encerramento do evento. Que oradores e/ou temáticas destaca?

Temos o presidente da Agência Nacional de Inovação [José Carlos Caldeira], o presidente do IAPMEI [Jorge Marques dos Santos], o diretor da COTEC [Jorge Portugal] e também um membro do COMPETE [Fernando Alfaiate]. Temos também um outro painel em que intervêm pessoas que estão altamente atualizadas em relação aos mercados da França, dos Estados Unidos e da Alemanha, três dos principais mercados de destino das exportações portuguesas. Mais à frente, na parte de encerramento, contamos ter o secretário de Estado da Internacionalização [Eurico Brilhante Dias], que é a pessoa que poderá trazer algumas novidades em relação à política da internacionalização.

Vai aproveitar a presença do secretário de Estado da Internacionalização para expôr as suas preocupações?

Com certeza. Não podemos deixar passar uma oportunidade destas. Os meios que [as empresas] têm nem sempre são os suficientes, a rede por si só não cobre suficientemente os mercados não tradicionais e, portanto, há aqui uma área que deve ser explorada.

Temos de ir para outros mercados, nomeadamente mercados emergentesQuais são os mercados, a nível internacional, que as empresas deveriam explorar mais? E por que é que ainda não o fazem?

Os nossos principais mercados são de proximidade, os PALOP [Países Africanos de Língua Portuguesa] e outros mercados em que há uma grande ligação à emigração, como Estados Unidos, Brasil, alguns mercados da América do Sul e África. Temos de ir para outros mercados, nomeadamente mercados emergentes, como a China, Austrália e África do Sul. São mercados com potencial, com poder de compra, desenvolvidos, e, portanto, oferecem um leque de oportunidades maior, onde podemos, efetivamente, competir e mostrar as nossas capacidades, porque temos mão-de-obra, indústria e conhecimento capacitados para poder apresentar produtos inovadores e com qualidade.

Acredita que o estado da economia portuguesa é favorável a uma maior internacionalização das empresas?

Consideramos que sim. Não só o estado da economia portuguesa - recentemente até saímos da situação de lixo, o que é um elemento a nossa favo -, mas também têm acontecido uma sucessão de eventos e episódios que têm ajudado a mudar a nossa imagem, como os troféus em várias modalidades desportivas, seja no futebol, no hóquei, no surf ou no atletismo. A própria vinda do Papa... têm sido apontamentos que ajudam a imagem de Portugal no exterior e a dar alguma notoriedade, porque até aqui Portugal ainda estava muito ligado a um cantinho quase que desconhecido neste extrema da Península, um país muito ligado à emigração, com pessoas com pouca cultura. E não é bem assim, hoje temos universidades cotadas nas 100 melhores mundiais.

O próprio turismo tem aumentado substancialmente no nosso país.

O turismo, de forma inversa, tem trazido até nós pessoas de muitas nacionalidades, que contactam e se apercebem da nossa boa situação. Tudo isso ajuda a divulgar o nome [de Portugal] e a abrir portas.

As empresas ainda estão muito endividadas, há um caminho longo que tem de ser percorridoPara além do turismo, em que áreas é que as empresas deveriam apostar para a internacionalização e crescimento económico?

Nas tecnologias de comunicação. É uma das áreas em que devemos apostar e em que temos bastantes competências, nomeadamente no distrito de Aveiro. É uma área onde há muita inovação, que é muito concorrida, mas em que podemos conseguir um valor acrescentado.

Já que fala em Aveiro, cerca de 50% do volume de negócios do distrito centra-se na indústria. Quais são os principais desafios para a economia da região e o que pode ser feito para dinamizá-la?

Um dos grandes desafios, não só na região de Aveiro como também no país, é a reorganização, estruturação e a capacidade das empresas em ganharem algum músculo necessário para entrar na internacionalização. Para tal, precisam de uma estrutura sólida em vários aspetos, em termos de competências humanas, financeiras e técnicas. Para isso, também é preciso ter escala. As empresas ainda estão muito endividadas, há um caminho longo que tem de ser percorrido. Queremos sensibilizar as entidades e empresários para a necessidade de recorrem a novos meios, novas ferramentas, que melhorem a sua capacidade de capitalização. O programa Capitalizar é um programa excelente, bastante abrangente, mas os efeitos vão ser muito longos, na medida em que ainda não está totalmente implementado, e precisávamos de andar um bocado mais depressa.

Outra área em que as nossas empresas devem atuar é na aquisição de competências e conhecimento acerca do funcionamento dos mercados externos. Cada mercado tem a sua cultura própria e é preciso, antes de mais, saber como funciona a cultura desse mercado e o que é que procura em concreto para podermos corresponder. Nesse aspeto, a nossa associação [Associação Industrial do Distrito de Aveiro] tem desenvolvido um trabalho ao longo de vários anos no sentido de ajudar os empresários a contactar os mercados, promovendo missões comerciais, fazendo abordagens nesses mercados externos e apoiando os empresários na captação de novas oportunidades de negócio.

Além do programa Capitalizar, que outras medidas é que têm sido postas ao serviço das nossas empresas? Qual o balanço que faz do atual Executivo na dinamização da economia nacional e regional, nomeadamente no que diz respeito à competitividade e à internacionalização das empresas portuguesas?

Precisamos de muito mais. Para além do programa Capitalizar, que outras medidas é que têm sido postas ao serviço das nossas empresas? Efetivamente, vemos poucas. Uma ou outra linha de crédito de pequena dimensão, a parte de seguro de crédito quase que não é percetível porque as seguradoras não cobrem mercados de risco, que não são bem conhecidos. É preciso insistir um bocado mais. O próprio apoio no exterior da rede de agências, da AICEP [Agência para o Investimento e Comércio Externo], ou dos consulados precisava de ser muito mais pró-ativo , muito mais colaborante na ajuda à identificação de oportunidades de negócio. Isto para não falar das condições de atuação das nossas empresas. Temos uma pesadíssima carga fiscal, custos energéticos muito caros, uma legislação laboral complexa, uma burocracia enorme. Tudo isso complica a atividade das empresa, retira-lhes margem e competitividade. Portanto, há muito trabalho de casa para ser feito.

Acha que com os níveis atuais de crescimento económico caminhamos no bom sentido?

Devíamos andar mais depressa. Em termos de redução da carga fiscal das empresas nada foi feito até ao momento. E nada aponta para que venha a ser feito no próximo ano. É um ponto fundamental! As empresas, para poderem distribuir, têm de produzir primeiro.

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