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"Fui eu o primeiro em Portugal a introduzir manuais escolares gratuitos"

Fernando Seara, candidato do PSD à câmara municipal de Odivelas, é o entrevistado de hoje do Vozes ao Minuto.

"Fui eu o primeiro em Portugal a introduzir manuais escolares gratuitos"
Notícias ao Minuto

14/09/17 por Pedro Filipe Pina

Política Fernando Seara

Depois de 12 anos à frente dos destinos de Sintra, Fernando Seara concorreu a Lisboa em 2013, acabando por perder para António Costa.

De então para cá, o vereador de Lisboa conta-nos que teve de enfrentar um “pequeno problema de saúde” e que regressou ao escritório de advogados onde trabalha, a CSA - Correia, Seara, Caldas e Associados.

Pelo meio, ainda voltou a estudar, até que assumiu a candidatura social-democrata a Odivelas, onde pretende disputar no próximo dia 1 de outubro a liderança da autarquia presidida pelo socialista Hugo Martins.

Desvalorizando as críticas que alguns lhe apontam por não ser de Odivelas, Seara recupera o seu tempo passado em Sintra. “Podem querer reescrever a história”. Mas, assegura, há coisas que já ninguém lhe tira.

Quais têm sido as principais preocupações que tem ouvido dos odivelenses?

São principalmente três: a falta de salas em creches e jardins de infância, há necessidade de um investimento forte no Parque Escolar, com a reabilitação urgente de algumas escolas, em segundo lugar a necessidade de maior apoio aos menos jovens. Para tal, quero um programa de apoio a quatro anos às IPSS para saberem com o que podem contar. Em alguns casos há mesmo necessidade de a câmara se empenhar mais financeiramente no apoio a estas instituições. E depois uma consciência maior ao nível de estacionamento, da mobilidade e do cumprimento efetivo dos horário dos transportes públicos, o que implica a necessidade de articulação da Câmara de Odivelas com a Carris, o Metro e os operadores privados.

E neste caso também com o município de Lisboa, certo?

Claro. 

Sente algum afastamento ou alguma fronteira entre Lisboa e os municípios circundantes?

Aceitei Odivelas em razão até da experiência que tive em Sintra e em Lisboa. É evidente que Odivelas precisa de se articular muito com Lisboa, principalmente agora, em razão da assumida municipalização da Carris e da necessidade de ponderação da rede metropolitana.

No tempo antes do pequeno problema de saúde que tive estudei bem todas as questões

Os transportes têm sido um dos temas de maior debate em Lisboa.

Digo sempre que o metropolitano não é de Lisboa, é maioritariamente de Lisboa, o que é diferente, e portanto qualquer presidente de Odivelas tem de ser escutado sobre as opções estratégicas da Carris, como tem de ser escutado sobre as operações de desenvolvimento da linha do Metro. E nessa matéria não digo que o meu tempo como vereador de Lisboa não ajude, porque conheço os assuntos. No tempo antes do pequeno problema de saúde que tive estudei bem todas as questões porque em Lisboa o tema da Carris e do Metro era um tema permanente nos últimos quatro anos, em razão das opções assumidas, quer pelo dr. António Costa enquanto presidente da Câmara, quer pelo dr. Fernando Medina quando assumiu o cargo. 

Odivelas é diferente de Lisboa, capital do país, mas também do concelho de Sintra, que é muito mais extenso e contava com património da UNESCO.

Odivelas tem desde logo essa característica: é um concelho pequeno em área. Já Sintra era o maior concelho no âmbito da área metropolitana de Lisboa. Mas há problemas que são similares. Em Sintra comecei a resolver o problema das áreas urbanas de génese ilegal, que estará completo a curto prazo em Casal de Cambra. E ao lado de Casal de Cambra temos Caneças. E isto é muito interessante: havia instituições privadas em Casal de Cambra [no concelho de Sintra] em que os jovens iam à escola em Caneças [no concelho de Odivelas]…

'Saltavam' a fronteira.

Passavam o território sem a noção do território. Mas vamos pôr as questões como elas são: quando cheguei a Sintra, tinha problemas na rede escolar e na rede de infraestruturas desportivas, que são similares àqueles que vai encontrar, por exemplo, na Ramada.

Tenho a aposta que fiz no Parque Escolar e em infraestruturas desportivas. Dou sempre este exemplo: a capacidade de desenvolvimento do hóquei de patins da [escola secundária] Stuart Carvalhais, que é emblemático. Como fiquei contente que o Real Sport Clube chegasse à segunda divisão do campeonato de futebol. Lembro-me sempre que impus ao saudoso presidente José Libório que parte da transferência do Nani [em que o clube recebeu pelos direitos de formação na transferência do jogador do Sporting para o Manchester United] fosse para o desenvolvimento de espaços desportivos no complexo de Monte Abrãao.

A minha marca nos manuais, na iluminação, no alargamento do IC 19, está lá, não podem dizer que não está láOs 12 anos de governação em Sintra jogam a seu favor?

Quer a experiência de Sintra quer a de Lisboa são para mim mais-valias. A primeira pessoa em Portugal a introduzir os manuais escolares gratuitos no primeiro ciclo fui eu. Lembro-me perfeitamente de muitos presidentes e presidentas de câmara que me pediam se podiam usar o modelo no respetivo concelho. Anos depois, é o Estado e o Governo da República a fazê-lo, mas o primeiro fui eu. Veja-se o desenvolvimento da iluminação pública como elemento fundamental de uma consciência de segurança; fui eu. Ninguém me vai tirar isso. Podem querer reescrever a história, podem querer reler Trotsky e apagar fotografias, mas a minha marca nos manuais, na iluminação, no alargamento do IC 19, o impulso e exigências que fiz para a construção da A16 como alternativa ao IC 19, está lá, não podem dizer que não está lá.

Que avaliação faz do último mandato do PS em Odivelas, iniciado por Susana Amador e concluído por Hugo Martins?

Sabe, uma das coisas que aprendi na vida é o seguinte: não faço valorações, apresento-me como sou. Para mim a prioridade é a educação, o apoio aos idosos, a mobilidade, o estacionamento, essas são as minhas prioridades. Quem olhar demasiado para o passado, mesmo o passado recente, não tem ambição de futuro, portanto não vou criticar ninguém. E vou ser sincero: gostava que Odivelas voltasse a ter um clube emblemático, gostava de ver ressurgir o Odivelas FC, o clube onde jogou o Roderick e outros grandes nomes, gostava que o futsal chegasse bastante longe.

E não posso nunca esquecer o seguinte: como membro efetivo da Associação Nacional de Municípios Portugueses, nós contribuímos ao longo dos anos para o reforço do poder local, para o reforço da soberania fiscal e para o reforço das verbas atribuídas. As câmaras tiveram dinheiro para fazer muito e as opções municipais foram o que foram.

Muitos dos presidentes da área metropolitana de Lisboa não são dos sítios onde são presidentesE como responde às críticas que lhe apontam por não ser natural de Odivelas.

É uma crítica interessante mas se formos ver, muitos dos presidentes da área metropolitana de Lisboa não são dos sítios onde são presidentes [risos].

Mas é uma dificuldade acrescida?

Quando cheguei a Sintra ninguém me perguntou e dediquei-me e desenvolvi Sintra, criei condições para Sintra ter vias comunicantes permanentes e fiz com que as escolas deixassem de funcionar em regime duplo. E olhe, outra novidade que ninguém me tira: introduzi pela primeira vez em Portugal, nas férias, as refeições escolares para os alunos que quisessem. Não foi em nenhum outro município. Foi em Sintra. Depois é evidente que como as medidas eram boas outros municípios replicaram.

Toda a gente sabe que sou do colégio militar e nós de vez em quando tínhamos de descer por uma velha estrada do Colégio Militar à Luz até às 'meninas de Odivelas', [colégio] que infelizmente já não existe. A estrada está diferente mas ainda lá está, tal como o Mosteiro. O que eu mais estranho é que alguma gente de Esquerda é localista, isto quando eu julgava que a gente de Esquerda era acolhedora. O que mais me perturba é esta estigmatização do localismo no tempo do globalismo. Acho uma coisa espantosa.

Tenho idade e já não tenho cabelo, mas não ter cabelo e já ter esta idade dá-me uma faculdade, sabe qual é? Já ter dito tanta coisa que pode ser escrutinadaMas lida bem com as críticas que lhe são dirigidas ou dispensava essa atenção?

Tenho idade e já não tenho cabelo, mas não ter cabelo e já ter esta idade dá-me uma faculdade, sabe qual é? Já disse tanta coisa que pode ser escrutinada, já fiz tanta coisa por que posso ser avaliado. Todas as semanas escrevo em jornais, toda a gente sabe o que é que eu penso e a vida política é ser escrutinado. Quem pouco diz e pouco fala [pausa]…

...tem vantagem?

Tem uma vantagem: não é escrutinado.

O município de Odivelas tem sido sinónimo de vitórias autárquicas para o PS. É uma 'tradição' que conta quebrar?

Nem é uma 'tradição' de vitórias: o PS sempre dominou Odivelas desde que o concelho foi criado. Mas nós não devemos criticar. Apresento-me como Fernando Seara e o Fernando Seara de Sintra teve esta característica: a primeira vez que ganhou com maioria absoluta foi contra o dr. João Soares e contra o dr. Jorge Coelho, candidato à Assembleia Municipal, e ainda Maria de Belém Roseira, Sérgio Sousa Pinto, Alberto Arons de Carvalho...

Era uma lista forte do PS?

Era uma lista de grandes nomes, com uma grande senhora e grandes senhores. E ganhei com maioria absoluta. E sabe o que é que fiz? Mantive o convite à CDU para continuar a vereador o engenheiro Baptista Alves, que também foi presidente do SMAS de Sintra, e convidei o PS para vereadores com pelouros.

Eu nunca negoceio! Ganhei com maioria absoluta e o meu vereador para o pelouro do turismo em Sintra chamou-se dr. João SoaresEm caso de vitória em Odivelas sem maioria há margem para negociar?

Eu nunca negoceio! Ganhei com maioria absoluta e o meu vereador para o pelouro do turismo em Sintra chamou-se dr. João Soares. E sabe o que é que ele tinha sido: presidente da câmara municipal de Lisboa. E sabe o que é que ele foi? Um grande embaixador de Sintra. E agradeço-lhe hoje como lhe agradeci ontem. Durante um tempo também foi meu vereador das finanças o dr. Domingos Quintas [PS], um grande vereador... São pessoas competentes e válidas e a gestão municipal pressupõe pessoas competentes e válidas. Os que o forem, toda a gente sabe que eu não olho a cores partidárias para as gestões municipais. Tenho também esta característica: como sou candidato, defino os princípios e os meus princípios não têm que ver com a minha cor ou a minha filiação, têm que ver com a minha responsabilização e essa, em Odivelas, passa por chamar todos porque todos são úteis para o desenvolvimento de Odivelas.

Que trunfos vê em Odivelas?

Odivelas tem a favor um dos elementos mais importantes no mundo de hoje: a demografia. Se é um concelho jovem, é um concelho apetecível. A Alemanha, por exemplo, tinha um problema de demografia e, viu-se a opção difícil de Angela Merkel, que com certeza será reconhecida eleitoralmente, de apostar no acolhimento de um conjunto de imigrantes. O que é que aconteceu? Recebeu um conjunto de imigrantes em idade ativa e jovens e, de repente, conseguiu estabilizar a demografia. Se pagam impostos, se pagam segurança social, então ajudam a equilibrar as contas, o que potencia a economia, o que por sua vez ajuda ao desenvolvimento da economia.

A natalidade é bem-vinda em qualquer autarquia mas traz também desafios.

Odivelas tem hoje a taxa mais alta de natalidade em Portugal e, tendo isso, qualquer presidente de câmara sabe que, daqui por quatro anos, esses bebés estão a bater à porta dos jardins de infância, e sabe que aqueles que já nasceram daqui a quatro anos estão a bater à porta do primeiro ciclo, e que aqueles que têm agora seis anos, como o meu neto do meio, estarão a bater à porta do segundo ciclo. Na lógica estratégica, se os netos crescem rapidamente - e nós nem vimos como eles crescem, só vemos isso pelos sapatos que temos de lhes comprar -, saberemos que a curto prazo em Odivelas haverá cada vez mais necessidade de apostar na educação. Temos de ter esta noção de que não se pode olhar para o presente não provendo o futuro. O futuro está ali e quem for eleito no próximo dia 1 de outubro sabe que, no dia 1 de outubro de 2021, os bebés de agora estarão a bater à porta [imitando o gesto], a perguntar: 'há aqui salas?'. E o mesmo vai acontecer com os que estão agora no segundo ciclo do ensino básico quando chegarem ao secundário. Com a escolaridade obrigatória efetiva isto já exigirá por todos os motivos uma redefinição do Parque Escolar.

É uma tarefa exigente?

Não é nada de extraordinário. É a mesma coisa que quando cheguei a Sintra e também foi preciso adaptar a câmara para o euro. Cheguei a Sintra e na altura ainda era com contos. [Imitando] 'Oh senhor presidente, acabámos de ter uma emissão de obrigações municipais de cinco milhões de contos'. E passado meses esses cinco milhões de contos eram 25 milhões de euros. Não tinha nada de extraordinário.

O desporto e o futebol são uma paixão racional e uma racional paixão. Ninguém me vai impedir issoTem dividido o seu tempo entre o Direito, como advogado e professor, o futebol e a política. Há alguma paixão que se destaque?

Em primeiro lugar, o Direito. Este regresso ao escritório fez-me muito bem, fez-me uma coisa muito importante: voltei a estudar. Odivelas é um desafio para mim próprio. Tive um pequeno problema de saúde e o pequeno problema de saúde resolvido ajudou-me a dizer: 'tens de acreditar'.

O desporto e o futebol são uma paixão racional e uma racional paixão. Ninguém me vai impedir isso. E digo o seguinte: Desde que fui o primeiro campeão escolar nacional de basquetebol no liceu de Viseu, em 1973, podem gostar ou não gostar, mas fui campeão. Depois entrei para a faculdade de Direito, entro ainda antes do 25 de Abril. Algumas pessoas nem têm noção mas vir para a faculdade de Direito antes do 25 de Abril era sentir o que era a falta de liberdade. Depois de estar empenhado na luta pela liberdade, de prestar serviço militar obrigatório no conselho da revolução, de ser membro da Alta Autoridade para a Comunicação, de ser presidente do Conselho Superior de Desporto, de ser deputado e no meio disso tudo continuar a ser professor e advogado e ter sempre local de recuo, sabe o que é que isso me dá? Liberdade. Essa é uma das minhas características: qualquer que seja o resultado, tenho local.

E como é que se faz a gestão de tempo? É difícil?

É difícil, sim. A família percebe, os amigos entendem e aqui é muito fácil explicar. Mas nestas últimas semanas tenho tido mais queixas dos meus netos.

Aos netos já é mais difícil explicar?

É, principalmente aos mais velhos. Mas isto significa o seguinte: há momentos para a família e há momentos para os amigos. Hoje [sexta-feira] ainda vou ter um momento para os amigos. E no fim de semana não vou deixar de me encontrar com os meus netos, até pelo seguinte: é tudo muito importante, mas nós sem família não temos âncoras, e sem amigos não temos barcos à nossa espera para nos ajudar a fugir das tempestades.

*Pode ler a segunda parte desta entrevista aqui.

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