Meteorologia

  • 24 ABRIL 2024
Tempo
15º
MIN 12º MÁX 24º
Vozes ao Minuto

Vozes ao Minuto

Vozes com opinião. Todos os dias.

"Vou acabar com os carros de luxo na câmara para comprar autocarros"

O candidato independente à Câmara Municipal de Matosinhos é o entrevistado de hoje do Vozes ao Minuto.

"Vou acabar com os carros de luxo na câmara para comprar autocarros"
Notícias ao Minuto

12/09/17 por Patrícia Martins Carvalho

Política António Parada

António Parada encabeça o Movimento de Cidadãos de Matosinhos – SIM, depois de, há quatro anos, ter sido o candidato do PS à mesma autarquia.

Desvinculado muito recentemente do partido, António Parada acusa Luísa Salgueiro de “não ter legitimidade” para ser a candidata do PS e atira ainda farpas aos elementos que compõem a lista da adversária socialista.

“São falsos independentes”, acusa, garantindo ainda que “nunca” mais voltará a filiar-se em nenhum partido.

Carros de luxo a servir a vereação de Matosinhos? Não. António Parada quer acabar com essa ‘tradição’ na autarquia, pois só assim se poderá servir as coletividades do concelho. A ideia é comprar autocarros para as deslocações das associações culturais do município.

Entre as medidas que António Parada tem em mente está ainda a criação de polos turísticos para fomentar a atividade económica no concelho, garantindo também  que todas as semanas vai receber os munícipes para ouvir as suas queixas e as suas propostas. Tudo porque, sublinha, quer ser um presidente próximo dos seus eleitores. 

Há quatro anos candidatou-se pelo PS e foi derrotado. Porquê recandidatar-se agora?

Porque me foi lançado um desafio por um conjunto de cidadãos de Matosinhos. Após alguma persistência, e depois de eu ter feito uma análise de quem compunha o grupo e quais as propostas que tinham, entendi que era um grupo desprendido de qualquer interesse e que só queria servir Matosinhos e então tive alguma dificuldade em dizer que não.

Porque é que teve dificuldade em dizer que não?

Porque Matosinhos merece mais. Já o pensava em 2013 e não mudei de ideias, bem pelo contrário. O que acontece hoje em Matosinhos reforçou aquilo que já era o meu projeto há quatro anos: dar um novo rumo e reafirmar o concelho.

Desvinculou-se do PS antes ou depois de Luísa Salgueiro ter sido apresentada como a candidata socialista?

Desvinculei-me antes, mas se fosse depois era igual. Não fui eu que quis ir, fui convidado várias vezes e não resisti a dizer que sim. E desvinculei-me do PS antes de dar a minha resposta porque considerei que não era justo estar dentro do partido a pensar numa candidatura independente.

Esperava que o PS o voltasse a convidar para assumir a candidatura socialista?

Nunca ponderei isso, nem pensava sequer em recandidatar-me. Disponibilizei-me há quatro anos e tudo decorreu num processo democrático. O que assisti agora, com grande tristeza, foi a concelhia escolher um candidato e este PS do Porto entender não respeitar a vontade da concelhia de Matosinhos e escolher outro candidato. Desautorizaram a concelhia de Matosinhos. E o PS anda em conflito desde essa escolha.

Lista da candidata do PS é composta por falsos independentesComo vê esta polémica?

Olhe, há quatro anos quando eu fui escolhido, num processo democrático, os independentes de então atacaram o PS dizendo que os partidos não serviam as pessoas e, na altura, fiquei magoado porque entendi que essas pessoas que saíram do partido não deviam atacar o PS. E são essas mesmas pessoas que atacaram o partido que foram rapidamente pedir ao partido para as readmitir outra vez.

Está a falar de quem?

Estou a falar da lista da candidata, da maioria deles. A lista é composta por 70% de independentes. Falsos independentes que se apresentaram na última eleição como independentes e que atacaram o PS e depois regressaram ao partido. Portanto, enganaram os eleitores, dizendo ‘votem em nós, os partidos não servem o interesse da população’ e agora apresentam-se pelo PS.

Nunca mais irei filiar-me em nenhum partido. Ficarei como independente para sempre

E Luísa Salgueiro?

A própria candidata fez parte da minha lista, fez campanha contra esses independentes, dizendo que não acreditava naquele projeto… e hoje diz que quer a continuidade. Ou seja, quer a continuidade daquilo que ela contrariou há quatro anos. É uma falta de coerência. Posso dizer, e afirmo, que nunca mais irei filiar-me em nenhum partido. Não quero defraudar os matosinhenses e, por isso, ficarei como independente para sempre.

Porquê? Está desiludido com os partidos?

Não estou desiludido. Acho é que não posso apresentar-me ao eleitorado como independente e depois fazer o mesmo que critico hoje. É uma questão de caráter. Para além da política há dignidade. Mas note, não tenho nada contra o PS, tenho muito orgulho no meu passado dentro do partido e não digo isto para ser simpático.

O CDS manifestou publicamente a vontade de apoiar a nossa candidatura porque se revia no nosso projetoMas a sua lista é apoiada pelo CDS…

Mas eu não sou candidato do CDS. O CDS manifestou publicamente a vontade de apoiar a nossa candidatura porque se revia no nosso projeto e, por isso, não fazia sentido apresentar um candidato próprio. A minha candidatura é uma candidatura de cidadania inclusiva com pessoas de vários quadrantes sociais, económicos, políticos e religiosos.

O candidato do PSD acusa-o, bem como a Luísa Salgueiro e a Narciso Miranda, de terem monopolizado o debate televisivo com problemas internos do PS.

Eu só respondi às questões que me colocaram.

Mas concorda?

Sim, sem dúvida que ocupou muito tempo do debate. Mas o tempo foi manifestamente curto.

Narciso Miranda também é um falso independente?

Ele não tem esse percurso, ele não saiu do partido e voltou. É diferente. Tem toda a legitimidade. Decidiu regressar agora depois de 30 anos na câmara e eu respeito.

Este regresso faz sentido?

Não quero fazer uma análise sobre isso. Respeito todas as candidaturas. Todo e qualquer cidadão livre, sem nenhum impedimento legal, tem direito a apresentar-se. Quem avalia se devia ou não regressar são os eleitores.

Voltando à polémica na concelhia de Matosinhos…

O que se nota é que a concelhia de Matosinhos foi desautorizada pela liderança distrital. O candidato escolhido pela concelhia de Matosinhos foi o doutor Ernesto Páscoa, mas o doutor Manuel Pizarro entendeu não aceitar. Por isso, a legitimidade da candidata do PS não é nenhuma, porque ela foi escolhida por militantes do distrito e não pelos militantes de Matosinhos.

Esta polémica pode baralhar os eleitores?

Não. As pessoas estão muito bem esclarecidas. Tenho andado na rua e ainda não tive uma pessoa que fizesse confusão entre nós. Há quem me diga que sempre votou PS mas que desta vez vai votar em mim. As pessoas sabem muito bem em quem votam e sabem porque é que uns saíram e porque é que outros entraram.

Já pedi a todos os candidatos a presidentes de junta que, se forem eleitos, guardem um lugar num gabinete para mim em cada freguesiaQue tipo de presidente se propõe a ser para os matosinhenses?

Vou ser um presidente próximo, com respostas imediatas. Aliás, já pedi a todos os candidatos a presidentes de junta que, se forem eleitos, guardem um lugar num gabinete para mim em cada freguesia. O presidente vai atender os seus concidadãos todas as semanas em freguesias diferentes. Vou ser um presidente de proximidade, saindo da zona de conforto da câmara municipal.

E quais são os grandes pilares da sua campanha?

O meu grande pilar é, sobretudo, rentabilizar o que temos hoje, isto é, os parceiros económicos públicos e privados que podem dotar o concelho de uma empregabilidade muito acima da média nacional.

Está a falar do quê exatamente?

Do nosso terminal de cruzeiros que não pode continuar como está. Hoje, chega um cruzeiro a Matosinhos e dezenas de autocarros transportam os turistas para outros destinos. Os turistas não saem para visitar Matosinhos. O que nós queremos não é competir com os outros concelhos, mas sim ter a nossa oportunidade e, para isso, temos que criar polos de atração turística.

E que polos seriam esses?

Criar os Passadiços do Leça em todas as suas margens para as pessoas poderem conhecer toda a sua riqueza histórica; criar o Museu das Conservas de Matosinhos para o qual já tenho, inclusivamente, parceiros e, por isso, não haverá investimento da autarquia; criar também o Museu do Mar que foi uma promessa feita há muitos anos e que nunca foi realizada. Temos também o Portinho das Eiras que está a ser construído e será um polo de atração turística porque as pessoas podem ver como é que se faz a pesca tradicional; podemos também promover as obras de Siza Vieira. Basicamente temos de captar investimento na área do turismo e fixar as nossas empresas.

Bombeiros vão ter desconto em todas as taxas e licenças municipais e, os que vivem em edifícios da câmara, terão desconto na renda de 30%Outra medida que já anunciou prende-se com os apoios sociais aos bombeiros…

Sim, sim. Vamos criar um regulamento nos primeiros 120 dias do mandato que vai permitir aos nossos bombeiros terem um desconto em todas as taxas e licenças municipais de 20%, mas não só. Os soldados da paz vão ter também acesso gratuito a iniciativas de caráter desportivo patrocinadas pela câmara, vão ter desconto de 20% no acesso a edifícios municipais e, como uma parte deles mora em bairros sociais, que são propriedades da câmara, vão ter um desconto na renda de 30%.

Porquê proporcionar estes apoios aos bombeiros?

Porque servem a comunidade sem benefícios próprios. Eles também têm de ter um carinho, têm de ter o poder político a reconhecer o seu mérito e o seu esforço. Esta é uma forma. Sendo que também vamos oferecer-lhes um seguro de vida e de saúde, porque eles correm muitos riscos em benefício da comunidade e depois se ficam feridos e não podem ir trabalhar é rendimento que perdem. Assim não perderão rendimento nenhum.

Pode garantir que essas medidas entram em vigor nos primeiros 120 dias do seu mandato?

Posso garantir que até ao 120.º dia do meu mandato a proposta será levada à Assembleia Municipal para ser discutida e aprovada.

Luísa Salgueiro tem também uma proposta para beneficiar os bombeiros e os seus descendentes diretos…

A doutora Luísa Salgueiro tem esta medida há meia dúzia de dias. Eu fiz a apresentação da minha proposta há semanas… São coincidências…

Falou no turismo, nas empresas, nos bombeiros… e a cultura?

A cultura é também muito importante. Hoje importamos muita cultura, mas temos de apostar no que é nosso. Temos os ranchos folclóricos, as bandas, os artesãos… temos de os apoiar.

A prioridade deste executivo camarário parece ter sido comprar carros de luxo e eu vou trocá-los por autocarrosE como é que pretende fazer isso?

Olhe, ao invés de ter carros de topo de gama na garagem da câmara vou ter carros de média gama ou baixa gama a servir a vereação. Vou acabar com as viaturas de alta gama e vou comprar autocarros para servir a nossa comunidade. É que a prioridade deste executivo camarário parece ter sido comprar carros de luxo e eu vou trocá-los por autocarros e, assim, no final do ano, as associações vão pedir menos subsídios à câmara porque vão poupar nas suas deslocações, pois não terão de alugar autocarros.

E o carro do presidente?

O carro do presidente também não vai ser de alta gama. A câmara não pode dar-se a esses luxos. Não se pode gastar, suponhamos, 350 mil euros em carros e não ter carros para transportar as nossas coletividades. A prioridade não pode ser servir o luxo. Quem quer ter luxo tem de o ter por conta própria, quem quer ter carros de luxo tem de os comprar com os seus próprios meios.

Campo obrigatório