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"As pessoas andam completamente descuidadas, arriscam desnecessariamente"

No dia em que arranca a época balnear na maioria das praias portuguesas, o entrevistado do Vozes ao Minuto é o comandante Paulo Sousa Costa, diretor do Instituto de Socorro a Náufragos.

"As pessoas andam completamente descuidadas, arriscam desnecessariamente"
Notícias ao Minuto

01/06/17 por Patrícia Martins Carvalho

País Paulo Sousa Costa

Portugal tem cerca de 110 quilómetros de areal vigiado e 350 quilómetros de areal não vigiado, sendo que as praias nacionais são visitadas, na época balnear, por cerca de 63 milhões de portugueses e 12 milhões de estrangeiros, o que são razões mais do que suficientes para apostar na prevenção e nos meios de salvamento nas praias.

O comandante do Instituto de Socorro a Náufragos disse ao Notícias ao Minuto que há nadadores-salvadores em número suficiente para garantir a segurança balnear nas praias vigiadas. Mas e as praias não vigiadas? Neste caso não há nadadores-salvadores, mas há outras estratégias em curso que têm como objetivo salvar vidas.

Recordando as mortes que ocorreram no início do mês de maio, o comandante acusou as pessoas de agirem com certa “incúria” e de não obedeceram às indicações de segurança que lhes são dadas, considerando que "andam completamente descuidadas junto ao mar”, faltando-lhes a necessária “cultura de segurança”. 

Quando é que arranca a época balnear?

No grosso do país arranca a 1 de junho, mas há zonas onde começa mais cedo. Em Cascais, por exemplo, começou a 1 de maio e no Algarve, em grande parte das praias, arrancou a 15 de maio. A verdade é que não há um dia fixo para o início da época balnear.

Faria sentido se fosse uniforme em todo o país?

Não. No Algarve faz sentido abrir mais cedo, porque o bom tempo chega mais cedo. No Norte, por exemplo, não faria de todo sentido, pois o bom tempo chega mais tarde. Não faria sentido colocar nadadores-salvadores numa praia onde não há banhistas porque ainda está frio.

E o inverso aplica-se ao encerramento da época balnear.

Sim. O final da época balnear é quase todo a 30 de setembro, mas em locais como o Algarve, por exemplo, só chega ao fim em meados de outubro.

Como é que são definidas as datas para o arranque da época balnear?

Há um grupo de trabalho que reúne previamente no qual estão representantes das autarquias, da Bandeira Azul, da Agência Portuguesa do Ambiente, da Direção-Geral da Autoridade Marítima e depois são as autarquias que fazem as propostas da altura em que querem abrir as praias.

Tem de haver um cuidado imenso por parte das pessoas nesta altura do início da época balnearQuais são os maiores riscos inerentes aos primeiros dias de praia?

Tem de haver um cuidado imenso por parte das pessoas nesta altura do início da época balnear porque as areias ainda não assentaram, não houve estabilidade em termos das correntes da água do mar e dos ventos e existem os agueiros que levam as pessoas para longe da costa.

E nas praias fluviais?

Aqui são as correntes, pois são correntes que vão de nascente para vazante. E não esquecer que é proibido tomar banho junto à barragens.

Quantas pessoas já morreram afogadas este ano?

Desde o início do ano até ao início da época balnear morreram 21 pessoas, entre pessoas que caminhavam na areia molhada e foram arrastadas por uma onda, pessoas que pescavam e caíram nas rochas, praticantes de bodyboard…

Se me dissesse que tinham morrido 21 pessoas durante a época balnear nas praias vigiadas isso sim seria um número elevadoPode considerar-se um número elevado?

Não. Se me dissesse que tinham morrido 21 pessoas durante a época balnear nas praias vigiadas isso sim seria um número elevado. O que temos de fazer é perceber os motivos para este número.

Pode falar-se, em alguns casos, de inconsciência das pessoas?

A verdade é que, na maior parte das vezes, há incúria por parte das pessoas que não têm uma cultura de segurança e acabam por provocar estas mortes. Houve o caso de um casal de idosos que morreu na Nazaré porque foi caminhar para a areia molhada na praia, mesmo depois de lhe ter sido dito para não o fazer. As pessoas andam completamente descuidadas e arriscam desnecessariamente.

As pessoas devem arriscar e atirarem-se à água para salvar quem está em apuros?

É difícil responder. Cada pessoa tem de saber quais são as suas capacidades físicas e analisar o estado do mar para perceber se tem, ou não, capacidade para salvar alguém sem se colocar em risco.

Não basta saber nadar para salvar alguém. Há uma série de procedimentos

Basta saber nadar para salvar alguém?

Não. É preciso saber o que fazer. Uma pessoa tem que chegar junto ao náufrago dizer-lhe para se acalmar, virá-lo de costas, agarrá-lo pela cintura, colocar a cabeça dela acima do ombro, fazer uma natação de costas… há uma série de procedimentos que devem ser feitos.

Numa praia vigiada existem os nadadores-salvadores. Mas e numa praia não vigiada? A quem se deve recorrer em caso de afogamento?

Os banhistas devem ligar para o 112, pois o Instituto de Socorro a Náufragos (ISN) tem uma estratégia para colmatar a ausência de nadadores-salvadores em algumas praias.

Quando há um incidente nas praias não vigiadas, os banhistas devem ligar ao 112 Em que consiste essa estratégia?

Passa por parcerias com entidades privadas. Por exemplo, temos uma parceria com a SIVA que consiste na cedência ao ISN de 28 viaturas equipadas com todos os meios de salvamento durante a época balnear. Temos outra parceria com a Vodafone em que nos são cedidas motos 4x4 e motos de água. Estas viaturas são conduzidas por elementos da Marinha. Assim, quando há um incidente nas praias não vigiadas, os banhistas devem ligar ao 112 que, por sua vez, entra em contacto com a Polícia Marítima que reencaminha estas viaturas para os locais onde são precisas.

Quantos nadadores-salvadores são precisos para esta época balnear?

Em termos de praias marítimas as necessidades apontam para 1.236 nadadores-salvadores, nas fluviais são necessários 158. No total, e tendo em conta o que é estabelecido pela legislação – dois nadadores-salvadores por cada 100 metros e mais um por cada 50 metros – são necessários 1.394 profissionais. Mas ainda é preciso cerca de mais um terço para equilibrar os dias de folga. Eu diria que a necessidade real é de 1.860 nadadores-salvadores.

E quantos existem em Portugal?

Este ano já certificámos 608 nadadores-salvadores que tiraram agora o curso, mas também renovámos a certificação a outros 311 e estimamos que vamos certificar – com os cursos que ainda vão decorrer – mais 650 alunos. Somando estes números a todos os que temos na base de dados, atualmente em Portugal temos 5.241 nadadores-salvadores certificados, mas admito que consigamos chegar, durante esta época balnear, perto dos 5.900.

Se não tiverem nadadores-salvadores não podem ter a concessão abertaQuem é responsável pela contratação dos nadadores-salvadores?

Os concessionários da praia. Em contrapartida, para lhes serem atribuídas concessões, eles devem contratar nadadores-salvadores. Se não tiverem nadadores-salvadores não podem ter a concessão aberta.

Onde são lecionados os cursos para nadadores-salvadores?

Até ao ano passado eram da responsabilidade da Escola da Autoridade Marítima, mas desde o ano passado passaram para a alçada de escolas privadas. Estas escolas dão os cursos e, no final, após a realização do Exame Específico de Aptidão Técnica, a certificação é dada pelo ISN.

Quais são os requisitos necessários para se ser nadador-salvador?

Em traços gerais, os candidatos devem ter mais de 18 anos, ter a escolaridade mínima obrigatória, ter uma declaração médica que atesta terem a condição física para o desenvolvimento da atividade, realizarem exames físicos e, não tendo de ser portugueses, têm de falar um português fluente e ter conhecimentos básicos de inglês.

Face a estes requisitos, qual é o perfil do nadador-salvador português?

Os nossos nadadores-salvadores são, na maioria, estudantes que procuram um emprego de verão. Normalmente trabalham dois ou três anos e depois não voltam à atividade. E depois há uma pequena percentagem de nadadores-salvadores que fazem isto a vida inteira.

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