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Aeroporto do Montijo: "Deve existir um barco por cada avião que chega"

O Presidente da Câmara do Montijo, Nuno Canta, é entrevistado de hoje do Vozes ao Minuto.

Aeroporto do Montijo: "Deve existir um barco por cada avião que chega"
Notícias ao Minuto

23/05/17 por Inês André de Figueiredo

País Nuno Canta

O Aeroporto do Montijo é quase uma realidade, sendo que apenas se aguardam estudos de aprofundamento. Pretende-se que sirva de complemento ao Aeroporto Humberto Delgado, havendo um foco nas companhias aéreas low cost que têm contribuído em muito para o aumento de turismo na capital portuguesa e no país. 

O Governo está do lado do Montijo e, segundo o presidente da Câmara da cidade, os cidadãos não se opõem, até pelo contrário. Já os comunistas manifestam-se contra a escolha e garantem que não é uma opção a pensar no futuro. 

Nuno Canta, presidente da Câmara Municipal do Montijo, esteve à conversa com o Notícias ao Minuto e garantiu que a cidade se está a preparar para a chegada desta infraestrutura, tendo em conta que um aeroporto mudará a vida da cidade.

Lisboa precisa de um novo aeroporto. Alcochete foi uma opção mas Montijo está, neste momento, claramente na frente da corrida. A cidade está preparada para receber uma estrutura desta envergadura?

Nós estamos a preparar-nos para isso. Mas sobre o processo que referiu relativamente a Alcochete e ao Montijo, o enquadramento ser Montijo tem a ver com uma decisão do Governo atual e nós estamos de acordo como é claro, o que leva a que a opção seja não construir um grande aeroporto a sul do Tejo, mas sim continuar a ter o Aeroporto Humberto Delgado e um aeroporto de apoio na Base Aérea N.º 6 do Montijo. É nesse sentido que essa estratégia está agora decidida pelo Governo e, portanto, o Montijo aparece como a grande opção para fazer essa ligação e essa complementaridade à antiga Portela. Quanto à preparação da cidade, sim, a cidade está a preparar-se para isso do ponto de vista do impacto que vai ter ao nível do desenvolvimento do território e ao nível das infraestruturas que são necessárias para acolher um aeroporto.

A ANA e o Governo já assinaram o memorando para estudar esta obra. Estão reunidas as condições para a resposta ser favorável ao Montijo?

Neste momento penso que a decisão relativamente à localização do Montijo como o tal complemento a Lisboa está tomada. No fundo, garantir o aumento da capacidade aeroportuária de Lisboa, que é um problema nacional que o Governo tem de resolver, porque grande parte do desenvolvimento económico do país tem passado pelas expressões turísticas e, nesse sentido, hoje em dia, a região de Lisboa tem uma limitação muito forte no crescimento turístico por via da limitação do Aeroporto. Há que continuar esta estratégia para o futuro.

Vários estudos e avaliações provaram que esta é a localização mais adequada e a que garantirá esse aumento da capacidade aeroportuária nos próximos 50 anos. Depois há algumas avaliações que dizem que é por menos ou mais anos, mas o que importa é que os estudos demonstram que os próximos 50 anos estão assegurados neste progresso da capacidade aeroportuária da região de Lisboa. Isto é uma questão que tem interesse nacional.

Relativamente a nós, à região e ao Montijo, o nosso interesse é o desenvolvimento económico e particularmente a redução das assimetrias económicas entre a margem norte do Tejo e a margem sul. É preciso que haja também políticas e investimentos no sentido da coesão da região de Lisboa e tenho sublinhado muitas vezes que este é um desenvolvimento estratégico para a região e para o Montijo.

O PCP neste momento está no lado errado da históriaSendo este aeroporto importante nacional e regionalmente, parece haver um consenso político para o ‘sim’ ao Montijo, mas os comunistas defendem que a Base Aérea N.º 6 “não é a solução de que o país precisa” e que, mais cedo ou mais tarde, os problemas voltarão. Como reage a esta posição?

Eu penso que o PCP neste momento está no lado errado da história e essa é uma situação que não tem sentido, tendo em conta a estratégia que o país adotou. Claro que se tivéssemos uma estratégia como a do desmantelamento do Aeroporto Humberto Delgado e de um grande aeroporto a sul, isso fazia sentido, mas neste momento essa estratégia não está em cima da mesa. O que está em cima da mesa é manter a antiga Portela como aeroporto de Lisboa e, obviamente, haver um aeroporto que garanta o aumento da capacidade aeroportuária.

Penso que a questão é mais de um ponto de vista político em termos de eleições autárquicas. Aqui a ideia é estar contra a decisão ou pelo menos a opção que o Montijo faz em apoiar a posição do Governo, no fundo é uma questão mais política do que estratégia para a região. Este aeroporto aqui no Montijo, no coração da região de Setúbal, terá efetivamente um impacto e desenvolvimento económico que não teria um outro aeroporto.

Mas é claro para os autarcas da região que a chegada deste aeroporto, independentemente do sítio, irá ajudar a zona?

Para nós é muito claro isso, mas parece não ser para os autarcas comunistas. Nós somos a única câmara municipal da região de Setúbal que não é comunista e, no fundo, são todas as outras contra nós. Isto mostra claramente uma instrumentalização das câmaras em termos políticos, compreendemos isso e nas autárquicas acaba por ser uma 'dessintonia' entre partidos, mas acontece e é natural.

A autarquia será responsável por alguma parte do investimento que está avaliado em 15 milhões de euros?

Não, todo esse investimento foi colocado junto da ANA Aeroportos como a necessidade de construir infraestruturas para que o Montijo consiga acolher com alguma qualidade toda esta estrutura aeroportuária. Nós colocámos isso do lado dos investimentos que a ANA Aeroportos terá de fazer. Era uma das questões que não estava nos memorandos que apareceram inicialmente, ainda com o anterior governo. Este memorando acede a essa questão relativa à necessidade de a ANA Aeroportos discutir com as câmaras - Lisboa e Montijo - necessidades infraestruturais para acolher este aeroporto.

Infraestrutura aeroportuária será integralmente paga pela ANA AeroportosEstá a dizer que mesmo as infraestruturas de ligação entre o Montijo e Lisboa serão pagas pela ANA...

Sim, sim. Tudo isso é um investimento da ANA Aeroportos e isso ficou imediatamente referido e faz parte do memorando que clarifica essa questão, relativamente à necessidade de que esta infraestrutura aeroportuária será integralmente paga pela ANA Aeroportos, quer sejam as infraestruturas do município do Montijo, quer sejam as infraestruturas do município de Lisboa e as ligações que terão de ser feitas.

Nós, obviamente, mesmo na prévia discussão sobre a localização nas diferentes bases aéreas que estiveram em jogo - Sintra, Montijo e Alverca -, colocámos logo à cabeça que havia necessidade de fazer uma infraestruturação da cidade que rondava os 15 milhões de euros. Dissemos logo desde o início e clarificámos muito bem a nossa posição.

Em termos práticos, o aeroporto do Montijo estaria focado nas viagens de companhias low cost. Esta continua a ser a ideia?

Continua a ser a ideia. O grande progresso turístico, o crescimento, as aterragens e descolagens no Humberto Delgado e nos restantes aeroportos do país têm sido muito à conta das companhias low cost e, portanto, essa é a grande vertente aeroportuária que está a crescer, e daí a necessidade de ter um aeroporto de apoio à Portela onde o Montijo aparece como elemento fundamental.

Uma das decisões técnicas para que seja o Montijo é que a pista que se pondera otimizar seja paralela ao Aeroporto Humberto Delgado, o que permite uma operação simultânea de dois aviões.

Poderá haver ainda diferenciação de taxas entre o Aeroporto Humberto Delgado e o Aeroporto do Montijo e nessa diferenciação o Montijo tornar-se-á muito competitivo até para outro tipo de voos, nomeadamente de cargas. Mas o que está inicialmente previsto são os low cost.

A pista de que falou tem sido outro dos motivos de discórdia, porque surge a ideia de que a pista é pequena para um aeroporto com as dimensões esperadas. No investimento estão previstas estas mudanças?

O investimento para o aeroporto rondará os 400/500 milhões de euros e, relativamente à pista, há muitos pilotos que dizem que a pista poderá ser uma limitação, mas também há quem diga que não é limitação nenhuma. Mas, efetivamente, a segurança é um ponto assente que nem sequer se discute. Se for necessário alargar a pista eventualmente terá de ser feito um projeto nesse sentido, serão avaliados os impactos ambientais e será realizado ou não conforme as decisões de acordo com a lei.

Barcos deverão ser panorâmicos e todo o turismo ligado ao estuário e às travessias do estuário poderá ser incentivadoE, sendo que a ligação entre o aeroporto do Montijo e Lisboa é fundamental, o que está pensado em termos de transportes terrestres e fluviais?

Nos transportes terrestres o que está pensado é um shuttle entre o Aeroporto do Montijo e o Aeroporto Humberto Delgado. Um shuttle de autocarro, até se falam em autocarros mais rápidos do que os normais de modo a fazer uma ligação bastante eficaz entre um aeroporto e outro. Depois, obviamente, haverá todo o tipo de transportes, quer por companhias de transportes públicos, quer por táxis, etc. Tudo isso será muito desenvolvido, mas onde a cidade aposta mais é no transporte fluvial.

Achamos que deve existir um barco por cada avião que chega e vai haver necessidade de haver um aumento significativo de barcos e ligações a Lisboa e, mais do que tudo, dizemos que este transporte deve ser panorâmico, criando logo à partida uma ligação dos turistas com o estuário e com Lisboa. A partir dessa ideia de barcos panorâmicos achamos que todo o turismo ligado ao estuário e às travessias do estuário poderá ser incentivado e uma mais valia económica para a região de Lisboa.

A ideia é rapidamente chegar aos 10 milhões de passageiros transportados, e criamos logo 10 mil empregos diretos, mais os indiretos Quais os maiores benefícios deste aeroporto para o Montijo no que toca a empresas e população?

Relativamente a empresas o que achamos é que o aeroporto low cost tem aqui associadas viagens de mais baixo-custo, o que permite que algumas empresas com tecnologia mais elevada possam estar associadas a estes aeroportos e achamos que este aeroporto vai ter um grande impacto nesse tipo de indústrias e que permitirão fixar-se no Montijo e estarem na proximidade do aeroporto e obviamente na proximidade de todos os países da Europa. No fundo, isto é um nicho que achamos que vai ser fundamental.

Depois temos todo um setor exportador do Montijo, da agro-indústria e da floricultura, que são setores muito fortes na região do Montijo e que exportam muito para fora e que poderão aproveitar este aeroporto, daí a ideia do aeroporto que terá carga, porque, efetivamente, a partir daqui, existe muita diversidade de transporte.

Com o emprego que o aeroporto gera, nomeadamente, com cada milhão de passageiros transportados são criados cerca de mil empregos e a ideia é rapidamente chegar aos 10 milhões de passageiros transportados, e criamos logo 10 mil empregos diretos, mais os indiretos que se criam por toda esta situação, porque haverá atração e fixação de pessoas. Não haverá só empregos que façam com que as pessoas venham para a cidade do Montijo, como também as pessoas que moram na cidade que terão oportunidades de emprego. Estas serão as grandes linhas de desenvolvimento do aeroporto. A hotelaria será outra linha, já há grandes interesses nesse sentido que começam a ser tratados e será um grande progresso em termos de número de camas que se esperam que venham a ser construídas no Montijo.

A população em geral manifesta uma certa aceitação em relação ao aeroporto, para não dizer uma grande satisfaçãoTendo em conta toda essa oferta de emprego, acredita que os habitantes concordam consigo e acham que a construção do aeroporto é o melhor para a cidade?

Penso que não temos encontrado muitas pessoas no Montijo, e mesmo em Alcochete, contra o aeroporto, tirando os autarcas comunistas que são os únicos que estão contra. A população em geral manifesta uma certa aceitação, para não dizer uma grande satisfação. Há uma espécie de movimento de aceitação desta questão. Esta infraestrutura vem reabilitar um passado da cidade que foi glorioso e que se projeta no aeroporto para o futuro. Não encontra muita gente do Montijo que esteja contra.

Acredita que a decisão do estudo de aprofundamento sobre o aeroporto virá a tempo das eleições autárquicas de outubro?

Esse estudo está a ser realizado e penso que não estará pronto a tempo das eleições autárquicas, mas a decisão está tomada. Esse estudo só poderia ser feito após a decisão da localização, e já está a ser feito, mas há necessidade agora estudar os impactos ambientais para o Montijo.

No fundo, há um interesse nacional em ter esta infraestrutura o mais rápido possívelO ministro do Planeamento e Infraestruturas mostrou-se confiante de que o aeroporto pode começar a ser construído em 2019. As expectativas estão muito elevadas?

Eventualmente. Não sei, há aqui um problema que é necessidade ou urgência na construção do novo aeroporto de forma a não prejudicar o grande desenvolvimento económico que o turismo tem trazido a Lisboa e isso é um desígnio nacional. No fundo, há um interesse nacional em ter essa infraestrutura o mais rápido possível e, por isso, um calendário que tem de ser o mais cumprido possível. Agora, por vezes há atrasos, por vezes há antecipações. O ministro Pedro Marques já falou que, efetivamente, este memorando antecipa em alguns anos o que estava previsto. Mas a evolução de turistas a chegarem e a partirem de Lisboa tem aumentado, logo, a urgência na construção torna-se imediata.

Se o aeroporto do Montijo se tornar real, e tudo indica que sim, como vê a cidade daqui a uns anos?

Vejo a cidade do Montijo como uma cidade que mantém a sua identidade, irá reforçar a sua cultura de sempre, ligada à chegada e partida de pessoas e, no fundo, ao turismo. A identidade do Montijo irá ser mais reforçada e isso é um objetivo claro da Câmara, que este aeroporto não descaracterize a cidade, não prejudique do ponto de vista da qualidade de vida mas que seja aproveitado no sentido da melhoria da qualidade e do ordenamento do território e esse é um aspeto difícil, mas faz-se com inteligência e com visão de futuro.

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