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"'Geringonça' é jogo de Excel difícil de fazer, mas tem resultado"

O líder do PAN, André Silva, que na última legislatura se estreou como deputado na Assembleia da República, é o entrevistado do Vozes ao Minuto desta semana.

"'Geringonça' é jogo de Excel difícil de fazer, mas tem resultado"
Notícias ao Minuto

21/09/16 por Notícias Ao Minuto

Política André Silva

O Notícias ao Minuto conversou com André Silva no rescaldo da sua primeira, mas intensa experiência no Parlamento*. A assessora, que nos acompanha, garante que é o primeiro a chegar e o último a sair da Assembleia. Não admira, o PAN apresentou até agora, formalmente, cerca de 70 iniciativas legislativas. Atesta que é levado a sério. Se assim não fosse “não havia tanta resistência e argumentos falaciosos” quando se fala em, por exemplo, acabar com as touradas.

Ficou supreendido com o resultado do PAN das eleições legislativas?

Não. Tínhamos a sensação clara nos últimos anos de que estaríamos cada vez mais a chegar a mais cidadãos. E o resultado das eleições autárquicas e das eleições europeias, antes das legislativas, davam essa indicação. Obviamente que sabíamos que era extremamente difícil entrar na Assembleia da República, há 20 anos que não entrava uma nova força. De qualquer forma, sabíamos que era possível e por isso apontámos como objetivo a eleição de dois deputados, um pelo círculo de Lisboa, outro pelo Porto. 

Como está a ser trabalhar 'sozinho' na Assembleia da República, sem bancada parlamentar?

Está a ser a confiança que os portugueses depositaram em nós que nos conferiu um elevado espírito de missão e de responsabilidade que tem resultado num intenso trabalho e que se deve essencialmente a uma equipa reduzida mas extremamente empenhada. Isso deve-se ao apoio externo das entidades, agentes sociais, organizações não governamentais, com quem costumamos reunir com frequência, porque são especialistas e técnicos. E também há possibilidade de convergir e fazer pontes com outros grupos parlamentares. Por vezes não é fácil, mas tentamos que essa comunicação se dê, porque isso muitas vezes não ocorre no Parlamento. 

O PAN tem ideias muito próprias, uma forma de fazer política diferente, tem ideias que não se categorizam na velha distinção entre Esquerda e Direita. É pouco provável uma situação coligacionista

Vê como projeto futuro do partido uma possível coligação com outros partidos?

Nunca esteve nem está em cima da mesa. O PAN tem ideias muito próprias, uma forma de fazer política diferente, tem ideias que não se categorizam na velha distinção entre Esquerda e Direita. É pouco provável uma situação coligacionista. Há posições de principio que nós temos que serão difíceis de se adequar num partido de Direita e de Esquerda.

Como foi para si o primeiro dia de trabalho na Assembleia da República? Sentiu-se como alguém no primeiro dia de aulas, numa escola onde nunca tinha entrado?

Foi interessante. É como chegar a qualquer sítio novo, a pessoa adapta-se. Pedimos informação. Foi e está a ser desafiante, processos novos, burocracia completamente diferente, adaptação ao regulamento, a toda a forma regimental de trabalho parlamentar, que é diferente de tudo o que encontrei fora da Assembleia. É um trabalho muito específico aquele que se faz aqui e só isso mereceu alguns meses de adaptação. Só a partir de março/abril é que as coisas começaram a fluir. Isto é, a perceber-se como as coisas funcionam aqui.

E que implicações é que a atividade parlamentar teve na sua vida pessoal?

Teve implicações a dois níveis. Por um lado, a dedicação a que o volume de trabalho obriga. As causas e temas que não eram debatidos até a entrada do PAN roubam-me algum tempo da minha vida pessoal e quero, pelo menos nesta nova sessão legislativa, conseguir reduzir um bocadinho o horário de trabalho. Vou falar com a minha entidade patronal [risos].

Até porque o PAN teve uma intensa atividade parlamentar…

Sim. Na última sessão legislativa, apresentámos cerca de 40 iniciativas legislativas, entre projetos de lei e projetos de resolução. E no Orçamento do Estado foram 28 propostas de alteração. Iniciativas formais foram cerca de 70.

O continuar a ter o contacto com o exterior e o receber de dezenas e dezenas de entidades e associações é um banho de realidade. Há certas e determinadas realidades que têm de ser estudadas

E não estava à espera disso?

Estava, mas como é o primeiro contacto. Não é que tenha sido surpreendido ou que tenha superado as minhas expetativas, mas é uma constatação esta de que há uma série de determinados temas que sou obrigado a aprofundar e que por isso estou a aprender. 

Qual é a sua visão do panorama político atual?

É possível e desejável que exista mais comunicação e mais compromisso da parte dos grupos parlamentares. Tudo aquilo que é de facto relevante e estruturante precisa de compromisso. Só que os compromissos nunca são assumidos legislatura após legislatura. Não temos nenhum compromisso para a justiça a longo prazo, a duas, três décadas, não temos um compromisso para a educação, por exemplo. Acho que é extremamente importante os políticos, não só o Governo, começarem a pensar em soluções a longo prazo para o país. E isso tem que ver com o resultado das eleições, em que os portugueses disseram ‘não, não queremos uma maioria absoluta. Queremos que exista convergência, pontes, diálogo e entendimento’. Esta situação de termos um partido que se vê obrigado a dialogar constantemente com outros dois partidos é extremamente importante na medida em que temos um Governo menos afirmativo - chamemos-lhe assim para ser simpático -, e mais dialogante. Há um maior jogo de cintura do partido que está no Governo que é menos impositivo. Penso que a democracia assim funciona melhor.

Que balanço faz da 'Geringonça', enquanto solução governativa encontrada após eleições?

É um balanço positivo. Ao contrário do que muitos vaticinavam, tem conseguido levar a bom porto aquilo que é um exercício difícil mas que é o sacrifício que os portugueses exigem, que é o diálogo constante e de encontrar pontes e equilíbrios dentro de uma situação que é difícil. É um jogo de Excel difícil de fazer mas que tem resultado neste primeiro ano. E aquilo que se espera é que continue a existir, da parte dos partidos que suportam o Governo, esta responsabilidade em manter o Governo. Se tempos difíceis se avizinham, em termos da aprovação do próximo Orçamento do Estado, todos os compromissos, todos os casamentos, se testam precisamente em momentos difíceis. Poderemos estar a atravessar um momento mais desafiante, em setembro e em outubro um pouco mais quente do que o normal. Aquilo que o PAN espera é que os partidos continuem com a missão de responsabilidade.

Relativamente ao Orçamento do Estado, o voto do PAN poderá ser decisivo caso PCP vote contra, como já deu a entender que poderia fazer...

Não creio que o Partido Comunista delegue ao PAN a responsabilidade de aprovar um Orçamento do EstadoSe isso acontecer, o PAN estará pronto para assumir essa responsabilidade. O PAN é um partido responsável e saberá responder a cada momento, a uma resposta que tenha de dar.

Ser responsável significa votar favoravelmente?

Não. Ser responsável é colocar em cima da mesa determinadas medidas que ajudem o Governo a melhorar o Orçamento do Estado, naquilo que é a gestão de dinheiros públicos, naquilo que é a preservação da biodiversidade, impactos diretos na vida das pessoas, na procura de relações mais harmoniosas com outras formas de vida, medidas que visem aprofundar a proteção e o bem estar animal. Há uma série de medidas que o PAN proporá e espera que do lado dos partidos que apoiam o Governo, mas sobretudo do PS, que haja uma escuta ativa e um acompanhamento dessas medidas. Iremos aguardar pelo documento da proposta de Orçamento e, em função disso, formularemos um sentido de voto que não achamos muito responsável dizer nesta altura, sem conhecermos esse documento.

*Pode ler a segunda parte desta entrevista aqui.

 

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