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"Sou muito exigente e picuinhas. Alguém tem de ser assim, calha-me a mim"

César Mourão esteve à conversa com o Notícias ao Minuto.

"Sou muito exigente e picuinhas. Alguém tem de ser assim, calha-me a mim"
Notícias ao Minuto

04/03/19 por Mariline Direito Rodrigues

Fama César Mourão

César Mourão é um nome incontornável do humor em Portugal. Este domingo, apresentou a grande final do programa da SIC - 'Lip Sync' - ao lado de João Manzarra, um desafio que não estava à espera, mas que o deixou muito realizado. 

Orgulha-se do seu percurso, das escolhas que fez na vida. De ter feito o ensino secundário novamente só para poder fazer jus ao talento da representação. 

Entrou no Chapitô, logo à primeira, numa altura em que os artistas ainda não eram vistos com bons olhos, ou como refere, em que a profissão "não estava na moda".

Em 2000, juntamente com Ricardo Peres e Carlos M. Cunha, fundou os Commedia a la Carte, grupo de improviso que ainda hoje continua a encher salas de todo o país. 

Pai de dois filhos, Mariana, de 10 anos, fruto de um relacionamento anterior, e de um menino, de quase três meses, da sua relação com Joana Lousão, é neles que César vê o seu futuro.

O 'Lyp Sync' correu muito bem, era um programa descomprometido, não queria ser mais do que aquilo que eraComo foi apresentar o ‘Lip Sync’?

Há várias formas de responder a essa pergunta. Uma, em termos de audiências foi incrível, porque recuperámos bastante. O programa em si também correu muito bem, era descomprometido, não queria ser mais do que aquilo que era - um programa de 'lip sync' - de coisas que fazemos quando estamos em casa sozinhos. Houve coreografias de bastante rigor, difíceis e as pessoas entregaram-se e deixaram-se levar. É um formato muito vencedor no estrangeiro, nos Estados Unidos é impressionante, e aqui também acabou por resultar muito bem.

Estava com receio de que isso não acontecesse, que as pessoas não percebessem bem a ideia do programa?

Não estava com receio. Primeiro o Daniel Oliveira, de quem eu tenho a sorte de ser amigo, tem apostado muito em mim desde que comecei na SIC, e, obviamente, não seria eu agora a dizer-lhe que o formato não era bem a minha cara. Ou seja, foi uma surpresa para mim tê-lo feito, mas diverti-me imenso com o João e com tudo o que se passava no programa. 

Nós costumamos dizer que o João [Manzarra] dá-se tanto à morte que as pessoas acham que ‘estás sempre a bater ou a gozar com o João’Como é trabalhar com o Manzarra?

O João é uma pessoa de trato muito, muito fácil. Tem muito bom feitio. Nós costumamos dizer que o João dá-se tanto à morte que as pessoas acham que ‘estás sempre a bater ou a gozar com o João’. Ele é essa pessoa, ele próprio diz que se dá a essa brincadeira. Há que aceitar como ele é, sem grandes preocupações, sem grande pressão, para ele está sempre tudo bem. Mas depois é também uma pessoa rigorosa de certa forma, mas é um rigor muito diferente, um rigor do João. Aceita primeiro e só depois faz as perguntas. Eu não, sou o contrário.

Eu sou muito exigente, muito intransigente, muito picuinhas com os pormenores 

E como é trabalhar com o César Mourão?

Eu sou muito exigente, muito intransigente, muito picuinhas com os pormenores. Preocupo-me com a plateia, por exemplo. Vou a esses pormenores em vez de estar única e exclusivamente preocupado com o programa, preocupo-me com o programa de A a Z. Acaba por ser uma dificuldade trabalhar comigo, porque tenho esse feitio de questionar tudo, de querer saber, de ir ao pormenor.

Acho mesmo que cada vez mais as produções em Portugal se preocupam com o que está à frente da câmara e não com o que está atrás. Na minha opinião, o backstage é muito mais importante para se fazer bons programas. Os bons espaços, bons camarins, o bom catering para toda a gente, o convívio de toda a gente antes de gravar um programa, as condições, acho que isso é muito mais importante do que depois o programa. O programa é só a ponta final de tudo o resto. Preocupo-me com isso tudo, sou um chato.

É um “chato” especialmente com este programa ou é assim em tudo?

Sou um chato em todos, infelizmente [brinca].

E é uma coisa que pretende atenuar com o tempo?

Não, não. Quero manter. Quero manter moderada a exigência.

Mas era assim no início da carreira?

Sempre fui. Não há outra forma de ter um grupo há quase 20 anos [Commedia a la Carte]. Alguém tem de ser assim, na minha opinião, dentro de um coletivo. Calha-me a mim. Nem sempre gosto de fazer esse papel, mas tenho de o fazer muitas vezes. Nem sempre estou certo, muitas vezes estou errado, mas até daí vem a resposta para toda a gente. Isso também é importante, alguém que agite.

O público não tem de perceber se é difícil, se não é. É o nosso trabalhoAcha que as pessoas têm ideia da exigência que há por trás do trabalho do César?

Não têm ideia nenhuma, nem têm de ter. O público não tem de perceber se é difícil, se não é. É o nosso trabalho. Agora, claro que é muito trabalho, as pessoas não sabem a dificuldade das horas que se estão ali para gravar um programa, da concentração, da exigência, do medo de errar… mas não têm de ter. Com o meu trabalho não têm de pensar ‘ah, coitadinhos dos atores ou dos artistas que trabalham fora de horas e é uma pressão incrível’. Pois é, mas é a nossa profissão. Como há outras dificílimas que não nos cai a ficha. Chega o prato de comida e sabemos lá o trabalho que dá...

Qual foi a principal lição que teve de aprender desde que iniciou a sua carreira?

Talvez tenha sido, e isso é um aprendizado para sempre, a forma de tratar as pessoas todas, ou seja, que eu acho que é o mais difícil no meio disto tudo, porque como há muita pressão, exigência, às vezes nas relações humanas há uma tendência em não nos preocuparmos com elas. Se nos dermos todos bem e tivermos esse respeito e educação a partir daí é muito mais fácil trabalhar em grupo. Nesta área muito facilmente falamos mais alto, damos um grito, discordamos veementemente, porque depois está tudo à volta, o medo, os nervos e isso acaba por toldar.

 Acho que o limite é o bom sensoComo comediante considera que há assuntos mais sensíveis com os quais não se deve brincar?

Não penso muito nisso. Acho que o limite é o bom senso.

Gosto de brincar e fazer humor com o que está à frente dos nossos olhosComo definiria o seu tipo de humor?

Definiria como um humor do quotidiano e transversal, ou seja, brinco com coisas que estão à frente de todos nós. Como trabalho com improviso é muito mais imediato, não tenho uma piada pensada ou formada para X assunto político, ou um assunto do Cristiano Ronaldo, não penso nessas coisas. Gosto de brincar e de fazer humor com o que está à frente dos nossos olhos. Com o facto de ter de apanhar um autocarro, de a senhora mexer o chá mesmo que não ponha açúcar, gosto dessas coisas.

E é isso que diferencia o César naquilo que faz?

Não sei se tenho muita diferença para as outras pessoas, são estilos diferentes, mas todos apreciamos. Identifico-me muito com muitos colegas meus, sou muito apreciador do humor deles e acredito que eles sejam do meu, só que eles fazem à sua maneira. São coisas diferentes, embora sejamos iguais.

Como é que vê a nova geração de humoristas?

Há uma diferença para o nosso tempo. Tínhamos de ir ao teatro, hoje em dia dá para vê-los no Instagram.

Lembro-me de na minha altura pedir conselhos ao Raul Solnado, Herman José e à Maria Rueff

E isso é positivo ou negativo?

É muito positivo, especialmente para eles e para nós também. Lembro-me de na minha altura pedir conselhos ao Raul Solnado, Herman José ou à Maria Rueff. Tínhamos aquele respeito, hoje em dia não, porque acho que eles já não precisam de pedir esses conselhos, o público acaba por dar.

Um novo humorista, um miúdo que comece a fazer alguma coisa numa rede social e que tenha meio milhão de visualizações... para que é que ele vai pedir um conselho se há meio milhão de pessoas que o adora e já o segue? Não é que esse humorista não seja humilde, apenas já não precisa tanto porque o público está ali, à distância de um clique. O nosso, antigamente, não, estava à distância de saírem de casa, pagarem um bilhete, irem para a sala, sentarem-se, irem-se embora e depois mandarem uma mensagem.

Não evito fazer nada porque as pessoas me conhecem O facto de se ter tornado uma figura-pública com o seu trabalho tem mais aspetos positivos ou negativos?

Para conseguir mesa num restaurante é mais positivo, mas depois para outras coisas é negativo. Não tenho essa preocupação, não penso nisso todos os dias, não me lembro. Não evito fazer nada porque as pessoas me conhecem. Claro que tem um lado bom, que é as pessoas realmente gostarem de nós e só tem o lado chato de se chegar atrasado a alguns compromissos, mas é um lado que faz parte, não penso nisso. Não me afeta.

Quando comecei como ator isso era só para drogados ou gays Acha que há um deslumbre fácil por essa faceta?

Há profissões que estão na moda. Quando comecei como ator isso era só para drogados ou gays. Antigamente havia muito esse estigma, lembro-me de estudar no Chapitô e diziam isso. Hoje em dia já não, felizmente, o teatro esteve muito na moda, ainda está, agora acho que está a passar um bocadinho para chef de cozinha. 

Seguindo a tendência do ‘10 years challenge’ o que é que diria ao César de há 10 anos?

Que não posso trabalhar tanto, ser tão 'workholic' como era. Acabava ensaios às 03h00 da manhã e achava que às 09h30 podíamos estar a tomar o pequeno-almoço juntos para falar. Para mim um ensaio não tinha horas para acabar. Hoje em dia diria isso, para não ser tão 'workholic' e consigo não ser, tenho fases, mas consigo parar e pensar e dar tempo à família e aos meus.

Quando olha para a sua carreira do que é que mais se orgulha?

Do grupo que tenho há 20 anos, que foi muito difícil construir. O início foi mesmo complicado. Depois é um casamento, só que um casamento onde não há parte boa, só mesmo com a parte mais chata, mas que depois no fim nos dá muito mais orgulho.

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COMMEDIA A LA CARTE. 10 mil pessoas em 2 fins de semana. Obrigado Porto.

Uma publicação partilhada por cesartmourao (@cesartmourao) a 17 de Dez, 2018 às 4:28 PST

Como é que a família reagiu à sua escolha profissional?

Tenho pais inteligentes, porque há muitos pais que não o são. Imaginam para o filho medicina, engenharia e depois não percebem que onde ele realmente é bom é a fazer caixas de cartão. Mas caixas de cartão? Se ele for o melhor a fazer caixas de cartão tem duas fábricas, é um empresário incrível e realmente começou com esse negócio. Mas há pais, infelizmente, e eu espero não ser assim para a minha filha, que não têm essa distância.

Lembro-me de amigos meus com muito talento que os pais diziam ‘nem pensar’. Tive a sorte de os meus pais não colocarem um entrave. Brincavam comigo quando eu chegava a casa, lembro-me de cantarem coisas do La Feria, mas sempre foram ver todos os meus espetáculos. Esse apoio fez com que não tivesse medo de absolutamente nada.

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Isto a seguir a 16 filhoses, 4 rabanadas, 1 arroz doce, 11 fatias de bolo rei e 4 avisos para não fazer.

Uma publicação partilhada por cesartmourao (@cesartmourao) a 25 de Dez, 2018 às 11:46 PST

Enquanto pai sente que essa é a sua grande responsabilidade?

É, mas também já falei de medicina à minha várias vezes. É muito estúpido mas dou por mim assim: ‘Não gostavas de ser médica filha?’. Mas não quero ter isso. Já tive essa conversa com ela, ela é ainda muito pequenina, para mim ela podia ser o que quisesse desde que fosse das três melhores no país a fazê-lo e no mundo, então, era incrível. Tem de ir ao pódio para ter sucesso. Espero ser como os meus pais.

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Quase a dormir e o miúdo também. #pai #paioutravez #paidosegundo

Uma publicação partilhada por cesartmourao (@cesartmourao) a 28 de Jan, 2019 às 5:45 PST

Há alguma coisa que o deixe ansioso em relação ao futuro?

Estou muito menos ansioso do que era há um ano e meio. É impressionante. Por coisas também que passamos, faz-nos crescer muito mais rápido. A minha única preocupação são os meus filhos e o futuro deles, tudo o resto preocupo-me momentaneamente.

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Quando o teu pai estreia um programa novo.

Uma publicação partilhada por cesartmourao (@cesartmourao) a 13 de Jan, 2019 às 6:42 PST

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