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"A cultura pop fez-me ver o mundo como ele é. É importante passar isto"

Paulo Rocha Cardoso, o diretor geral da Comic Con Portugal, é o entrevistado do Vozes ao Minuto de hoje.

"A cultura pop fez-me ver o mundo como ele é. É importante passar isto"
Notícias ao Minuto

06/09/18 por Fábio Nunes

Cultura Paulo Rocha Cardoso

As expectativas para a 5.ª edição da Comic Con Portugal não poderiam ser maiores. A Comic Con mudou-se para Lisboa para um espaço maior, com uma planta diferente, que os fãs poderão conhecer entre esta quinta-feira, dia 6 de setembro, e domingo, dia 9 de setembro. 

Pelo Passeio Marítimo de Algés vão passar nomes como Nicholas Hoult, Dolph Lundgren, Chris Clairemont, Maurício de Sousa, Mark Waid e Diogo Morgado, entre muitos outros. 

O Notícias ao Minuto falou com Paulo Rocha Cardoso, o diretor-geral da Comic Con Portugal, um dos grandes responsáveis pela vinda deste evento para solo nacional. Paulo Rocha Cardoso não se distrai com o sucesso das edições anteriores e só pensa em melhorar a Comic Con, com conteúdos e convidados que tornem a experiência dos visitantes "épica". 

Sabe já quem gostava de trazer a Portugal nas próximas edições mas realça que isso depende de muitas variáveis, nomeadamente da indústria. Se dúvidas houver quanto a ir à Comic Con deste ano, esta afirmação de Paulo tenta desfazê-las: "O visitante que venha os quatro dias vai sair com a sensação de que precisava de mais tempo".

Trazer a Comic Con para Lisboa era importante de uma perspetiva de evolução do evento e do que ambicionam para a Comic Con?

Nestas últimas quatro edições, cada uma das áreas que fazem parte da Comic Con, têm tido uma maior predominância, ou seja, um investimento maior por parte da indústria. No ano passado, o cinema aumentou consideravelmente todas as ativações que tivemos na Comic Con mas também percebemos que era impossível dar a dimensão que cada uma das áreas devia representar.

A vinda para um espaço maior, que ocupa quase 100 mil metros quadrados, vai permitir - e já se vê isso com muitas das ativações em que a indústria está a apostar – que este ano o evento viva de outra forma, que cada área viva de outra forma e que as experiências sejam muito maiores.

A Comic Con chama-se Comic Con Portugal. Para nós não há barreiras regionais. Não é uma questão de Porto, Lisboa ou AlgarveJá se sente o impacto da mudança para Lisboa?

Temos tido uma excelente abordagem por parte de todos os parceiros. Continuaríamos a fazer o evento no Norte. É natural. Foi uma relação muito grande que tivemos durante quatro anos. A evolução é natural também. Há uma evolução que o evento pede. A indústria pedia esta dimensão e os parceiros também estão a apostar cada vez mais e isso é muito reconfortante. Portanto acho, que tem sido extremamente benéfico, com reuniões muito atarefadas.

Infelizmente, não vai ser tudo o que queríamos. Gostava de ter cá o Harrison Ford, o Stan Lee, gostaria muito de ter cá várias personagens do mundo da cultura pop. Não vai ser nesta edição, mas estamos a trabalhar para isso. Quanto mais a indústria estiver envolvida connosco, a mais patamares vamos chegar.

Neste momento em Portugal fala-se novamente muito na questão da descentralização. Mas o país não peca em termos de infraestruturas que permitam realizar eventos noutras cidades?

Quando analisámos o evento há seis anos, quando fizemos os estudos de mercado sobre o que era possível fazer, o primeiro pressuposto ERA que a Comic Con se chamasse Comic Con Portugal. Para nós não há barreiras regionais. Não é uma questão de Porto, Lisboa ou Algarve. A Comic Con tem como missão promover a indústria da cultura pop. Obviamente se estamos a organizar o evento num determinado local, mas se existem melhores condições noutro local que façam cumprir a nossa missão, nós temos de ir atrás disso. Se temos melhores condições no Passeio Marítimo de Algés e isso faz com que a indústria responda, para nós faz todo o sentido mudar. Algumas das questões que me colocam é se vamos ficar sempre no Passeio Marítimo de Algés, ou se vamos voltar ao Norte. Não sei. Talvez um dia estejamos no Sul ou então nas ilhas. Não é uma questão que é colocada. Acima de tudo o que sempre tentámos no mercado internacional é falar de Portugal, e não do Norte ou do Centro. Acho que somos um país pequeno no panorama global, quanto mais se falássemos só de uma região. 

As infraestruturas que se apresentam, tanto no Norte como no Sul, são as melhores possíveis. Se amanhã conseguirmos melhores infraestruturas noutro local, quem sabe. Nos próximos três anos a Comic Con será realizada no Passeio Marítimo de Algés. Durante a edição deste ano vamos fazer estudos para perceber o que correu menos bem, o que pode ser feito para melhorar a experiência. Na próxima edição nada será igual a esta e assim sucessivamente.

Gostava que os portugueses soubessem as dificuldades que temos em tentar convencer alguém a fazer 14 horas de voo para vir fazer um painel para os visitantes. Só isto é muito difícil. É a nossa luta diária.

A antecipação da data Comic Con de dezembro para setembro foi para tentar procurar uma maior proximidade temporal com outros eventos deste género?

Existiam duas vertentes. Primeiro, para um espaço ao ar livre a data tinha de ser alterada. Era um ponto indiscutível. O risco de o fazer em dezembro era muito elevado. Segundo, no mercado internacional a melhor data é agosto. Há um período entre maio e setembro em que a maior parte das séries de televisão está em paragem, no mercado cinematográfico já não estão em filmagens. Mas depois existem dois grandes eventos: a Comic Con San Diego e a Comic Con Nova Iorque. E nós também estamos à mercê do panorama global. Ou seja, se a indústria vai apresentar um conteúdo em San Diego, primeiro vai fazê-lo em San Diego porque é lá que está a indústria e só depois é que se apresenta no resto do mundo. Não é só uma questão de escolha ou de estudo, há muitas variáveis que definem qual a melhor data possível. Esta é a melhor data fora agosto porque nessa altura a maioria das pessoas está de férias. Nós já sofremos na pele com alguns talentos que estavam previamente acordados e que querem ir de férias. Isto cria alguns contratempos. Estamos reféns das variáveis internacionais.

 É incomensurável o desafio e o sacrifício das pessoas que trabalham na Comic Con, para dia e noite tornarem isto cada vez melhorCom uma nova localização é como que um recomeço para a Comic Con Portugal. Em termos de logística foi muito difícil montar esta operação?

Não estou envolvido nas operações do dia a dia. Há milhares de pessoas que estão envolvidas nessas operações diárias. Essas pessoas têm trabalhado noite e dia. Por vezes durmo uma hora e meia, essas por vezes nem dormem. Tem sido incrível todo o desafio que tem sido lançado. A planta tem sido ajustada, redesenhada. É incomensurável o desafio e o sacrifício das pessoas que trabalham na Comic Con, para dia e noite tornarem isto cada vez melhor.

Por outro lado, deve ter sido aliciante olhar para um espaço novo e poder diversificá-lo bastante. A planta para a Comic Con deste ano parece muito abrangente em cada uma das áreas da cultura pop.

Quando começámos a desenhar o evento num espaço ao ar livre para nós tornou-se muito importante que cada área vivesse por si só. No passado as áreas estavam muito confinadas a determinados espaços. Era muito frustrante para nós colocar o carro do Batman e não poder fazer o beco de Gotham City. Tínhamos o carro e confinámo-lo a um espaço, não lhe dando a representatividade que merecia. Era frustrante também termos uma ativação de Tomb Raider e não podermos fazer rapel. Eram situações que não transparecíamos, pois queríamos que o público tivesse a melhor experiência possível. Este é um espaço onde não temos limitações.

Primeiro começámos pelas áreas em si. A Comic Con não é só feita de cinema, de banda desenhada e videojogos. É feita dos grandes temas que se envolvem. O cinema, a literatura, a banda desenhada, o gaming e o cosplay, que precisava de ter a sua própria representatividade, o anime, manga e a música este ano vão ter o seu espaço e o seu espaço vai viver mais dentro do recinto. Não quer dizer que no próximo ano o espaço não seja redesenhado mas este ano está pensado com a premissa de que cada uma das áreas é uma atração. Se a pessoa quiser ficar naquela área o tempo todo poderá ficar. O visitante que venha os quatro dias vai sair com a sensação de que precisava de mais tempo.

Notícias ao MinutoPaulo Rocha Cardoso destaca que muita cultura pop portuguesa passou despercebida© Comic Con Portugal

Na área de gaming há um espaço que se destaca que é o Nostalgica. Ultimamente temos assistido ao regresso de consolas antigas e é interessante, numa altura em que estão a regressar em força, ter este espaço que acompanha a evolução das consolas ao longo do tempo.

O target da Comic Con é geracional. Aquilo que tentamos fazer neste evento em todas as áreas é que atinja todas as faixas etárias do público. Os jovens atualmente conhecem as novas consolas 'xpto' como a Xbox One X, a Playstation Pro e as Nintendo, mas quem é de outra geração cresceu com as Sega e até com a Spectrum. O Museu Nostalgica vai relembrar aos mais velhos consolas como a Spectrum mas os jovens de hoje vão perceber como é que os pais se iniciaram no mundo dos videojogos. Atualmente temos miúdos muito focados em gaming, estão muito direcionados para o seu próprio mundo e os seus pais provavelmente também passaram por isso. No Museu Nostalgica podemos ver todo um caminho para chegar onde estamos.

Além disso, temos apostado sempre nos game developers porque é impossível termos mais de 200 jogos a serem produzidos em Portugal e isto não estar em lado nenhum.

A Comic Con acima de tudo é feita pela indústria. Se a indústria não está connosco não faz sentido o talento vir cáA edição deste ano conta com vários convidados de peso.

O Maurício é um dos convidados do qual falámos desde o primeiro dia. Acho que todos crescemos com a ‘Turma da Mónica’. É intemporal. O Chris Claremont pediu para regressar ao evento. Eu sou um fã incondicional de X-Men. Ele acha que não leio banda desenhada porque perguntou-me se queria que ele assinasse algum dos meus livros e eu disse-lhe que não queria que ele tivesse esse trabalho. Depois foi dizer à esposa que achava que eu não gostava de banda desenhada, quando eu cresci com a banda desenhada dele e coleciono-a. Mark Waid também. Há muito tempo que o tentávamos trazer cá. Filipe Melo é da casa e é um grande nome que nos tem acompanhado nestas quatro edições. No mundo do cinema são os nomes que já conhecemos todos. Dolph Lundgren é para uma geração de mais de 25 anos e de menos de 25 anos. Ele tem as duas vertentes. Vai apresentar o ‘Creed 2’, onde interpreta o papel de eterno rival do Rocky, também entra no ‘Aquaman’ e está ligado às novas gerações e ao mundo da banda desenhada. O Nicholas Hoult de ‘X-Men’, de ‘Mad Max’, entre muitos outros filmes. O Dan Fogler do ‘Fantastic Beasts’ e vai entrar na nova temporada de ‘The Walking Dead’.

Muitas vezes as pessoas perguntam-nos: ‘Mas porque é que vêm estes e não outros?’. Não somos nós que escolhemos os convidados. Eu sei quem gostava de ter na Comic Con. Todos nós temos ídolos que gostávamos de ter no evento e gostaríamos imenso de trazê-los. A Comic Con acima de tudo é feita pela indústria. Se há um conteúdo que não está no panorama nacional não faz sentido nós fazermos a promoção de downloads ilegais de séries e de filmes. Temos muitos pedidos de fãs para trazermos conteúdos de séries que veem em canais menos formais, digamos assim. Nós trabalhamos com a indústria. Se há um filme que só vai sair em 2019 e 2020 não faz sentido convidar alguém antes de esse filme chegar às salas de cinema. Se a indústria não está connosco não faz sentido o talento vir cá.

O ano passado teve cá a Daniela Ruah, este ano vai estar o Diogo Morgado. Que importância tem trazer convidados com uma maior proximidade ao mercado português?

É muito importante. A Daniela conseguiu ser uma atriz completamente reconhecida no mercado internacional, o que não é fácil. Contamos pelos dedos os que o conseguiram fazer. O que o Diogo conseguiu é de louvar. Mas é o ‘Solum’ que vai estar no evento e o Diogo vem promovê-lo. É sempre o conteúdo primeiro. Nós também promovemos muitos filmes nacionais. No ano passado promovemos o ‘1986’, que foi apresentado pela primeira vez na Comic Con. É importante que as pessoas percebam que se fazem conteúdos muito bons nos mercados nacionais.

A cultura pop fez-me ver o mundo como ele é, a banda desenhada, o cinema, os videojogos ajudaram-me a ser quem sou. É muito importante passar isto de geração em geraçãoA Comic Con também tem uma vertente de aprendizagem. Atualmente há uma lógica invertida pois muitos miúdos começam a conhecer este universo dos super-heróis através dos filmes e dos jogos e só depois travam conhecimento com a BD.

Acima de tudo é cultura. O que é que é cultura pop? É algo que é completamente transversal ao seu próprio conteúdo. Quando ouvimos ‘Luke I am your father’ num café, automaticamente associamos aquilo a um título que era uma ópera de um tipo chamado George Lucas. No universo português também existe muita cultura pop que nós deixámos passar. ‘Duarte e Companhia’ era um título de cultura pop. O ‘Major Alvega’, por exemplo. Para nós, faz sempre sentido mostrar às novas gerações que há mais do que aquilo que conhecemos. Tudo o que fazemos dentro da Comic Con vem muitas vezes de outras gerações e se o conhecemos é porque chegou a ser cultura pop.

Penso muitas vezes no exemplo de ‘The Walking Dead’. Quando digo que para mim ‘The Walking Dead’ é uma banda desenhada incrível, fantástica, as pessoas pensam ‘Porque é que eles fizeram uma banda desenhada da série de televisão?’. É muito importante para nós mostrar como tudo isto começa. Foi com um homem em 1932 numa cave com um amigo a fazer um tipo de collants e com um S no peito. Esteve cerca de 10 anos a tentar vender aquilo e não conseguiu. Quando finalmente consegue vender é um super-herói, o Super-Homem. Hoje todos o conhecemos mas começou com duas pessoas que lutaram muito tempo para que isto acontecesse. As pessoas não gostam de super-heróis por causa dos seus super poderes. Não gostam do Indiana Jones por causa do chicote. Gostam por causa das suas aventuras, dos valores que representam.

Fizemos a campanha ‘Kids Go Free’ para que os pais tragam os filhos e para permitir que as crianças tenham acesso ao que os pais tiveram e que ajudou a construir as suas personalidades, e muitas vezes isso aconteceu através destes elementos da cultura pop. A cultura pop fez-me ver o mundo como ele é, a banda desenhada, o cinema, os videojogos ajudaram-me a ser quem sou. É muito importante passar isto de geração em geração.

A Comic Con apanhou esta fase de proliferação de filmes e séries adaptados de banda desenhada e não só. Nos últimos anos aumentou o interesse em torno do universo dos super-heróis, de personagens de BD e provenientes de manga e anime. As lojas que vendem produtos deste género também ganharam novo fôlego. Parece que tudo se conjugou na mesma altura aqui em Portugal.

Confesso que o maior desafio que nós tivemos em 2014 foi fazer o mercado nacional acreditar que era possível fazer acontecer isto em Portugal. Quando essa barreira foi ultrapassada, aproveitámos o facto de estarmos na era quase de ouro dos filmes de super-heróis. O cinema transforma e move esta indústria. A Comic Con não acontece só num momento do ano, está presente em vários lançamentos de livros, de banda desenha, filmes, de jogos ao longo do ano. Existe um momento num ano em que materializamos isto em conjunto com a indústria e com o público. Os próprios fãs fizeram a indústria dinamizar-se mais. A indústria percebeu que há cada vez mais pessoas que gostam disto. Não foi a Comic Con que teve essa relevância, gostava muito que assim fosse. Foram os próprios fãs do evento que mostraram à indústria que é possível fazer mais.

O evento também surgiu numa altura em que o turismo em Portugal está em alta. Sentem o impacto do turismo, de receberem mais fãs estrangeiros?

Acho que de ano para ano a Comic Con tem sido um marco em Portugal e mesmo na Europa temos tido essa representatividade. Quando a indústria escolhe um evento em Portugal para lançar o ‘Valerian’ em exclusivo e a Virgine Besson-Silla, a esposa do Luc Besson, vai a San Diego apresentar o filme e depois na Europa só o apresenta em Portugal, isso destaca esta representatividade. Este ano teremos estúdios que vão lançar conteúdos completamente exclusivos, pela primeira vez vamos ter antestreias de séries no evento. Isto agrega muito do target internacional. Na edição do ano passado, 11% dos visitantes eram estrangeiros. Este ano gostávamos que esse número aumentasse.

Posso dizer que o Stan Lee está convidado desde 2013. Portanto se acontecesse agora já estava a ser planeado há cinco anosNo ano passado atingiram uma fasquia muito importante. A Comic Con Portugal ainda não conta com muitas edições e vocês ultrapassaram os 100 mil visitantes (100.748 mais precisamente). Para este ano, tendo em conta a mudança para Lisboa, qual é que a vossa expectativa quanto ao número de visitantes?

Foi no ano passado?

Não cheguei a ir.

Então, quero 100.749 visitantes. Se conseguirmos mais uma pessoa o trabalho está a ser bem feito. As pessoas continuam a acreditar na Comic Con. Obviamente temos um novo espaço para trabalhar, um novo conteúdo, este ano tudo é novo mas queremos que as pessoas venham e que se divirtam. Se conseguirmos mais uma pessoa e se essa pessoa sentir que a Comic Con foi épica, que mudámos a sua vida, então já cumprimos o nosso objetivo.

Quando é que começam a preparar a edição seguinte? Logo depois de acabar esta?

Já estamos a preparar as edições de 2019 e 2020. A maior dificuldade está sempre na confirmação de talentos da indústria porque é um processo muito complexo. Passa por muitas pessoas. O talento dizer ‘sim’ ou ‘não’ é fácil, mas depois mesmo que diga ‘sim’ tem de passar por várias variáveis. No que toca à indústria do cinema e da televisão depende se o estúdio permite, se não permite naquelas datas, o que pode ou não falar… No caso da banda desenhada as coisas são planeadas com mais tempo. Posso dizer que o Stan Lee está convidado desde 2013. Portanto se acontecesse agora já estava a ser planeado há cinco anos. São convites em aberto. O Maurício de Sousa foi convidado na primeira edição. Este ano foi possível devido à alteração de data do evento. Tínhamos alguns convidados que estavam alinhavados mas cuja presença teve de ser adiada para os próximos anos.

Na última semana do evento começamos a preparar no terreno a próxima edição, otimizamos processos tendo por base o que aconteceu na corrente edição. Percebemos que aquele processo demorou muito tempo, que podia ter sido feito de outra forma. Em termos de programa é a própria indústria que o faz, a própria tendência, se um título for alterado, por exemplo. O Nicholas Hoult foi confirmado mas a data de lançamento do título que ele vinha promover foi alterado de novembro para janeiro. Conseguia fechar já os programas de 2019 e 2020. Quem me dera poder fazê-lo! Mas muita coisa será alterada até lá.

Sempre quis ser um super-herói. Não tinha poderes mas ajudava sempre alguém a atravessar a ruaA Comic Con tem registado uma evolução ano após ano. Todos os anos aumenta o número de visitantes, a área do espaço aumenta. Quando teve esta ideia de trazer para Portugal a Comic Con esperava este sucesso?

Tínhamos uma projeção de 100 mil visitantes em cinco anos. Tínhamos uma projeção de 20 mil visitantes por edição e logo na primeira atingimos os 33 mil visitantes. Uma das coisas de que beneficiámos sempre foi do mercado internacional e deste leque de títulos e de cultura pop. Há todo o tipo de objetos relacionados com a cultura pop e isso ajuda a que haja uma maior consciencialização da cultura pop e dos seus títulos. Sempre vivi com a banda desenhada e a banda desenhada mudou a minha forma de ver o mundo. Sempre quis ser um super-herói. Não tinha poderes mas ajudava sempre alguém a atravessar a rua. Acho que como eu muitas outras pessoas fizeram o mesmo. Não há nada na Comic Con que não faça sentido para alguém.

Ver a Comic Con de San Diego e ter vontade de ir lá, isso também nos motivou para trazermos a Comic Con para cá sempre com a essência do que representa. Trazer atores era fácil mas não representa a cultura pop. Para isso íamos à primeira temporada de ‘Game of Thrones’, escolhíamos 25 atores, morreram todos na primeira temporada, e tínhamos atores. Mas isso não representa a Comic Con. No outro dia perguntaram-me se me sentia realizado. Obviamente que não, nunca.

A Comic Con San Diego está no mercado há 40 anos. O que nós fizemos em quatro anos foi importantíssimo mas foi possível graças a todas as pessoas que estiveram connosco, aos visitantes.

Se o Paulo pudesse escolher dois ou três nomes para virem à Comic Con, quais seriam as suas escolhas?

O Stan Lee. Há dois anos estive em Nova Iorque e foi anunciado o dia de Stan Lee. Estive com o Chris Claremont e disse-lhe ‘Posso morrer. A minha vida está feita’. Porque é uma pessoa que me diz muito, cresci com as suas ideias e os seus valores. O Homem-Aranha fez muito parte da minha vida. O Chris Claremont também me marcou. Os X-Men, a história da Fénix, marcaram-me. Uma das pessoas que gostava muito de ter cá é o Brian Michael Bendis. Infelizmente, ainda não aconteceu. Já esteve muito próximo de acontecer várias vezes. O trabalho dele no ‘Guerra Civil’ foi incrível, muito antes de chegar ao cinema. Um deles está concretizado, os outros dois não. Mas quem sabe se no futuro os meus sonhos não serão realizados e se não conseguimos realizar os sonhos de outras pessoas.

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