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"Estamos a mostrar Portugal acolhedor, moderno, que sabe fazer as coisas"

Decorre este sábado a final da Eurovisão e o Notícias ao Minuto foi saber qual é o impacto da realização deste festival em Portugal nos setores mais diretos: a restauração e a hotelaria. A este propósito, e não só, falámos com José Manuel Esteves, diretor-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal.

"Estamos a mostrar Portugal acolhedor, moderno, que sabe fazer as coisas"
Notícias ao Minuto

11/05/18 por Beatriz Vasconcelos

Economia José Esteves

Numa altura em que tanto se fala sobre a Eurovisão - e dos custos e mais-valias inerentes à realização do festival em Portugal - quem por estes dias se dirige ao Parque das Nações, nomeadamente à zona do Altice Arena, depara-se com muitos estrangeiros que estão por cá para apoiar os candidatos dos seus países. 

Este movimento de pessoas, como seria de esperar, terá impacto na economia portuguesa e, principalmente, nos primeiros setores a serem influenciados, como por exemplo o da hotelaria e restauração. Nesta senda, o Notícias ao Minuto falou com José Manuel Esteves, diretor-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) sobre as mais-valias para o setor, sobre a criação de emprego e as condições de empregabilidade e ainda sobre os desafios que se colocam.

A este respeito, o responsável salientou a importância da construção do Aeroporto do Montijo como a solução mais imediata no curto prazo, tendo em conta a lotação do Aeroporto de Lisboa. 

Numa conversa informal, o responsável destacou ainda que a Eurovisão é importante para Portugal inteiro e que este 'boom' turístico já se faz sentir nas reservas do pós festival. 

Se pudéssemos comparar, o que tem mais impacto na cidade de Lisboa, uma Websummit ou um Festival da Eurovisão?

Isso é comparar o que é dificilmente comparável, aí é que está a questão essencial. E saliento, como disse, na cidade de Lisboa. A Eurovisão é Portugal que está exponenciado, ou seja, uma coisa é o que nós adoramos todos, normalmente, referir: os retornos económicos imediatos, as ocupações na hotelaria e os milhões de faturação. Se me permite, nesta questão da Eurovisão, [isso] é importante, mas é secundário.

Comparando, por exemplo, com uma Web Summit, que é muito destinada a um público tecnológico e específico, ou a um Euro 2004, que também tem muita visibilidade televisiva e é para o segmento específico do desporto que é o futebol. Ou até com a Expo 98, que já foi há muitos anos e não tínhamos as ferramentas que temos disponíveis hoje. Portanto, este momento é único – ou como eu costumo dizer é o ‘ano shot’ - não só por termos vencido, e viva os irmãos Sobral, como pela forma como estamos a organizar [o Festival]… Porque temos mais de 1.800 jornalistas de 80 países em Portugal que neste momento estão a passar a palavra de Portugal pelo mundo inteiro.

Estamos a mostrar um Portugal acolhedor, moderno e que sabe fazer as coisas. O retorno disto não existe, é uma coisa incomensurável

Podemos, portanto, falar num ‘marco’ para a setor da hotelaria e restauração?

Não, não é para a hotelaria. É para Portugal, como país moderno, que sabe fazer as coisas e que tem esta característica excecional de acolher bem, com um bom clima e com uma excelente gastronomia. Estamos, portanto, neste momento a acompanhar as notícias que estão a sair no mundo inteiro sobre o que está a acontecer em Portugal.

[Relativamente ao] movimento gerado é muito mais importante o que venha a acontecer no pós Eurovisão – e, repito, não é comparável com uma Web Summit que é muito mais específica – porque isto é para todos os públicos.

A promoção de Portugal é incomensurável e será de difícil monitorização no curto prazo. Estamos a mostrar um Portugal acolhedor, moderno e que sabe fazer as coisas. O retorno disto não existe, é uma coisa incomensurável.

Se olharmos para a cadeia de valor económico, estas dezenas de milhares de pessoas que vieram, quer sejam da organização ou acompanhantes de concorrentes, aumentaram efetivamente a ocupação da hotelaria, da restauração e do rent-a-car, também consumiram desde a cadeia de valor da agricultura às engenharias.

O Turismo de Portugal desafiou a organização, e foi aceite, para que pela primeira vez o anúncio dos países que estão a concorrer aquando da entrada do concorrente em palco fosse filmado em PortugalEstamos a falar de um impacto económico na ordem de quantos milhões de euros?

Se quiser, que é o menos relevante, de muitas dezenas de milhões de euros que nós estimamos que se poderão – depois de feitos bem os cálculos – aproximar-se da centena de milhões de euros. Mas não é isso, repito e sublinho, é o cálculo estimativo de quanto é que isto nos custaria se fizéssemos campanhas de promoção nestes 80 países que estão aqui representados por esses artistas.

Deixe-me sublinhar, não é Lisboa que está em causa, é Portugal. E vou dar um exemplo: o Turismo de Portugal desafiou a organização, e foi aceite, para que pela primeira vez o anúncio dos países que estão a concorrer aquando da entrada do concorrente em palco fosse filmado em Portugal. Ou seja, trouxemos os artistas aqui, espalhámo-los pelos diferentes ‘portugais’, mostrando a heterogeneidade do nosso país, desde o Norte até às Ilhas. Estes minutos que vamos ter, em cadeia mundial, em que Portugal é repetido pela primeira vez no lançamento de cada atuação é incalculável. Falamos em milhões de euros.

Os astros estão alinhados, houve uma coincidência felicíssima das capacidades organizadoras da RTP com a disponibilidade imediata que tivemos de todos os agentes económicos, do Turismo de Portugal ao Governo.

Está a sentir-se, já, alguma influência que impactará no período pós-Eurovisão?

Está-se a sentir nas reservas do pós Eurovisão um prolongamento das reservas nas estadias, portanto, isto é uma agradável surpresa. Mas isto também não é importante, o que interessa é esta mensagem que Portugal esta semana está a passar para o exterior.

O facto de estar tanta gente a vir para Portugal, tem influência cá e nos preços que estão a ser cobrados…

Sabe que a melhor restauração da Europa, quiçá do mundo, é a portuguesa. Uma das principais avaliações que o turista faz quando sai de Portugal é a gastronomia, a restauração, a qualidade do atendimento, do acolhimento… e o preço. Portanto, não houve aumentos de preços.

Portugal é extremamente competitivo em preços. Mesmo que os preços aumentassem ficariam aquém de qualquer concorrente internacional

E na hotelaria?

Alguma hotelaria muito pressionada que neste momento está lotada, mais na zona das proximidades do evento, poderá ter ajustado [o preço], mas não é relevante nem é isso que nos move, porque Portugal – além de qualificado – é extremamente competitivo em preços. Mesmo que os preços aumentassem posso dizer-lhe que ficariam aquém de qualquer concorrente internacional.

Na zona de realização do evento, estamos portanto a falar do Parque das Nações, quantas unidades hoteleiras, aproximadamente, é que estão esgotadas?

Todas as unidades hoteleiras, toda a restauração, todos os agentes económicos, todos ganhamos em escala com isto. Há outro fenómeno interessante: se consultar a base de dados da Airbnb, a procura foi maior em 30% a 40% do que em igual período do ano passado. Se não houvesse Eurovisão teríamos uma ocupação 30% a 40% inferior e este é o grande número. Algumas unidades junto ao [Altice] Arena estão mais cheias, mas temos hotéis na Grande Lisboa, Cascais, Sintra e Margem Sul que estão a aproveitar este fenómeno. E não podemos esquecer as comitivas que andaram a fazer gravações pelo país inteiro.

Os dados do INE refletem a confiança dos investidores que pela primeira vez sentem que têm condições para arriscar, empreender e criar empregoSaiu esta quarta-feira o relatório mais recente do INE sobre o emprego no primeiro trimestre. O setor da hotelaria e restauração é um dos que mais empregou nesse período, qual é o sentimento que se vive no setor?

Em duas palavras o sentimento é o seguinte: primeiro, cumprimos os compromissos de honra que assumimos com o Governo, que era a reposição da taxa de IVA no serviço de alimentação e bebidas - ainda faltam algumas bebidas - e o compromisso que o senhor primeiro-ministro teve connosco foi que criássemos emprego para responder rapidamente aos momentos dramáticos que atravessámos nos últimos anos de desemprego e fecho de empresas. Cá estamos a mostrar isso, investimos e geramos emprego.

O senhor primeiro-ministro teve a visão correta com o compromisso de honra da AHRESP, de que tudo iríamos fazer para promover junto dos nossos associados esta confiança e aconteceu. Neste momento, lideramos a procura de emprego, do combate ao desemprego, do aumento das receitas e, sobretudo, da criação líquida de emprego.

A restauração representa mais de 70% do emprego total do turismo, a hotelaria 20% e depois seguem os restantes agentes do turismo. Por isso, a restauração com esta dinâmica está no topo da empregabilidade em Portugal e os dados do INE refletem isso mesmo, a confiança dos investidores que pela primeira vez sentem que têm condições para arriscar, empreender e criar emprego.

Não temos condições para esperar quatro anos, porque o aeroporto de Lisboa, que é um ‘hub’ importantíssimo, está lotado e não há alternativaE quais são as preocupações?

Obviamente que estamos preocupados com muita coisa, com a estabilidade da legislação laboral, com algumas regras que podem pôr em causa esta empregabilidade que estamos a gerar, como também estamos preocupadíssimos com a eficiência do Aeroporto de Lisboa, que neste momento está saturado, não temos ‘slots’ disponíveis. Também o próprio Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) não está a responder bem e, como sabe, a primeira e última imagem que temos de um país é a dos aeroportos. Não se pode perder tantas horas em filas à saída e á chegada. Para a Eurovisão, por exemplo, vieram muitos países fora do espaço Schengen.

Considera que a construção do aeroporto do Montijo poderia, de alguma forma, solucionar esses problemas?

Poderia não, é a solução mais imediata do curto prazo e o Governo português tem de fazer um esforço junto dos seus parceiros para encurtar o prazo e para agilizar a operacionalidade do aeroporto do Montijo. Não temos condições para esperar quatro anos, porque o aeroporto de Lisboa, que é um ‘hub’ importantíssimo, está lotado e não há alternativa.

Por isso, a AHRESP apela a todos os intervenientes políticos na agenda do aeroporto de Lisboa e Montijo para que sejam o mais céleres possível.

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