Um dos temas que tem dominado todo o período do verão e sobretudo os smartphones é Pokémon Go, a aplicação de realidade aumentada baseada na série da Nintendo que colocou todo o mundo à procura dos Pokémon. 

Pode lembrar-se de Pokémon dos jogos para GameBoy ou até da série animada de televisão e pensar que foi uma ‘moda’ há muito desaparecida. Desengane-se porque estes monstrinhos não foram a lado nenhum. A youtuber Alexandra Pinto atesta esta realidade, não fosse ela a responsável pelo canal de YouTube Hermylution, focado na criação de conteúdo baseado na série da Nintendo.

O Tech ao Minuto procurou saber como é que esta youtuber está a ver o fenómeno de Pokémon Go e qual o efeito que teve no seu próprio canal.

Há três anos que criou o canal de YouTube Hermylution com especial foco em ‘Pokémon’. Porquê esta série da Nintendo?

A minha história com Pokémon já é antiga. Comecei aí por inícios dos anos 2000, com os jogos de Gameboy Color. Jogava tanto e tão bem que alguns amigos meus me pediam ajuda em algumas partes do jogo. Quando decidi criar um canal de YouTube, o tema surgiu-me naturalmente, visto que achei que era onde podia ser uma mais-valia para o meio. 

Já com quase 39 mil subscritores, o Hermylution está a corresponder às expetativas?

Houve um crescimento quase súbito – pelo menos bastante acentuado – muito recentemente (há coisa de 2 semanas) por causa de Pokémon GO e pelo facto de o meu canal e essa série terem sido mencionadas num vídeo do que é atualmente o Youtuber português com mais inscritos, o SirKazzio. 

Nem sempre dedico tanto tempo ao canal quanto seria desejável, por isso não posso esperar dele grandes resultados. Digamos que tenho fases em que fico triste com o fraco feedback quando me empenho mais em algum vídeo ou série, mas entendo que assim seja e fico às vezes até surpreendida com o sucesso que o canal ainda tem, apesar da minha negligência.

Como é a vida de um youtuber muito seguido? Mais diversão ou mais trabalho?

Diversão provavelmente é aquilo que está em dose menor. É um misto de trabalho com procrastinação e culpa. Para os maiores youtubers, talvez eles digam que há um equilibro entre ambas as partes, pois divertem-se imenso com o que fazem, mas ainda assim, o trabalho é sempre superior à diversão. Há muita pressão para fazer muito conteúdo e sempre altamente apelativo. 

Certamente que é fã de Pokémon Go. Sendo fã da série da Nintendo como tem assistido a este fenómeno? Qual foi o efeito no seu canal?

Surpreendeu-me um pouco, não tanto pela quantidade de descarregamentos (se bem que ainda assim há uma adesão maior do que eu pensava), mas pela ‘febre’ dos media e, acima de tudo, pela quantidade de youtubers que realmente pegaram neste jogo para fazer dele conteúdo.

Na minha inocência, ainda pensei que iria com vantagem em relação a uma data de gente, tendo em conta o tema do meu canal, pois não imaginava o pessoal em peso a levantar-se da secretária e fazer gameplay ‘on the go’.

Era algo que estava a entusiasmar-me bastante, porque era uma oportunidade de explorar um lado dos vídeos que parecia não se justificar muito, tendo em conta o tema do canal. Mas sim, apesar de a concorrência ser esmagadora, teve um efeito muito positivo. O número de visualizações nos vídeos dessa série estão a alcançar valores que há muito não via.

Este é um novo pico de popularidade para a série ‘Pokémon’, sendo que ao contrário dos anos 90 parece ser transversal a toda a sociedade e não apenas a crianças (através dos desenhos animados) ou a gamers (por via dos jogos). O que Pokémon Go teve de diferente? O que está na base da adesão massiva à aplicação?

Aí é que está. Não sei. Estava à espera que houvesse muita gente a jogar, pois ia-se intercetar uma série de grupos diferentes na mesma aplicação: fãs (reformados, de longa data e mais novos) de Pokémon, gamers e utilizadores de apps de smartphone. Agora de onde veio a outra gente toda? O que os cativou? Ainda é meio misterioso para mim, mas tenho uma teoria: é de que essa interceção de ‘classes’ e ‘gerações’ só por si faz um número muito maior do que quase qualquer outra app.

Este jogo que estava a deixar estas pessoas, em tão grande número, tão desejosas de jogar e com a divulgação em várias redes sociais (que são, como sabemos, onde ‘nascem’ estes fenómenos) despertou a atenção dos media.

Ao ser falado nos media e com todo o falatório entre vantagens, perigos e insólitos, o resto das pessoas quis saber do que se tratava, e ao descobrir um jogo que consegue aliar o entusiasmo de uma caça ao tesouro com o bichinho do colecionismo, acabaram por se tornar também eles adeptos desta aplicação.

Considera que Pokémon Go é uma algo passageiro ou veio para ficar?

Ambos. Enquanto febre, tenho quase a certeza de que é passageiro. Muitos dos fãs que estão nisto pelo revivalismo, provavelmente vão começar a desanimar assim que as próximas hordas de gerações de Pokémon forem introduzidas no jogo. Para eles, os Pokémon a sério são só os primeiros 151.

Para as pessoas que entraram apenas pela curiosidade, uma grande porção irá acabar por deixar a app cair no esquecimento assim que passar o entusiasmo da novidade. Para os fãs de jogos e de Pokémon, alguns deles são muito de fases, e apesar de agora estarem entusiasmados com o jogo, vai haver uma altura em que se vão desligar, porque estão com mais interesse noutro jogo, mas que podem voltar ocasionalmente.

No entanto, a quantidade de jogadores que ainda vai resistir, tendo interesse no jogo, vai ser suficiente para manter a app com atualizações constantes e que vão melhorar cada vez mais a experiência dos seus utilizadores e passará a ser uma app de sucesso e adorada pelos seus adeptos, tal como os fãs de Ingress ou de Geocaching ou outro tipo de jogos.