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"Devemos estar orgulhosos em Portugal", diz criador de 'Rabo de Peixe'

Conversámos com Augusto Fraga, criador da série ‘Rabo de Peixe’, e com José Condessa, ator que interpreta o protagonista Eduardo, sobre a segunda temporada que estreia esta sexta-feira na Netflix.

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© X / NetflixPT

Miguel Patinha Dias
15/10/2025 12:15 ‧ há 4 horas por Miguel Patinha Dias

Será na próxima sexta-feira, dia 17 de outubro, que - após um período de dois anos de espera - a Netflix lançará a segunda temporada de ‘Rabo de Peixe’, composta por um total de seis episódios.

 

A este propósito, e após termos visualizado os primeiros quatro capítulos da nova temporada, o Notícias ao Minuto foi convidado a marcar presença numa série de entrevistas que tiveram lugar no Bairro Alto Hotel, em Lisboa, e onde tivemos a oportunidade de falar não só com o criador, realizador e argumentista Augusto Fraga, como também com vários nomes do elenco - entre os quais José Condessa, que interpreta o protagonista Eduardo.

Pode ler abaixo a primeira de três entrevistas que serão publicadas ao longo desta semana.

Notícias ao Minuto José Condessa como Eduardo © X / NetflixPT  

Depois do sucesso da primeira temporada, foi mais fácil convencer mais pessoas a juntarem-se ao projeto? Como é que surgiram estes convites? Porque, vendo a série, parece que foi muito deliberado, apesar de não serem personagens que atores como Ricardo Pereira ou José Raposo, por exemplo, costumem interpretar.  Como é que foi criar estas personagens para estes atores?

Augusto Fraga (AF): Sim. Nós escrevemos sem saber que atores é que íamos escolher. Ou seja, nós sabíamos que o Arruda tinha um irmão que era alguém oculto, ‘negro’ e doente. Depois, no processo de escrita, é que começou a aparecer o nome do José Raposo. O José Raposo é um ator incrivelmente respeitado pelos outros atores. Eu ainda não o tinha visto num papel tão dramático.

Este é um grupo muito sólido. As decisões foram tomadas por mim, pela equipa da Ukbar, obviamente, pelo diretor de ‘casting’, mas também com os outros atores, sobretudo quando havia uma interação tão forte, não é? 

José Condessa (JC): Adoro [o José Raposo]. Sou fã e amigo. É um ator genial. Genial.

AF: E a mesma coisa com o Ricardo Pereira. Eu queria muito. E o Ricardo Pereira queria muito romper com o estereótipo. Foi incrivelmente divertida a preparação da personagem [risos]. O Mike [interpretado pelo Ricardo Pereira] é assim… Uma coisa completamente maluca, mas que tem ali uma crítica. Não é por acaso que fomos buscar esse tipo de assunto. Acho que o Ricardo se divertiu imenso e nós divertimo-nos imenso. Foi incrível filmar com ele.

Notícias ao Minuto Augusto Fraga © Netflix  

Quantos ’takes’ é que foram necessários para filmar a cena do Ricardo? Não fiquei com a certeza se a Sílvia [Helena Caldeira] se está a rir para o Eduardo [José Condessa] ou se própria atriz está a ter dificuldade em conter o riso… ‘Ok, eu estou aqui e o Ricardo Pereira está a fazer este show’.

AF: Acho que é bom perguntar isso. Porque essa cena em que ele está de alguma forma a fazer um discurso motivacional, ao mesmo tempo tira a roupa e depois começa a bater nos abdominais… E isso deixa-os completamente sem chão, porque estão à espera de um ‘dealer’ de droga e acaba por ser um homem egocêntrico. E ela, a personagem [Sílvia], não consegue aguentar-se e está em interação com o Eduardo a pensar ‘What the fuck? O que é que está a acontecer aqui?’

Mas foram vários ‘takes’, sim. Há muita improvisação do Ricardo [Pereira] nessa cena, o que fez com que eles não soubessem bem o que estava a acontecer [risos].

A primeira temporada parte de uma história conhecida e, ainda que tenham criado personagens originais, continua a estar muito centrada na realidade. Mesmo que a segunda temporada - e imagino que a terceira temporada - continuem a ter esta base, parece-me evidente que tenham tido muito mais liberdade para explorar uma narrativa própria. Que temas é que quiseram abordar nesta segunda temporada? 

JC: Acho que na primeira temporada tínhamos como ponto de partida esse acontecimento, mas acho que desde o início não é baseado em factos. Tirando os acontecimentos reais, as personagens não existiam. É livremente baseado sim, mas aquele grupo de amigos provavelmente não existiu.

Acho que esta segunda temporada traz uma liberdade de criação artística e leva as personagens para caminhos totalmente novos. Acho que todas as personagens crescem. Há um amadurecimento dos conflitos de cada um, dos medos e tudo aquilo que parecia um pilar na primeira temporada - que era quase indestrutível - como a amizade destes quatro, a união de grupo… A segunda temporada destrói completamente isso.

Tal como acontece com as outras personagens, o Eduardo fica completamente sozinho e tem de voltar a conquistar a confiança daqueles que já eram a família dele. Acho que nos põe em lugares completamente diferentes. A entrada dessa gente toda maravilhosa - a Paolla Oliveira, o Caio Blat, o José Raposo - vem mexer um bocadinho com esta energia que existia num grupo fechado, em que agora está cada um por si. Por isso, acho que a segunda temporada, e a terceira também, é o culminar deste amadurecimento das personagens e de estarem em sítios novos  que nunca tinham estado. 

Notícias ao Minuto José Condessa © Netflix  

Nesta segunda temporada nota-se no Eduardo, enquanto protagonista, um complexo de herói que nunca se concretiza, em que tudo o que ele faz acaba por correr mal. Acaba por destruir as relações com amigos e a ter de recapitular essas relações. Enquanto ator que trabalha juntamente com os colegas, como foi desenvolver esse lado da personagem?

JC: Foi bom. Este é um Eduardo completamente frágil no início da segunda temporada. A Sílvia ficou para trás, o Rafael supostamente morreu e o Carlinhos virou-lhe as costas porque culpa-o pelo que aconteceu nos EUA.

Então, basicamente, há ali uma desconfiança total daqueles em quem ele acreditava que seriam a sua família e para quem ele criou este plano, que seria indestrutível e que os ia salvar a todos - na América, ricos e felizes.

Apesar disso, continua a ser muito autocentrado. Ele tem o plano dele, Eduardo, ir para a América.

JC: Ele continua a ter esse objetivo. Porque volta e não tem nada e se não tem nada isto é só tipo um trampolim para voltar a ir para os EUA. Acho que ele depois vai encontrando outras prioridades. A sobrevivência é uma delas e por isso vai atrasando o seu plano. Esse perigo iminente e maior do que a primeira temporada faz com que ele vá atrasando esse sonho de voltar a tentar fugir.

E depois também acho que há a necessidade humana de fazer as pazes. Acho que ele também não iria para os EUA se não estivesse tudo bem com os amigos. Claro que depois, com todos os elementos do grupo juntos, há outras prioridades que vão aparecendo na vida dele que, se calhar, não aparece só a América e, se calhar, começa a dar valor a outras coisas.

Depois da primeira temporada se ter falado muito nos EUA enquanto ponto de imigração dos açorianos, Florianópolis [no Brasil] também passa a ser um elemento importante na história, enquanto destino de imigração para muitas pessoas dos Açores. Em que ponto do desenvolvimento da segunda temporada é que decidiram abordar este assunto?

AF: Os Açores continuam a ser o ADN da série, que tem este lado todo americano na primeira temporada. Na segunda temporada, quando decidimos trazer antagonistas mais perigosos que os italianos, a ideia foi sempre a América do Sul. Ou seja, alguém enviou a droga para a Europa, mas essas pessoas não foram pagas ou não foram completamente pagas.

Portanto, alguém ficou a ‘arder’ na América do Sul. A história real tem um barco que vem da Venezuela. Isso era o que nós sabíamos da história verdadeira, com o italiano. Mas pareceu-nos muito mais interessante ir buscar as raízes açorianas, ou seja, que a pessoa desse grupo que vinha aos Açores recuperar aquilo que era deles e que tinha sido perdido tivesse outros motivo para se deslocar.

E daí veio a história de Florianópolis, a história da imigração açoriana no sul do Brasil e a influência açoriana. E, portanto, a Ofélia - interpretada pela nossa Paolla Oliveira - vem aos Açores por causa da droga, mas tem outras razões para o fazer...

Notícias ao Minuto José Condessa © X / NetflixPT  

Mas sempre foi planeado assim? Em que ponto do desenvolvimento da segunda temporada é que decidiram que iam nessa direção?

AF: Eu lembro-me do dia em que o Hugo Gonçalves, um dos escritores da série, chegou à sala de escritores e disse: “Ofélia!”. E perguntámos, “Quem é Ofélia?”. Ao que ele respondeu, “Ofélia, brasileira de Florianópolis”.

Obviamente, sou açoriano, conheço bem a história em relação com o sul do Brasil, e meio que fez-se luz para todos. Chegámos a desenvolver personagens italianas, queríamos que fosse uma mulher porque parecia-nos interessante esse papel na relação com a Sílvia, que tinha ganho mais protagonismo. Parecia-nos interessante que de alguma forma fosse uma mentora da Sílvia, que era obrigada a escolher entre os amigos e o benefício próprio. 

Pareceu-nos bem que fosse uma mulher. Chegou a estar em hipótese a Colômbia - seguindo um bocadinho o que seria habitual - e daí veio o Hugo [Gonçalves] um dia e disse que Ofélia seria de Florianópolis

E quanto à terceira temporada? Vai ser o final?

AF: Não sabemos se vai ser o final. Nós não podemos falar muito sobre a terceira temporada. Mas foi um milagre, de alguma forma, haver uma segunda temporada e um milagre ainda maior ver uma terceira temporada.

Para nós, como criadores e atores desta série, é um orgulho enorme e devemos todos estar orgulhosos em Portugal de ter essa sorte. Nós não sabemos quando é que vai estrear a terceira temporada.

Mas está gravada?

AF: Está gravada. Sabemos que é uma mudança grande face à segunda temporada, mas é fundamental a segunda para que exista uma terceira, se não não tem sentido.

Leia Também: Netflix lança documentário sobre a "surreal história" de 'Rabo de Peixe'

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