Jovens criam 'personas' digitais para expressar identidade e evitar pressão

O receio da pressão constante das redes sociais levou Francisca, Diogo e Maria, três jovens 'influencers', a criarem personagens digitais como forma de proteção e expressão, mantendo a distância entre a vida pessoal e o 'online'.

redes sociais, jovens

© Getty Images

Lusa
09/08/2025 13:09 ‧ há 8 horas por Lusa

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REPORTAGEM

Nas redes sociais, Francisca Cabral apresenta-se como Maria Morango, uma personagem imaginária que nasceu durante a pandemia de Covid-19 e que conta com cerca de 26.000 seguidores entre o Instagram e o TikTok.

 

A jovem estudou produção artística e conta que a personagem "nasce dos estudos e do interesse pela direção criativa, história da arte e estética", pelo que produz conteúdo sobre temas culturais, procurando descobrir novos artistas musicais, curiosidades sobre músicas, bem como a programação de festivais.

Perante a necessidade de estar constantemente atualizada sobre o assunto, Francisca Cabral procura ter uma relação de entreajuda com os seguidores que fazem sugestões e críticas.

Apesar disso, a jovem garante que Maria Morango "não é moldada pelas pessoas": "A Maria Morango foi criada pela minha cabeça, é uma miúda que não tem medos".

"A Maria Morango pode ser um bocadinho mais pintada de 'glitter', com mais cor, mas a pessoa que está no digital é muito a minha parte", afirma Francisca, salientando que a produção de conteúdo artístico é positiva para a sua saúde mental.

"Eu não vivo as redes sociais de forma intensa, eu publico as minhas coisas, mas desligo para tentar criar o máximo que consigo fora. Vejo as redes sociais como se fossem um escritório", refere a influenciadora.

A jovem considera que a personagem Maria Morango é uma hipérbole dela própria porque "tem mais lata e a Francisca acaba por ser um bocadinho mais reservada", sendo "elétrica, irreverente e metódica" as palavras que escolhe para descrever a sua 'persona' digital.

Saint Baig é a forma como Diogo Ilyas Baig marca presença no Instagram e no TikTok, onde a sua personagem alcança mais de 60.000 seguidores em ambas as redes.

Com uma presença 'online' contínua apenas há três meses, o jovem afirma que nunca olhou para o mundo digital de forma realmente séria, confessando ter mesmo algum preconceito face a redes sociais.

Diogo Ilyas Baig explica que como no Instagram alguns dos seus seguidores faziam parte do seu circuito social havia "algum constrangimento associado ao facto de saber que aquelas pessoas" o conheciam na vida real e iam ver o seu tipo de conteúdo. "Não por vergonha do que faço, mas numa tentativa de controlar a perceção que elas tinham a meu respeito", conta.

Apesar da excentricidade que aparenta, a sua 'persona' é "altamente controlada", refere o jovem, dizendo que isso ajudou a "mudar o chip" sobre as redes.

"[Sain Baig] é uma versão hiperbolizada da minha pessoa, é um alter ego [personalidade alternativa adotada por uma pessoa]", conta o influenciador digital, acrescentando: "Permite dizer aquilo que provavelmente não diria numa situação social e explorar certas intimidades e pensamentos".

As palavras "excêntrica, elegante e culta" foram as que escolheu para descrever a sua 'persona' digital.

Maria Petronilho é locutora da rádio Mega Hits e assume o seu nome nas redes sociais, usando-as como forma de divulgar o seu trabalho, pois "hoje o digital é um trabalho".

A influenciadora soma cerca de 25.000 seguidores entre o Instagram e o TikTok e, embora utilize as redes sociais como uma ferramenta profissional, tem trabalhado na partilha de conteúdo mais pessoal, mas sempre com o pensamento de que "uma vez na internet, para sempre na internet".

"No digital às vezes estou mais em baixo e publico conteúdo num restaurante e parece que está tudo bem e as coisas não funcionam assim", por isso "ainda existe diferença entre passar o que estamos a sentir verdadeiramente e o que está a acontecer nas redes", reflete.

Para a jovem, em causa está "uma certa proteção": "Estamos cada vez mais vulneráveis à opinião das outras pessoas, especialmente nas redes sociais, e para se ter esse filtro zero tem de se estar preparado para qualquer opinião", justifica.

Maria Petronilho refere ter "a preocupação de não usar as redes sociais à 'balda', porque muitas pessoas moldam-se através do que veem 'online'", daí também transmitir que "às vezes as coisas não são fáceis".

"Não é sair da minha zona de conforto, mas estar confortável em transmitir o tipo de pessoa que eu sou", garante a jovem, acrescentando que no TikTok tem uma maior abertura para produzir conteúdo mais pessoal, enquanto no Instagram ainda está a fazer esse caminho.

Embora admita sentir alguma pressão para produzir conteúdo 'online', a influenciadora confessa querer "continuar a ter os pés muito assentes na terra", mesmo depois de assumir o papel de apresentadora digital do programa televisivo 'The Voice Portugal'.

"Natural, profissional e divertida", são as palavras escolhidas pela jovem para descrever a forma como se apresenta virtualmente.

Apesar de estilos e abordagens distintas, Francisca, Diogo e Maria partilham a consciência de que a presença nas redes sociais exige um equilíbrio entre expressão pessoal e proteção emocional, recorrendo a personagens, filtros ou estratégias criativas como forma de comunicar com o público sem perder a noção de quem são fora do digital.

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