Inteligência Artificial (IA), câmaras térmicas e 'drones' (aeronaves não-tripuladas) são alguns dos instrumentos ao dispor dos responsáveis sauditas para manter a segurança de 1,5 milhões de peregrinos que se dirigem para a cidade para cumprir o 'Hajj', celebrado entre hoje à noite e 09 de junho e obrigatório para os muçulmanos pelo menos uma vez na vida, desde que para tal tenham saúde e recursos económicos.
A sala de controlo nunca está vazia: dia e noite, as equipas revezam-se na monitorização de mapas, ecrãs e fluxos de dados, apoiando-se na IA para processar as imagens de cerca de 15.000 câmaras espalhadas pela cidade sagrada de Meca e arredores, utilizando programas especialmente concebidos para detetar anomalias nos movimentos das multidões ou antecipar pontos de estrangulamento nos acessos.
Esta tecnologia de ponta permite também seguir os mais de 20.000 autocarros que transportam os peregrinos entre os vários locais sagrados.
Trata-se de apenas um dos elos do arsenal tecnológico utilizado pela Arábia Saudita para a vigilância permanente de uma das maiores peregrinações do mundo.
Segundo o diretor-geral da Autoridade dos Transportes da Comissão Real para Meca, Mohamed Nazier, o objetivo é sobretudo evitar acidentes entre peões e veículos, tornar os percursos mais fluidos e poupar os fiéis a longas caminhadas sob o sol escaldante, depois de 1.300 fiéis terem morrido devido ao calor em 2024, de acordo com dados oficiais.
No pico do 'Hajj', cerca de 17.000 autocarros estarão a viajar para os locais sagrados ao mesmo tempo, acrescentou.
A gestão de multidões já antes se revelou perigosa, em particular em 2015, quando um tumulto desencadeou um movimento de pânico que provocou a morte de cerca de 2.300 pessoas.
A IA permite "detetar situações de emergência mesmo antes de elas ocorrerem", afirmou o responsável pelo 'Hajj' e pela 'Omra' (uma peregrinação menor, que pode ser feita em qualquer altura do ano, ao contrário do 'Hajj') na Autoridade dos Transportes, Mohammed al-Qarni, acrescentando que também permite calcular o número de pessoas presentes num determinado local.
Para detetar peregrinos não-registados, as autoridades sauditas colocaram uma nova frota de 'drones' a vigiar as entradas de Meca.
"Estas tecnologias são extremamente úteis, permitindo que as forças de segurança identifiquem os infratores através de um centro de operações", indicou o diretor-geral da Segurança Pública, tenente-general Mohammed al-Bassami, numa conferência de imprensa sobre a segurança do 'Hajj'.
As Forças Especiais Sauditas para a Segurança Rodoviária divulgaram esta semana um vídeo das suas operações de vigilância, explicando que as suas equipas "utilizam câmaras térmicas inteligentes para vigiar o perímetro exterior de Meca e os locais sagrados".
Embora o 'Hajj' deva ser realizado pelo menos uma vez na vida por qualquer muçulmano, as licenças oficiais são atribuídas aos países de acordo com um sistema de quotas e depois distribuídas por sorteio.
Mesmo para os que conseguem obtê-las, o elevado custo do precioso documento de acesso leva alguns a optar por uma rota ilegal, que é muito mais barata mas também mais arriscada.
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