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Um ano de Musk no Twitter. "Uma rebaldaria" que "matou espírito da rede"

Falamos com dois utilizadores do Twitter que usam a plataforma não só com intuito profissional, mas também para se manterem em contacto com as respetivas comunidades. Pedro Vieira e Joana Rita Sousa contaram ao Notícias ao Minuto como veem a liderança de Elon Musk e que perspetiva têm para o futuro da rede social.

Um ano de Musk no Twitter. "Uma rebaldaria" que "matou espírito da rede"
Notícias ao Minuto

09:55 - 18/04/23 por Miguel Dias

Tech Twitter

Foi há cerca de um ano, no dia 14 de abril de 2022, que Elon Musk deu o passo mais significativo rumo à compra do Twitter. O empresário, conhecido até aqui como um dos utilizadores mais ativos da rede social, completou no final do ano passado a aquisição da plataforma e, naturalmente, as mudanças não se fizeram esperar.

Desde então as notícias sobre a liderança de Elon Musk no Twitter têm sido praticamente diárias. Um foco muito maior na subscrição Blue e na rentabilidade da empresa têm sido acompanhados por polémicas quase diárias, com os despedimentos em massa a ainda serem motivo de ‘dor de cabeça’ para Musk. O empresário tem até recebido avisos das entidades reguladoras, que reforçam a necessidade de não esquecer a importância de moderar o conteúdo da plataforma.

É neste ponto que é importante olhar para um dos elementos mais importantes da rede social: os utilizadores. Como será que o Twitter mudou ao longo do último ano? Será que as mudanças já impactaram os ‘feeds’ e a forma como os utilizadores interagem entre si?

Foi para perceber como a experiência do Twitter mudou nos últimos meses que falámos com Pedro Vieira, diretor de marketing, e Joana Rita Sousa, filósofa e estratega digital.

Algumas pessoas deixaram o Twitter: reduzindo a intensidade de presença ou abandonando a rede. Como as redes sociais são feitas de pessoas, considero que a grande diferença é a ausência de quem estava por aqui a acrescentar valor

Questionada sobre quando estas mudanças começaram a ser sentidas, Joana Rita Sousa afirma que “notaram-se antes da tomada de posse oficial” com rumores recorrentes que levou “parte da comunidade em Portugal a avaliar manter ou não presença” no Twitter.

“Algumas pessoas deixaram o Twitter: reduzindo a intensidade de presença ou abandonando a rede. Como as redes sociais são feitas de pessoas, considero que a grande diferença é a ausência de quem estava por aqui a acrescentar valor”, explica Joana.

Já Pedro Vieira, sente que a liderança de Elon Musk trouxe um maior foco no aumento da receita e direcionado para “funcionalidades monetizáveis”. “O Twitter sempre foi uma rede social muito focada em comunidades e nos utilizadores, mas neste momento sente-se que é mais uma máquina de fazer dinheiro do que outra coisa - o que ‘mata’ um pouco o espírito ‘rebelde’ do Twitter”, nota Pedro.

Já silenciei o Elon Musk e continuo a ver coisas dele. O meu ‘feed’ está inundado de coisas que não quero ver, por mais que eu diga que essas coisas não me interessam

Uma questão de expectativas

Antes de tomar controlo do Twitter, Elon Musk já era sobejamente conhecido enquanto líder da Tesla e da SpaceX. O facto de estar presente em áreas como os carros elétricos e o desenvolvimento de foguetões reutilizáveis fez com que Musk fosse encarado como um empresário com capacidade de inovação, resultando numa expetativa positiva para a liderança do Twitter.

É para isso que aponta Pedro Vieira quando questionado sobre as expetativas que tinha para a gestão de Elon Musk, acrescentando ainda que o empresário era um ávido utilizador do Twitter e podia ter uma abordagem construtiva para a plataforma.

“Neste momento parece que está um pouco uma rebaldaria. Desde as interações com ex-funcionários, despedimentos em massa, os pagamentos por fazer… A imagem pública que há do Elon Musk desde então piorou, assim como o serviço. Acho que as duas coisas estão relacionadas”, nota Pedro.

Sobre o estado atual do Twitter, o diretor de marketing não tem dúvidas de que a plataforma está “muito pior” do que há um ano, notando que não tem “controlo nenhum em relação ao ‘feed’” e que está inundado de “‘crypto bros, pessoas da ‘alt right’ e coisas e que não estão minimamente ligadas aos temas” de que costuma falar. “Já silenciei o Elon Musk e continuo a ver coisas dele. O meu ‘feed’ está inundado de coisas que não quero ver, por mais que eu diga que essas coisas não me interessam”, notou.

No caso de Joana Rita Sousa, a filósofa considera que, de facto, “o Twitter está diferente enquanto plataforma” e que “houve alterações em certas funcionalidades que alteraram a experiência”. No entanto, acrescenta que “o saldo ainda é positivo” e que a plataforma “continua a ser o melhor sítio para estar a par daquilo que acontece no mundo”.

Que futuro para o Twitter?

Elon Musk tem sido claro no seu objetivo para o Twitter, afirmando que quer transformar a plataforma numa “aplicação para tudo”. O empresário é bem conhecido pelas suas grandes ambições (e também por nem sempre estar à altura de as cumprir), o que torna a evolução do Twitter uma perspetiva especialmente interessante para a maioria dos aficionados por tecnologia.

Todavia, nem todos têm esta perspetiva. “Não sei como será o futuro do Twitter e não invisto energia a pensar nisso”, afirma Joana Rita Sousa, notando que prefere trabalhar “com o que a rede social tem para oferecer no presente e contribuir para a comunidade que se mantém”.

A filósofa e estratega digital reconhece que “no limite, [o Twitter] é só uma rede social” e que é mais importante cuidar “da presença no digital e da rede de contactos”.

Quando o Elon Musk fala neste tipo de transformação, surge-me logo na cabeça o WeChat na China

Já Pedro tem uma visão diferente e, ainda que reconheça a “vantagem gigante” do Twitter em “não ter um concorrente direto”, reconhece também que o objetivo de Elon Musk poderá passar por transformar a rede social numa rival da plataforma chinesa WeChat.

“Quando o Elon Musk fala neste tipo de transformação, surge-me logo na cabeça o WeChat na China - onde podes ir à Internet, fazer pagamentos, enviar e receber dinheiro. É tipo um ‘all in one’”, aponta Pedro. “Se ele quiser transformar o Twitter no WeChat pode ser uma coisa muito boa”.

Porém, o diretor de marketing parece algo cauteloso em relação à capacidade de Elon Musk em operar estas mudanças, notando que o Twitter ainda tem de resolver as constantes “quebras de serviço, funcionalidades mal feitas e erros de utilizador”.

As redes sociais são como os cafés: se não te sentes bem no café da D. Joaquina, porque mudaram a marca do café e tu não gostas desta, escolhes outro café

Sucessor no horizonte?

Colocando-se a hipótese de uma ‘migração’ para outra rede social, nem Pedro nem Joana têm qualquer tipo de sugestão ou ideia de que plataforma poderia estar bem colocada para substituir o Twitter.

“Não há uma alternativa clara ao Twitter”, reconhece Pedro Vieira. O diretor de marketing coloca de parte a hipótese de o Mastodon se tornar um substituto Twitter, notando que é uma rede social cujas características não a tornam uma alternativa viável. “Neste momento, não tenho uma plataforma que pode substituir a rede social. O que me entristece muito e me preocupa porque tenho uma comunidade muito própria que criei no Twitter, de pessoas com que falo, e não vejo como possa prosseguir a conversa”, explica.

Joana Rita Sousa também reconhece que neste momento não há uma alternativa viável a substituir o Twitter, mas parece não estar preocupada com essa questão e acredita que eventualmente surgirá algo novo capaz de acolher os utilizadores.

“As redes sociais são como os cafés: se não te sentes bem no café da D. Joaquina, porque mudaram a marca do café e tu não gostas desta, escolhes outro café”, explica Joana. “Se souberes bem o que procuras nas redes e o que tens para dar nas redes, podes fazê-lo em qualquer uma delas. Terás de conhecer bem a plataforma e ajustar-te a ela, claro”.

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