Redes sociais criam sensação ilusória de respeito pelo ambiente
A informação divulgada através das redes sociais promove uma sensação de respeito pelo ambiente que é ilusória, uma forma sofisticada de dissimular a satisfação pessoal e tranquilizar a consciência, defendeu hoje o psicólogo Ricardo Trujillo.
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Na opinião do académico da Faculdade de Psicologia da Universidade Nacional Autónoma do México, as ideias bem-intencionadas sobre um consumo responsável patentes nas redes sociais "são na realidade um simulacro", um ato efémero para aliviar a consciência numa sociedade baseada num modelo económico que impede qualquer possibilidade de mudança.
"A sociedade capitalista continua a ter externalidades e nós podemos reciclar, trocar, melhorar, mas o sistema de contaminação não só está baseado no que se produz nas habitações, mas também na indústria", salientou, em declarações à agência EFE.
O especialista acrescentou que, embora se façam ações como o consumo de produtos ecológicos, a compra de embalagens biodegradáveis ou publicar uma fotografia de uma espécie em vias de extinção, no final há um incentivo ao consumo, seja responsável ou não, e é disso que se alimenta a sociedade baseada no capital.
Para reforçar o seu argumento, Ricardo Trujillo realçou que o dispositivo através do qual é transmitida esta informação - o telemóvel - gera "uma quantidade de contaminantes enorme".
Evitar realmente a sobre-exploração da natureza implicaria "desestruturar todo esse sistema capitalista industrializado que está à volta e, provavelmente, a sociedade não estaria de acordo".
"Há que clarificar que a ciência não está definida para criar uma sociedade melhor, está definida para criar um sistema de produção e um maior consumo", garantiu, realçando que muitas das investigações subsidiadas são aprovadas e têm uma finalidade comercial.
Quanto ao vínculo psicológico entre o ser humano e a natureza, o psicólogo disse que a natureza é vista como uma espécie de "mãe perdida" da qual se sente falta e à qual se trata bem de vez em quando para afastar a culpa.
"É uma espécie de saudade, de nostalgia pelo lugar onde nos sentimos equilibrados, já que vivemos numa sociedade oposta, com tecnologia, carros, contaminação e, por isso, sonhamos com o regresso a essa natureza", defendeu Ricardo Trujillo.
Acrescentou que isso explicaria porque as pessoas, "quando têm recursos económicos suficientes, compram uma segunda casa onde vão poder tentar estar um pouco mais perto da natureza".
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