"É este um Orçamento que arrepia caminho na insana aventura de replicar a maioria dos erros que nos trouxeram, em 2011, à antecâmara da bancarrota, e que rompa com a estúpida ideia de acreditar na hipótese, de que é possível fazer tudo da mesma maneira, e esperar que, desta vez, seja diferente?", questionou Luís Marques Guedes, na intervenção de encerramento no debate na generalidade do Orçamento do Estado para 2018.
Para o antigo ministro, a resposta à pergunta que formulou é negativa, considerando que o Orçamento para o próximo ano está desenhado "não como um Orçamento do Estado" mas "como um Orçamento de fação", destinado a satisfazer os interesses de grupos que a maioria julga integrar ou poderem vir a integrar a sua base de apoio.
"É um Orçamento muito mais virado para o vosso umbigo, do que a cuidar do futuro do país e das atuais e futuras gerações de portugueses", disse.
Luís Marques Guedes voltou a defender "a necessidade de uma clarificação política", lamentando que o primeiro-ministro não tenha tido "a coragem política" de aceitar o desafio do PSD e apresentar uma moção de confiança na Assembleia da República.
"Mais uma vez, a sobrevivência política falou mais alto, do que o sentido de Estado e do interesse nacional", criticou.
Marques Guedes considerou que esta clarificação política era necessária "não só por óbvias razões políticas", uma vez que o executivo do PS é minoritário, mas, "acima de tudo, em nome dos valores da decência e da humildade democrática".
"A perversidade dessa opção de fraqueza ficou bem patente nestes dois dias de debate", considerou, dizendo que "na ausência de autoridade política própria" o Governo e maioria optaram "pelo ridículo de voltar a agitar os papões da governação anterior".
O ex-ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares do governo PSD/CDS-PP liderado por Pedro Passos Coelho classificou os dois orçamentos já apresentados por este Governo como "mentirosos" e "desavergonhadas ficções".
"Foram orçamentos em cuja execução o Governo deu uma volta de 180 graus na estratégia proclamada, reverteu objetivos, abandonou prioridades e desistiu de apostas, sem nunca o dar a conhecer, nem ter a frontalidade de reconhecer", acusou, estendendo as críticas às bancadas de BE, PCP e Verdes que disse terem tido uma atitude de "cumplicidade sonsa".
Quanto à atual proposta orçamental, Marques Guedes considerou que não responde como devia à tragédia dos incêndios de Pedrógão - o orçamento foi entregue antes dos incêndios de 15 de outubro - nem aproveita a conjuntura externa favorável para reduzir a despesa estrutural ou fazer reformas.
Sobre a discussão na especialidade, que agora se seguirá, o antigo líder parlamentar do PSD reiterou que o partido não irá entrar num "leilão orçamental", mas apresentará propostas que procuram "corrigir aspetos particularmente gravosos" da proposta e "enunciar medidas e políticas públicas que o país devia estar a prosseguir".
O presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, que já anunciou que não se recandidata ao cargo que ocupa desde 2010 manteve-se em silêncio durante todo o debate na generalidade.
O líder parlamentar social-democrata, Hugo Soares, também não fez qualquer intervenção de fundo ao longo dos dois dias de debate, e apenas hoje pediu a palavra para sucessivos pedidos de interpelação à mesa na sequência da intervenção do ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Vieira da Silva.