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Começou o tic-tac: "Depois das autárquicas, logo se vê", já dizia Marcelo

A menos de um mês das autárquicas, que se realizam no dia 1 de outubro, o que esperar do ato eleitoral que mobiliza mais de três centenas de democracias locais? E que ciclo se abrirá depois destas eleições? Até agora tem reinado a estabilidade política, mas todos se lembrarão do célebre aviso do Presidente da República.

Começou o tic-tac: "Depois das autárquicas, logo se vê", já dizia Marcelo
Notícias ao Minuto

08:00 - 03/09/17 por Melissa Lopes

Política Análise

Falta menos de um mês para as urnas abrirem ao voto dos portugueses. No dia 1 de outubro, decidir-se-á de Norte a Sul o novo mapa político autárquico, redesenhando aquele que vigora desde 2013. Cor de rosa, laranja, vermelho, em menor quantidade, e pequenos laivos de azul. É com estas cores com que se pinta o mapa autárquico do país. E a partir de 1 de outubro, preveem os politólogos Adelino Maltez e António Costa Pinto, a tendência será para ficar tudo na mesma, não sendo de esperar que deste ato eleitoral resultem alterações nos partidos portugueses. As eleições que verdadeiramente importam, as legislativas, acontecem no ano seguinte.

O período de pré campanha destas autárquicas ficou, até agora, marcado por algumas controvérsias que ultrapassaram fronteiras do local e 'tocaram', de alguma forma, os partidos envolvidos. Foi o caso da polémica que envolveu André Ventura, candidato do PSD, ao optar por um discurso considerado racista e xenófobo. Mas existiram outras, como a do concelho de Oeiras, onde o tribunal chegou a rejeitar a candidatura de Isaltino Morais e de uma outra candidata independente. 

O politólogo Adelino Maltez desvaloriza tais celeumas."Não são significativas", aponta, comentando que, nas televisões "vemos a árvore mas não a floresta", muito por culpa da cobertura noticiosa que é feita. No caso de André Ventura, em Loures, a polémica teve impacto "porque havia quem tivesse interesse" em acusar o PSD de ter um discurso racista e xenófobo e Passos Coelho "correspondeu". "Havia uma agenda política", ajuíza. De todo o modo, de um modo global, não espera, com lamento, mudanças resultantes desta eleição, apenas o regresso de alguns ‘dinossauros’ e o aumento dos "falsos independentes", candidatos que se afirmam independentes mas que, na realidade, são dissidentes de partidos. 

“É um ambiente de alguma decadência aquele que se vive”, aponta, sublinhando que Portugal é um “país estacionário”, onde “não há experimentações políticas”, onde “não há Macrons disponíveis” e onde os principais dois partidos, PS e PSD, “controlam o país há já 40 anos”. “O sistema atual não tem medo porque não não tem ameaças, utiliza a rotina como defesa”, lamenta. Quanto à campanha eleitoral propriamente dita, o politólogo nota apenas que são debates que se fazem muito a nível local e que interessam apenas em quem vota naquela autarquia. De acordo com as sondagens, Maltez afirma “sem grande risco” que o PS não vai sair derrotado, que o PSD não vai sair vencedor, que o PCP vai conservar o voto e que o Bloco de Esquerda vai flutuar, como é hábito.

Ou há escândalo ou fica tudo na mesma?

No mesmo sentido, António Costa Pinto observa que a “tendência para as eleições autárquicas serem cada vez mais locais tem-se acentuado” e “ainda com pouca leitura nacional por parte dos dirigentes políticos, neste caso dos principais partidos, PS e PSD. “Salvo grande 'debacle' de um lado ou de outro, não existirão grandes leituras nacionais com impacto sobre os partidos”, prevê, salvaguardando existirem “algumas interrogações que poderão ter impacto [nos partidos] que é obviamente Lisboa, tendo em vista a natureza dos candidatos e a situação relativamente difícil do PSD”.

Depois, salienta, “há um outro debate local que pode ser ativado politicamente, como é o caso de Oeiras e Isaltino, um ou outro tema em Loures, mas não terão um impacto significativo”. “O debate é muito local”, reforça, referindo-se inclusivamente aos das cidades mais importantes do ponto de vista simbólico, Lisboa e Porto, onde os candidatos não se dirigirão a Costa e a Passos durante a campanha. Disso é prova o debate televisivo que opôs Fernando Medina, Assunção Cristas, Teresa Leal Coelho, João Ferreira e Ricardo Robles... e Madonna

Relativamente às consequências que os resultados terão nas estruturas dos partidos, Costa Pinto salienta que, no caso do PSD, "estas eleições serão vistas internamente como um teste na relação entre Passos Coelho e as concelhias distritais do seu partido, tendo em vista que o líder do PSD já afirmou que estará lá até 2019 e que o teste dele serão as legislativas e que não tirará nenhuma lição de uma derrota desastrosa”. Quanto ao PS, “pelos sinais que temos não haverá uma leitura muito significativa”, apenas a disputa entre qual dos partidos ganha nos três critérios: número de presidências de câmara, número de votos, ou número de vereadores, que às vezes costuma ser esgrimido pelos partidos”. Muito embora António Costa vá aproveitar para fazer uma leitura nacional, se o PS tiver um bom resultado, “na verdade não tem grande leitura nacional”.

Para o politólogo, os resultados só têm grandes consequências internas “se o desastre for grande” ou, por consequência, “a vitória for grande”. “Se se mantiver dentro da ‘margem de erro’, não têm consequências”, vinca, lembrando, contudo, que há sempre leituras internas. Em suma, daquilo que Costa Pinto observa, “se estas autárquicas não forem contaminadas por um acontecimento que não estamos a ter ou a ver agora, com factores conjunturais, como por exemplo a falência gigantesca de um banco, algum escândalo forte a envolver algum autarca, depois das autárquicas ficará tudo na mesma”.

O politólogo termina recordando uma frase icónica de Marcelo Rebelo de Sousa, em maio do ano passado, em que o Presidente afirmou que não iria provocar nenhuma instabilidade até às autárquicas. “Depois das autárquicas, veremos o que é que se passa”. Portanto, depois das autárquicas abrir-se-á um novo ciclo político. Uma frase que marcou os seus primeiros 100 dias como Presidente. Como irá Marcelo proceder depois do encerrar deste ciclo de estabilidade é ainda uma incógnita. Sabemos que, pelo menos para esta nova temporada, não teremos de esperar até 2019.  Para já, o país vai a votos no dia 1 e, pelo meio, Governo e partidos de Esquerda discutem o Orçamento do Estado para 2018, que será entregue no dia 13 do mesmo mês. "Depois, veremos o que é que se passa".

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