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"Cristas, que foi ministra da Agricultura, tem de ser responsabilizada"

Candidata do PAN considera que antes de pedir demissões em relação à tragédia de Pedrógão Grande, era necessário encontrar solução para atuar no momento.

"Cristas, que foi ministra da Agricultura, tem de ser responsabilizada"
Notícias ao Minuto

13:41 - 25/07/17 por Andrea Pinto

Política Inês Sousa Real

Na segunda parte da entrevista ao Vozes ao Minuto, Inês Sousa Real, candidata do PAN à Câmara de Lisboa, explica o porquê de ter renunciado ao cargo de provedora e dá a conhecer algumas das medidas que pretende implementar na cidade de modo a torná-la mais verde e mais amiga dos animais.

Adicionalmente, faz uma análise à situação das florestas portuguesas e, recordando a tragédia de Pedrógão Grande, defende que foi muito fácil pedir a demissão da ministra da Administração Interna, mas que muitos se esqueceram que este é o resultado de consecutivos erros dos governos anteriores, incluindo da agora sua adversária Assunção Cristas.

Renunciou ao cargo de Provedora dos Animais em abril, alegando falta de condições. O que faltava para poder exercer este cargo?

Os meios humanos e materiais para que a função fosse exercida. Na altura tive a oportunidade de referir que havia falta de meios humanos, porque é um cargo gratuito, sem qualquer remuneração que compaginava com a minha vida profissional e acabei por ter dois trabalhos a tempo inteiro, com todo o penhoramento da vida pessoal que isso trazia. Foram pedidos mais recursos humanos para o gabinete do ponto de vista jurídico porque havia muitas queixas que davam entrada no gabinete e que obviamente exigiam uma apreciação técnica mais detalhada, mais especializada. Isso não aconteceu. Felizmente, vejo que apesar de tarde, a autarquia veio dar reposta aos pedidos que foram feitos e recentemente alterou as regras do provedor para passar ser um cargo remunerado. E fico satisfeita que o meu alerta e exemplo tenha servido para melhorar a função do provedor porque não nos podemos esquecer que estamos perante uma figura histórica e de elevada confiança dos cidadãos e que não se compadece com a falta de meios ou a falta de autonomia do próprio gabinete. O provedor não pode estar colado politicamente, não pode de forma nenhuma estar desautorizado dentro da estrutura que o criou, e essas foram as dificultadas sentidas e que foram apontadas e felizmente colmatadas. Só lamento que tenha sido tão tarde.

O EcoParque iria ter hortas urbanas para desenvolvermos localmente aquela comunidade. E  foi pensado para ser na Alta de LisboaApostar neste cargo será também uma das preocupações do PAN, em Lisboa?

Claro que sim. O provedor deve ter condições para trabalhar mas como tive a oportunidade de dizer a cidade precisa de provedores mas precisa acima de tudo de executivos que façam acontecer. Se o executivo for bom menos trabalho terá o provedor. E é isso que esperamos no fundo. Obviamente que o alcance que a função tomou implica que se continue a apostar nesta figura precisamente porque hoje em dia é preciso não só para as reclamações contra o executivo a intervenção do provedor mas também para inúmeras outras situações como o parecer junto à Assembleia da República face à nova legislação, no fundo para sensibilizar a população para os direitos dos animais. Havendo este alcance que a figura tomou é necessário que lhe sejam dados mais meios. Já tive a oportunidade de falar com a Dr. Marisa Quaresma dos Reis [atual provedora] porque já nos conhecíamos e para lhe desejar sorte para o cargo e de me colocar à disposição para contar com o nosso apoio para o que fosse necessário para que a função tenha a dignidade que merece e que é necessária para atuar autonomamente.

Falou na criação de um EcoParque na cidade com um santuário animal e na criação de um hospital veterinário público. Quer explicar um pouco mais estas ideias?

No caso do EcoParque é uma medida que visa integrar várias políticas, desde logo a componente social. O EcoParque iria ter hortas urbanas no seu espaço para desenvolvermos localmente aquela comunidade. Este foi pensado para ser na Alta de Lisboa e visava colmatar um desenvolvimento na área e permitir que os produtos que fossem ali produzidos fossem consumidos pelos próprios ou vendidos numa rede para escoar os produtos das hortas urbanas. Para além desta componente, e uma vez que também está em falta na cidade termos onde acolher animais de grande porte, como os equídeos que vemos a deambular nas rotundas da Ameixoeira e dos Olivais, pensámos em criar um lugar onde pudessem ser acolhidos e permitir à população que cuidasse destes animais e haver aqui um envolvimento social muito forte em que o excesso de produtos produzidos na cidade fosse para estes animais, ao mesmo tempo que as escolas pudessem visitar o local, aprender as melhores práticas de agricultura, da biodiversidade, do respeito pelos produtos biológicos. Ou seja, ter uma componente pedagógica muito forte.

Para além deste EcoParque, que permitiria ter uma verdadeira zona verde na cidade que não comprometesse os demais eixos da biodiversidade, temos o hospital veterinário público também pensado e que não era necessariamente na zona do EcoParque. Este foi pensado nas pessoas que estão em situação de carência ou de vulnerabilidade socio-económica, porque temos consciência que temos população em que os animais são muitas vezes a sua única companhia e que não têm meios para si próprios para levar os animais ao veterinário e precisam que o município os ajude a colmatar essa necessidade. Há também pessoas desempregadas, que precisam de dar uma resposta aos seus animais de companhia e temos de pensar na ascensão do ponto de vista jurídico dos animais e temos que dar resposta a estas necessidades. Não podemos ter animais a sofrer por falta de cuidados médico-veterinários por incapacidade financeira da suas pessoas. Tem de haver uma política social muito forte neste aspeto. É uma visão mais integradora porque as políticas estão todas interligadas entre si.

Há muita gente que abandona os animais porque já não consegue gerir a sua vida familiar e a inclusão de um animal na unidade familiarE qual será a política para reduzir ou até eliminar o abandono de animais na cidade?

Desde logo a questão da identificação, que é fundamental, para combater o abandono. Mas vejamos que termos uma política que permite tratar dos animais e da saúde animal na cidade é também uma forma de combater o abandono, porque se estivermos mais próximos das pessoas e soubermos das suas reais necessidades teremos menos animais negligenciados e abandonados. Porque, apesar de não deixar de censurável, há muita gente que abandona os animais porque já não consegue gerir a sua vida familiar e a inclusão de um animal na unidade familiar. Tem de haver de facto este capital para evitar o abandono. Há também as campanhas de esterilização passivas porque não vamos combater a sobrepopulação enquanto não houver um controlo da venda dos animais na cidade. Vamos combater este flagelo. Isto são competências municipais que nos são atribuídas pela recente sobrepopulação e o município vai ter que estar à altura deste desafio.

Mudando de tema, O PAN apresentou três iniciativas legislativas que pretendem garantir apoio psicológico aos habitantes da região de Pedrógão Grande. Estando atenta à atualidade nacional, acha que o que está a ser feito pelas vítimas da tragédia não é suficiente?

O que nos tem chegado é que ainda há muito a fazer. Nunca lidámos com uma tragédia desta dimensão pelo que , não quer dizer que seja normal o que está acontecer e que não haja uma resposta, mas quando existe uma tragédia desta dimensão é sempre difícil saber como reagir e o que fazer. De qualquer das formas não é normal esta delonga na resposta às pessoas que neste momento estão localmente isoladas. Estamos a ter outros focos de incêndio que também carecem da nossa preocupação e de serem combatidos e não é normal que não saibamos o que fazer e que não tenhamos já uma estratégia definida. Compreendo que, perante a dimensão da tragédia que nos assolou, que é muito difícil reagir porque não estamos preparados e não há uma cultura de segurança no nosso país que nos permita prevenir os incêndios e até outros fenómenos. E é isso agora que tem de ser feito para saber como é que vamos dar resposta às populações até do ponto de vista social porque as pessoas vão ter que reconstruir as suas vidas, as suas perdas. Nós tivemos inclusivamente amigos nós perdidos, que perderam familiares. Temos que saber dar uma resposta do ponto de vista pessoal e psicológico a estas pessoas.

Mas o problema de fundo aqui, e o mais preocupante, é a nossa gestão da floresta e a nossa organização do ordenamento florestal. Tem de haver uma perspetiva muito séria sobre tudo o que aconteceu. Temos de ter florestas que sejam mais sustentáveis, que sejam mais resistentes aos incêndios, e temos de ter uma cultura de prevenção e segurança quer no domínio dos incêndios, como tudo o resto nomeadamente o boom turístico de Lisboa . Tem de haver uma cultura que não existe atualmente que é prevenir ao invés de termos que correr atrás para reagir e atuar.

O problema das florestas arrasta-se já há largos anos, inclusive, durante a gestão de Assunção CristasConsiderando que houve erros, acha que os responsáveis deveriam ser responsabilizados?

Temos que saber primeiro exatamente que erros é que aconteceram e o que pode ser colmatado e sé depois é que poderemos reagir. O que é que efetivamente falho? Obviamente que todos nós nos devemos sentir responsabilizados enquanto políticos pelos atos que cometemos mas neste caso em concreto, acima de tudo, é preciso atuar. E acho que nesse aspeto, e até falo diretamente da nossa ministra, que foi bastante criticada, era fácil exigirmos uma demissão quando houve sucessivos governos que apoiaram as políticas sobretudo de ordenamento florestal ou do eucalipto. Era fácil culparmos quem chega no final da linha e pedir que se demita, mas isso não permite atuar no momento. Não gostei de ver esta atitude porque foi dada uma resposta, ainda que foi insuficiente. Era muito fácil pedir a demissão e não resolver o problema na primeira linha. Agora que está a ser feito o trabalho é necessário apurar as consequências, devemos isso a toda a gente, do ponto de vista político. E não é só deste executivo mas dos sucessivos executivos, inclusivamente Assunção Cristas que foi ministra da Agricultura e que tem de ser responsabilizada nesta matéria e esta crítica, lamento, mas terei que a fazer, porque obviamente toda a questão florestal foi tida no exercício das suas funções. Portanto, não é atirarmos o foco para quem está em funções mas também para quem lhe antecedeu.

Assunção Cristas foi, aliás, uma das vozes mais ativas a pedir a demissão dos responsáveis. Acha que foi uma forma de tentar ocultar o papel que teve nesse aspeto?

Eu não sei qual seria o objetivo nem irei comentá-lo mas seja como for, como antiga ministra da Agricultura tem um papel e uma responsabilidade e ela própria terá que fazer essa reflexão para ver o que durante o exercício do seu mandato falhou, porque efetivamente esta política é uma política de médio-longo prazo. O problema das nossas florestas é um problema que se arrasta já há largos anos, inclusive, durante a sua gestão.

A solução para as florestas portuguesas é algo no qual o PAN pode ter um papel preponderante para ajudar a encontrar uma reposta para este problema que todos os verões assola o país?

Claro que sim. E daí a nossa preocupação em tomar várias iniciativas que visam, não só a gestão do ordenamento florestal, mesmo junto às zonas das estradas, o apoio às vitimas… A nossa perspetiva é sempre a de ajudar e mostrar a nossa visão para melhorar seja em que aspeto for em relação às florestas ou qualquer outra política. Estamos disponíveis como sempre estivemos para colaborar. É essa o nosso papel e os valores que decidimos e que vamos continuar a defender.

*Pode ler a primeira parte desta entrevista aqui

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