PCP num "governo de esquerda" é uma ideia "possível e viável"
A participação do PCP num "governo de esquerda" é uma ideia "possível e viável", segundo militantes que assistem ao XX Congresso dos comunistas, em Almada, apesar de "alguns preconceitos" que afirmam ser necessário ultrapassar.
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Política Congresso
"Se foi possível chegar aqui, será possível chegar mais longe", considerou, em declarações à agência Lusa, Amélia Pardal, militante que assiste ao Congresso nas bancadas dos convidados, no Complexo Municipal dos Desportos "Cidade de Almada".
Para já, a decisão da direção comunista de viabilizar o governo minoritário do PS, na sequência das legislativas, merece avaliação positiva por parte desta militante, que destacou a "reposição salarial" como uma das principais medidas que já fizeram "valer a pena" a "posição conjunta" entre PS e PCP.
Num futuro "governo de esquerda", o PCP "terá de participar e ter poder para decidir sobre os conteúdos concretos para melhorar a vida das pessoas".
Amélia Pardal admitiu que, num partido com mais de 50 mil militantes, "haverá opiniões diversas, quem não concorde" com a ideia de o PCP ir para o governo mas, frisou, havendo um "objetivo fundamental que é melhorar a vida das pessoas", é preciso encontrar "caminhos para que o faça efetivamente".
Clara Grácio, professora universitária, pertence à Associação Povo Alentejano, considera que o PCP fez bem em "tomar a iniciativa" para que o PS formasse governo e a solução adotada não lhe suscita quaisquer dúvidas sobre a identidade ou a política do PCP.
"O PCP nunca foi diferente do que está a ser agora, está a aprovar medidas boas. É positivo, pelo menos parou o descalabro. Claro que eu gostava que o governo fosse mesmo de esquerda mas para isso é preciso talvez que sejam ultrapassados alguns preconceitos", disse.
A atual solução política, disse, pode até "ser uma oportunidade" para as pessoas perceberem no concreto a contribuição do PCP. Por exemplo, disse, o congelamento do aumento das propinas, foi uma medida boa, que pode impedir mais estudantes de abandonarem a universidade por não poderem pagar.
Manuel Costa, 86 anos, é militante comunista desde os 15, vive em Palmela, trabalhou na Cuf do Barreiro como operário metalúrgico, a profissão do secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, que disse ter conhecido pessoalmente antes da revolução de 25 de Abril de 1974, tempos de "vida muito difícil".
A viabilização, pelo PCP, do governo PS não surpreendeu o militante, que considerou que o atual líder do PS, António Costa, "não é parvo e aproveitou a oportunidade que o PCP proporcionou" para voltar ao poder, uma ambição que, disse, os comunistas também não devem perder de vista.
"Não sozinhos, porque não têm condições para isso", mas através de "acordos e convergências" com pessoas e partidos "que sejam democratas".
Aliás, um "governo de esquerda" só será possível com o PCP, disse, confirmando uma tese que está plasmada na Proposta de Resolução Política hoje em discussão no XX Congresso: "A construção da alternativa, que a vida vem confirmando como urgente e inadiável, não se fará apenas com o PCP, mas não será possível sem, ou contra, o PCP".
A Resolução diz também que o PCP "será indispensável a um governo" que dê corpo à "alternativa política" e que "terá de incluir as forças, os setores e personalidades democráticas e ser apoiado pelas organizações e movimentos de massas dos setores sociais antimonopolistas, cuja viabilidade e apoio político e institucional está nas mãos do povo português alcançar com a sua atitude, a sua vontade, a sua luta e o seu voto".
Nas bancadas reservadas aos convidados, Maria Pereira, de Lisboa, trabalha na área sindical e admitiu que muitas pessoas se interrogaram com a opção da direção do partido de viabilizar o governo minoritário do PS, com a qual concorda "em absoluto".
"São dúvidas que vão sendo esclarecidas, no dia a dia. A 'posição conjunta' é o que lá está e nada mais. E não foi o PCP que mudou, foi talvez o PS e quem o lidera agora, que é um pouco mais apto para negociar. O PCP continua a fazer o seu caminho como sempre fez", considerou.
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