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Fernando Rosas afirma que há conflito sobre representações do passado

O historiador Fernando Rosas afirma que "está em curso", nas diferentes sociedades, "uma disputa centrada nos conteúdos das representações do passado, sobretudo do passado recente".

Fernando Rosas afirma que há conflito sobre representações do passado
Notícias ao Minuto

12:27 - 25/08/16 por Lusa

Política Historiador

O historiador de 70 anos faz esta afirmação naquela que foi a sua "última lição", proferida em abril último, na Universidade Nova de Lisboa, e agora publicada em livro pela editora Tinta-da-China, numa edição que inclui uma "nota de apresentação" pela egiptóloga Maria Helena Trindade Lopes, um perfil do catedrático traçado por Luís Trindade, do Birkbeck College, da Universidade de Londres, e ainda um artigo do ex-líder do Bloco de Esquerda Francisco Louçã, "As crises refundadoras e a política de emancipação".

A obra inclui também uma conversa com Fernando Rosas sobre "Fazer a História do Estado Novo", área em que este investigador se especializou, conduzida por Luís Trindade, e a "bibliografia principal" de Rosas, que inclui títulos como "Salazar e o poder. A arte de durar" e "O Estado Novo: 1926-1974", que constitui o 7.º volume da História de Portugal, de José Mattoso.

"História, (des)memória e hegemonia" foi o tema da última lição do professor catedrático do Departamento de História da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova, mas Rosas, na sua alocução adverte que, no seu caso, "esta não é a última lição".

"Desde logo, porque aceitei o convite da Faculdade para continuar a lecionar a cadeira de História dos fascismos na Europa, por mim criada há alguns anos. Depois, porque, como investigador do Instituto de História Contemporânea [desta universidade], como historiador e como cidadão, não tenho qualquer intenção de me reformar", esclarece Fernando Rosas, que cita Teresa Rita Lopes para atestar: "De uma verdadeira missão, nunca ninguém se reforma".

Helena Trindade Lopes, por seu turno, não tem dúvidas e afirma no seu texto que na Universidade Nova, designadamente no departamento de História, o seu nome "estará inscrito e gravado com letras garrafais e palavras eloquentes", de tal forma considera se ter destacado o contributo de Fernando Rosas, que descreve como "brilhante investigador" e "extraordinário comunicador".

Rosas, refere Trindade Lopes, foi o "iniciador" da História do século XX, e refere também a sua participação na vida política, apontando-o como um "político experiente e arguto".

Na sua lição, Fernando Rosas afirma que as "disputas centradas nos conteúdos das representações do passado" são "suscetíveis de fundar ou refundar as legitimidades ideológicas e políticas do presente e do futuro".

"É um combate pela hegemonia ideológica, pela 'conquista das almas' que precedeu, preparou e acompanhou a crise paradigmática ocorrida nos dois mundos do pós-guerra: a crise do capitalismo neokeynesiano, regulador, providencialista, centralista e politicamente rotativo ao centro, cujo modelo foi brutalmente sacudido pela Grande Depressão de 2008/09, e a crise dos modelos soviético e chinês do socialismo real, que desaguou em modalidades específicas de restauração nesses países e no vasto campo político que polarizavam a nível mundial".

Uma transformação, atesta o historiador, que não podia ser feita "sem uma prévia preparação ideológica ao nível das visões dominantes da sociedade e da cultura", nomeadamente através da "imposição de um outro senso comum como suporte socialmente viabilizador do novo curso".

No âmbito da sua "lição", o catedrático debate ainda a "História e o uso público da História", certo de que esta não é "uma 'coisa' em si mesma, jazente inteiriça e passiva sob as poeiras do passado".

Daí, prossegue, "os diferentes tipos de investimento em torno da memória" que "é sempre matéria-prima para arquiteturas de geometria variável, invariavelmente construídas a partir do presente".

Os "usos públicos da História" têm, afirma Rosas, "tantas cores, da direita à esquerda, quanto as conceções que as inspiram".

Reflete ainda Fernando Rosas sobre a "busca de um passado para o presente", e termina falando sobre "Da desmemória à manipulação da memória", e concluiu que "esta inquietação agitação veio para durar, pois as tarefas da História e os usos da memória, por caminhos distintos ou cruzados, são obviamente indissociáveis do tipo de sociedade que queremos como presente como futuro".

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