"Desobedecer a austeridade", é assim que Catarina Martins começa o seu comentário. Bastante assertiva, a líder bloquista explica que acabar com a austeridade "significa proteger os recursos do país, ter capacidade para criar emprego, para pagar salários, para criar condições de vida com dignidade. Nestes quatro anos o país perdeu rendimentos do trabalho e perdeu recursos financeiros com a privatização".
Para Catarina Martins, "o Governo tem tido duas estratégias: por um lado como a realidade não lhe serve mente despudoradamente sobre a realidade. Isto é grave para todo o regime democrático porque ter um primeiro-ministro que mente sobre a realidade descredibiliza a própria democracia. Por outro, segue o lado do medo, dizendo que pode estar sempre aí a desgraça".
Em tom irónico, fala sobre os "fabulosos quatro anos", como tem vindo a caracterizar Pedro Passos Coelho. Mas foram nesses quatro anos que "a cada mês que passou mais de dez mil pessoas emigraram por não terem condições de vida. A dívida pública aumentou um milhão e meio a cada hora que passou".
"A austeridade significa que os filhos vão viver sempre pior que os pais, os netos pior que os avós, países como Portugal servirão como repositório de mão-de-obra barata", acrescenta.
Ainda sobre o atual Governo, a bloquista garante que são peritos em "apresentar trajetórias como se fosse a realidade, usa as palavras do vai acontecer. O discurso do medo a certas alturas tem muita força. Sempre que o discurso do medo ganha força as soluções são piores".
Mas Catarina Martins ainda vai mais longe ao afirmar que este "é um Governo que não tem nada para mostrar e nunca acertou uma única conta".
Já sobre o PS, diz que apesar de não gostarem da austeridade, não a rejeitam. "Estão a propor a descida da TSU, mas depois as pessoas estão a pedir emprestado a si próprias para daqui a 20 anos. A má distribuição dos rendimentos mantém-se e agrava-se ao longo do tempo", refere.
"O Bloco de Esquerda propõe que sejam introduzidos leques salariais, que a diferença dos salários tenha uma baliza. Um leque salarial permite pagar bons salários a todos. As empresas têm-se mostrado completamente incapazes. É preciso derrotar a direita", garante e acrescenta que "é preciso fazer reestruturação da dívida, que é travar a transferência de riqueza para o estrangeiro que nos está a tirar capacidade da nossa economia funcionar. Romper com a austeridade e proteger a riqueza do nosso país para haver emprego".
Comparando a crise da Grécia a Portugal, Catarina Martins é perentória: "O que foi feito à Grécia foi para beneficiar a coligação em Portugal".
Mas numa análise mais profunda aos últimos meses, a líder do Bloco indica que um dos problemas foi a Alemanha, pois "não ficava só contente em expulsar a Grécia do Euro, queria expulsá-la com um programa de austeridade para matar qualquer ideia de alternativa à austeridade".
"O Governo grego partiu para as negociações com a União Europeia achando que estava a partir de boa-fé. Acreditou que a União Europeia ia cumprir os princípios básicos. Mas tudo foi atropelado para matar a ideia de uma alternativa à austeridade. Há uma disfuncionalidade da Zona Euro que premeia a Alemanha. Há uma deriva autoritária perigosíssima na União Europeia", frisa.
Contudo, "Portugal não é a Grécia". Só o é quando se fala na dívida pública porque "gasta mais no serviço da dívida, e temos vindo a ter uma degradação de vida que tem de ser invertida".
"A Grécia fez parte de uma vacina contra a esquerda de todo o mundo. Isto foi dizer que os povos têm de estar submissos à austeridade", termina.