O politólogo José Adelino Maltez foi desafiado pela Rádio Renascença a fazer um exercício invulgar que passa por identificar as ‘cartas-chave’ de um baralho que neste caso é o Orçamento de Estado. Ou seja, a fazer uma analogia entre as cartas mais fortes de um baralho e os ministros que mais influência tiveram na elaboração do documento, que o Governo tem de entregar até amanhã no Parlamento.

Começamos então pelo ‘ás’. José Adelino Maltez atribui a carta ao primeiro-ministro Passos Coelho, justificando que “é quem está mais informado, em Portugal, em processos de decisão global, como, por exemplo, na União Europeia”.

Já a 'manilha' vai para a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, “o heterónimo do primeiro-ministro. O primeiro de todos os ministros” que na prática “são todos secretários de Estado”. Para o politólogo, conta a Rádio Renascença, Albuquerque apresenta-se como “a assessora de Vítor Gaspar e a professora de Passos”.

O 'rei' é entregue por Maltez ao vice-primeiro-ministro Paulo Portas., “o irrevogável número dois que mantém a liderança da diplomacia económica e oleia as relações” com os ministros do CDS, Pires de Lima (Economia) e Mota Soares (Solidariedade, Emprego e Segurança Social). Além disso, acrescenta o politólogo, “no que ao Orçamento diz respeito é o número três na hierarquia das decisões”.

Neste baralho, a 'dama' é atribuída ao “mago tecnocrata” Paulo Macedo que, na opinião de Adelino Maltez, “representa um dos setores da política pública para onde vai uma parte significativa do caudal dos nossos impostos”. Este é, porém, um ministro que “conseguiu criar uma imagem pública bem cuidada”.

E o 'valete'? Esse segue para o ministro da Educação, Nuno Crato, que por estes dias não tem tido vida fácil. “Outro dos grandes gastadores em políticas públicas que, pela inércia, não reforma as áreas sob tutela” mas, sublinha o politólogo, poderá neste jogo “ser um vencedor, mesmo com a imagem ‘queimada’”.

O '10' pertence, na opinião de Adelino Maltez, ao ministro da Defesa, José Pedro Aguiar-Branco, que conseguiu que, “como nunca”, “a comunidade nacional esteja tão pouco mobilizada para justificar despesas em segurança. Colocou-se nessa posição e não tem o prestígio de outros antecessores”.

A terminar, o 'joker', que conta para este jogo, é atribuído pelo politólogo à chanceler alemã Angela Merkel, pela influência que ganha, ainda que indiretamente, na elaboração do Orçamento do Estado para o próximo ano. Até porque, conclui Adelino Maltez, “uma das grandes forças de Passos é fingir que é um dos últimos moicanos que alinha com a chanceler”.

Resta saber se neste jogo de cartas será o Governo a sair vencedor.