A coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, que se encontra a bordo de um dos barcos da flotilha humanitária com destino a Gaza, afirmou que quem está naquela viagem não está "numa viagem de férias". Em causa está um vídeo partilhado na internet, inclusive pelo presidente do Chega, André Ventura.
"Nós combinamos no início desta missão não falar sobre a nossa experiência nos barcos. Nem nós, nem ninguém que aqui está, porque não queremos que a atenção da missão seja para a nossa experiência, mas que seja para o seu objetivo que é chegar a Gaza e abrir um corredor humanitário", começou por dizer num vídeo partilhado na sua conta do TikTok.
E acrescentou: "Ainda assim, uma das forma de descredibilizar a flotilha e a sua missão é dizendo que os seus passageiros vão numa viagem de férias".
Desta forma, Mariana Mortágua descreveu assim como têm sido os últimos dias a bordo do barco, por forma a "acabar com essas confusões".
"Estes barcos que vão na missão são barcos muito diferentes, mas nenhum está preparado para fazer uma viagem tão longa e tão complexa como esta e nenhum está preparado para levar tanta gente como estes barcos estão a levar", explica.
A deputada única do Bloco de Esquerda conta ainda que "há pequenos barcos à vela, que não têm qualquer tipo de conforto e que sofrem muito quando há vento".
"O barco em que eu, o Miguel e a Sofia estamos é um pouco maior, mas ainda assim é um barco que não tem lugares abrigados para toda a gente dormir. Não tem camas para toda a gente dormir. A maior parte das pessoas não dorme nem em camas nem em sítios abrigados. Dorme no convés, no seu saco cama, como der", relata.
Mortágua dá ainda conta de que não há "água doce suficiente" e que é "racionada", notando que é apenas "para beber". "Tudo o resto tem que ser feito com água salgada", esclarece.
"Um barco onde quando faz mau tempo as coisas voam e batem no barco. É quase impossível cozinhar ou fazer o que quer que seja. Estamos sempre a levar com uma cadeira em cima, esteja ela no convés ou ali dentro. São espaços muito, muito pequenos e que exigem uma grande resistência física", conta.
Mariana Mortágua refere ainda que ninguém o faz "com nenhum sacrifício, nem como se fosse uma pena".
"Não queremos chamar à atenção para isto, mas sabemos porque é que o fazemos e fazemos porque estamos numa missão para chegar a Gaza, porque acreditamos que vai ser possível furar o cerco, que vale a pena furar o cerco. Só queria deixar isto muito claro. Esta missão tem objetivos nobres e nesses objetivos não está uma viagem de lazer", termina.
@marianarmortagua Uma das formas de atacar a Flotilha Humanitária e os seus participantes é manipular os propósitos e o quotidiano desta missão. A viagem até Gaza não é um passeio.
som original - Mariana Mortágua
De recordar que Mariana Mortágua está a bordo de um dos vários barcos que segue com destino a Gaza com ajuda humanitária. Nesses barcos estão centenas de pessoas, entre elas ativistas e figuras públicas oriundas de 44 países. A frota humanitária com destino a Gaza tem como nome 'Global Sumud Flotilla'.
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