"A dimensão desta tragédia confere ao presente momento uma responsabilidade pública institucional que é sem precedentes. Estamos perante a tragédia do século e impõe à Câmara Municipal de Lisboa uma atuação firme, transparente e diligente, percebendo-se bem que há um antes e um depois deste acidente e que o futuro da confiança pública depende da forma como forem apuradas as causas e assumidas as responsabilidades por parte do município", afirmou o vereador do PS Pedro Anastácio, em declarações à agência Lusa.
O descarrilamento do elevador da Glória ocorreu na quarta-feira à tarde e provocou 16 mortos e mais de 20 feridos, de várias nacionalidades.
Nos primeiros momentos que se seguiram ao acidente, a vereação do PS optou por "alguma contenção" na prestação de declarações, "face à gravidade do evento", pronunciando-se agora com a apresentação de medidas para responder à tragédia de forma "célere e transparente", como a criação de um gabinete municipal de apoio às vítimas, com apoio psicológico, assistência jurídica, coordenação com o Ministério dos Negócios Estrangeiros e atribuição de apoio para despesas imediatas.
"A criação de um memorial na Calçada da Glória" é outra das medidas do PS, indicou o socialista, referindo que a proposta também se centra no apuramento de responsabilidades sobre o acidente, solicitando à empresa municipal Carris, responsável pela gestão do elevador da Glória, que disponibilize "no prazo de 24 horas" todos os contratos associados a este equipamento de transporte público, inclusive do ajuste direto para assegurar a prestação de serviços de manutenção.
O PS propõe ainda a criação de uma comissão externa de auditoria, que inclua as universidades, para "avaliar o cumprimento das obrigações contratuais, fiscalização dos serviços prestados e padrões de manutenção dos ascensores e funiculares de Lisboa".
A proposta da vereação do PS vai ser apresentada na reunião extraordinária de câmara, agendada para segunda-feira, que tem como ponto único o acidente com o elevador da Glória.
Essa reunião extraordinária do executivo municipal foi anunciada na quinta-feira pelo presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas (PSD), após participar na reunião do Conselho de Ministros, a convite do primeiro-ministro, Luís Montenegro (PSD), que decorreu no Palácio de São Bento.
Para o vereador do PS Pedro Anastácio, essa reunião de câmara deveria ter acontecido antes: "Fazia sentido que Carlos Moedas tivesse começado por aí e não por São Bento, uma vez que o presidente da câmara municipal coordena a resposta a partir do município".
Sobre as responsabilidades políticas a assumir perante este acidente, o socialista recusou avançar com pedidos de demissão e reforçou a necessidade do apuramento das causas do descarrilamento, lembrando, no entanto, que a responsabilidade máxima cabe ao presidente da câmara porque a Carris é uma empresa municipal.
"É o município que estabelece, que dá orientações àquela que é a política da Carris. É o seu sócio único, por isso, no plano de responsabilidades técnicas e políticas, têm de ser assumidas nesse quadro", declarou o vereador do PS, referindo que cabe a Carlos Moedas fazer essa avaliação.
"Há a pergunta do que é que o Carlos Moedas 2021 tem a dizer ao Carlos Moedas 2025", expôs Pedro Anastácio, lembrando a posição tomada pelo social-democrata enquanto candidato às autárquicas de 2021, em que pediu a demissão do então presidente da câmara, Fernando Medina (PS), devido à partilha de dados de ativistas russos por parte do município.
O vereador do PS disse ainda que foi com "incredulidade e indignação" que assistiu à informação prestada na quinta-feira pelo presidente da Carris, Pedro de Brito Bogas, considerando que optou por "uma tentativa de demonstração de que teria sido feito tudo corretamente".
"Parece uma conclusão precipitada e que causa um sentimento de revolta", apontou, propondo que o presidente da Carris preste esclarecimentos em reunião de câmara, a agendar para 11 de setembro.
Sobre a externalização da manutenção dos ascensores da Carris, inclusive o da Glória, o socialista afirmou que a questão "não é tanto se a manutenção é interna ou externa, é se é corretamente adequada, se é bem feita e se é capaz de oferecer segurança e confiança a quem utiliza a rede".
[Notícia atualizada às 17h49]
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