O livro de Miguel Carvalho, que trabalhou no Diário de Notícias, semanário O Independente e revista Visão, investigou, ao longo últimos cinco anos, o partido liderado por André Ventura, leu milhares de páginas de documentos internos, cruzou informações e relatos, e fez mais de uma centena de entrevistas a fundadores, dirigentes e antigos dirigentes, militantes e ex-militantes.
"Alguns deles falam pela primeira vez", afirmou à agência Lusa o jornalista, autor de sete livros, entre eles 'Quando Portugal ardeu', sobre o período revolucionário, e 'Amália - Ditadura e Revolução, a história secreta'.
O resultado é 'Por dentro do Chega - A face oculta de extrema-direita em Portugal', obra de mais de 570 páginas editada pela Objetiva (Penguin), e que promete o retrato do partido por aqueles que criaram e fizeram e revelar quem o financia, quais as suas redes internacionais e como atraiu eleitores de outros quadrantes para ser atualmente o segundo partido no parlamento.
A investigação que fez, sublinhou, mostra como o Chega "reproduziu, dentro do partido, os mesmos defeitos e os mesmos vícios da política que prometeu combater".
Fundado em 2019, o partido apresentou-se para "defender os 'portugueses de bem', 'arrasar' o 'sistema', 'limpar Portugal dos 'bandidos', 'expulsar' os imigrantes e erguer a 'Quarta República'", contribuindo para a polarização na democracia portuguesa, lê-se na apresentação da obra pela editora. E fez da corrupção um dos temas de campanha das mais recentes eleições.
"Ao contrário do que se possa pensar, o Chega não é uma criação de André Ventura. É, antes de mais, o resultado do falhanço de sucessivos governos ao longo dos últimos anos que falharam nas promessas que fizeram aos portugueses e o país", levando à frustração do eleitorado, disse.
Miguel Carvalho afirma ainda que não quer "confundir os dirigentes, os militantes com o eleitorado do Chega", lembrando como tentou 'mergulhar' no "país Chega" nesta viagem ao mundo da direita radical em Portugal, que começou a ganhar força eleitoral nas legislativas de 2019, com um deputado, e passou a 60 em 2025, dez anos depois.
Num excerto da introdução, divulgada pela editora à Lusa, Miguel Carvalho escreve que a maioria dos capítulos é material inédito, embora parte do livro tenha por base artigos e reportagens feitas para a Visão e para o Público, que foram "adaptados, retalhados ou desenvolvidos".
Ao longo dos últimos cinco anos, descreve, recolheu "milhares de páginas de documentos que nunca viram a luz do dia", foi a muitos eventos do Chega, fez "uma centena de entrevistas" e recolheu depoimentos "sobre momentos-chave da vida" do partido.
"Quis, genuinamente, conhecer este movimento histórico em todas as suas facetas. Não me contentei com telefonemas nem guardei uma distância higiénica, como muitos me recomendaram. Almocei, jantei, partilhei horas e dias com os seus dirigentes, militantes e apoiantes nas mais variadas circunstâncias", escreve.
O livro de Miguel Carvalho, vencedor dos Prémio Gazeta de Imprensa e Prémio Jornalismo de Excelência Vicente Jorge Silva, estará nas livrarias no dia 15 de setembro.
Leia Também: Chega propõe maiores penas para incendiários e equiparação a terroristas