A antiga candidata presidencial Ana Gomes comentou, no domingo, a situação do combate aos incêndios, apontando que a "repetição" de um cenário e chamas em Pedrógão Grande a deixou preocupada.
"Fui uma das pessoas que ontem [sábado] fiquei muito preocupada quando vi isto repetir-se em Pedrógão. E os habitantes constatarem constatarem que tudo estava pior: os eucaliptos, os pinheiros desordenados, os próprios comandantes dos bombeiros que diziam que o SIRESP não funcionava", começou por dizer no seu espaço de comentário na SIC Notícias.
"Aqui a questão é mesmo de organização, autoridade, capacidade do Estado de fazer funcionar aquilo que planeou. Vem agora o primeiro-ministro com um plano a 25 anos; acho que isso é atirar areia para os nossos olhos. Porque planos já temos muitos. Já sabemos tudo o que é preciso fazer", considerou.
Confrontada com a mudança de lideranças e passagem dos anos, a socialista atirou: "Mudam as pessoas que estão à frente das instituições; depois as novas não sabem. E nem estou só a falar das ministras da Administração Interna escolhidas por Luís Montenegro, mas estou a falar de todo o resto das estruturas".
A antiga eurodeputada afirmou que não só não é assegurada a "coordenação", nomeadamente no que diz respeito à prevenção, como, por exemplo, as limpezas dos terrenos, que deve ser feita no inverno, mas deixou também críticas no âmbito da coordenação com o poder local: "Descarregar as competências nas autarquias - que já é o caso -, mas depois não lhes dar meios... Até a própria OCDE veio agora dizer que Portugal não dava meios às autarquias mais necessitadas para poderem substituir-se aos particulares nas limpezas dos terrenos. Falo de meios, humanos, etc."
Dada a situação, Ana Gomes observou que havia uma "incapacidade de fazer os planos passarem à prática, embora haja gente muito boa e competente que já muito fez. Tudo voltou para trás com este Governo. Tudo piorou."
A socialista foi 'mais longe' e para além do Executivo, deixou críticas a quem o lidera: "Há quem fale em cinismo do primeiro-ministro. Não acho que seja um problema de cinismo, acho que é de calculismo. Mau calculismo, designadamente, aquela recusa em chamar a tempo e horas chamar o Mecanismo Europeu de Proteção Civil para não deixar que os incêndios ganhassem a amplitude que ganharam logo".
Ainda quanto às vítimas, Ana Gomes lamentou os quatro mortos. "Agosto ainda não acabou, ainda há setembro, ainda há outubro", afirmou, recordando depois 2017, que teve os incêndios que causaram mais estragos - e mortes - em junho, mas também outubro.
"Temos de perceber que o impacto das alterações climáticas também é um fator, e isto é uma questão de sobrevivência, de intervir, e intervir a tempo e horas. E apoiar as populações mais necessitadas e o Estado assumir as suas responsabilidades", apontou.
Note-se que esta segunda-feira, mais de 40 concelhos dos distritos da Vila Real, Bragança, Viseu, Guarda, Castelo Branco e Santarém estão hoje em perigo máximo de incêndio, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera.
As temperaturas mínimas vão oscilar entre os 15 graus Celsius (em Viana do Castelo, Braga e Évora) e os 18 (em Aveiro, Portalegre, Lisboa e Faro) e as máximas entre os 24 (em Aveiro) e os 35 (em Évora e Bragança).
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