A deputada do Partido Socialista (PS), Isabel Moreira, afirmou que gostaria de "ouvir o Presidente da República", assim como "gostava que a justiça agisse" a propósito do presidente do Chega, André Ventura, ter citado o nome de várias crianças, que frequentam uma escola em Lisboa, no Parlamento, durante a discussão às alterações às leis da nacionalidade e imigração na semana passada.
Isabel Moreira referiu, na rede social X (antigo Twitter), que "o vídeo da deputada do Chega [referindo-se a Rita Matias] e a intervenção de Ventura versam sobre nomes que nos remetem para uma zona do globo e não sobre estudantes de escolas inglesas ou francesas".
"Desde sexta-feira, todas as crianças que tenham os nomes invocados estão mais inseguras. É monstruoso. É crime de ódio sim. E pactuar com o Chega é uma escolha. Gostava de ver consequências na Assembleia da República, gostava de ouvir o Presidente da República e gostava que a justiça agisse", salientou.
De notar que, nos últimos dias, vários deputados e caras políticas criticaram a atitude de André Ventura no Parlamento.
Desde sexta-feira, todas as crianças que tenham os nomes invocados estão mais inseguras. É monstruoso. É crime de ódio sim. E pactuar com o ch é uma escolha. Gostava de ver consequências na AR, gostava de ouvir o PR e gostava que a justiça agisse.
— Isabel Moreira (@IsabelLMMoreira) July 7, 2025
Pedro Duarte "chocado" e caracteriza atitude de Ventura como "inqualificável"
"Fico chocado com a falta de empatia das pessoas e esta vertigem pelo populismo, pela demagogia que provavelmente fazem estas pessoas esquecer tudo aquilo que são valores e princípios, que eu continuou a acreditar que, no fundo, eles até professarão. Mas, de facto, não tem limites. Isto é absolutamente inaceitável, é inqualificável", referiu o ex-ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, no espaço de comentário 'Princípio da Incerteza' da CNN Portugal.
Pedro Duarte considerou que "não serve de atenuante de os tais nomes não terem sido ditos de forma completa no Parlamento", explicando que "o que está em causa é que há um impacto subjetivo manifestamente nas pessoas e naquilo que é o contexto individual de cada uma das pessoas".
Alexandra Leitão: Episódio ultrapassou "o que é aceitável numa democracia"
A socialista Alexandra Leitão também criticou o comportamento de André Ventura, afirmando que o episódio no Parlamento ultrapassou "o que é aceitável numa democracia" e que "instrumentalizar menores para alimentar o discurso de ódio é vergonhoso, desumano e perigoso".
De recordar que no momento em que André Ventura começou a citar nomes de crianças estrangeiras na Assembleia da República, vários deputados das bancados da Esquerda intervieram e tentaram interromper o discurso do presidente do Chega. No entanto, quem estava a dirigir a ordem de trabalhos não o fez.
Por exemplo, a líder parlamentar do Livre chegou mesmo a ficar emocionada, tendo pedido "humanismo".
Já no domingo, o presidente do Chega escreveu na sua rede social X (antigo Twitter) que "uma parte do país ficou incomodado com a leitura de nomes islâmicos e indianos nas escolas portuguesas" e atacou a Esquerda: "Curioso, nunca os vi preocupados com o uso de crianças e jovens na propaganda LGBT ou nos folhetins do Bloco e do PCP".
Note-se que as iniciativas do Governo de alteração aos diplomas da nacionalidade e da imigração baixaram à fase de especialidade sem serem votadas na generalidade, bem como projetos-lei do Chega sobre as mesmas matérias.
A proposta de lei do Governo de alteração ao diploma da nacionalidade, que será agora discutida em comissão, quer aumentar o período de permanência em Portugal exigido para a obtenção da cidadania (de cinco para 7 ou 10 anos, consoante se trate de cidadãos lusófonos ou não lusófonos).
O Governo prevê, ainda, a possibilidade da perda da nacionalidade para os naturalizados há menos de 10 anos e sejam condenados a pena de prisão efetiva igual ou superior a 5 anos pela prática de crimes graves. Quanto à atribuição de nacionalidade originária a descendentes de estrangeiros residentes em Portugal, passa a exigir-se a residência legal durante o período de três anos.
Já o projeto-lei do Chega, que também passou à especialidade, propõe "a perda da nacionalidade adquirida por naturalização ou quando tenham dupla nacionalidade, nos casos em que o indivíduo pratique atos que atentem gravemente contra a soberania, a segurança nacional ou os princípios essenciais do Estado de Direito".
Na lei de estrangeiros, o Governo pretende restringir o visto para procura de trabalho "a atividades altamente qualificadas", limitar o acesso ao reagrupamento familiar e alterar as condições para a concessão de autorização de residência aos cidadãos nacionais de Estados-Membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Já o Chega apresenta um projeto de lei que "restringe as normas em matéria de entrada e permanência em território nacional", impondo quotas de entrada de acordo com as necessidades laborais identificadas pelas autoridades.
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