O antigo primeiro-ministro socialista José Sócrates considera que a Europa protagonizou na última cimeira da NATO um "patético espetáculo de vassalagem" em relação ao presidente Trump, do qual apenas se salvou o líder espanhol, Pedro Sánchez.
Esta posição sobre a recente cimeira da NATO, em Haia, consta de um artigo que José Sócrates hoje publicou no site ICL Notícias, do Brasil, em que cita o filósofo Immanuel Kant para advertir que "o paternalismo é o regime mais tirânico do mundo, na medida em que trata os seus cidadãos como crianças".
Intitulado "a cimeira da servidão voluntária", José Sócrates afirma no seu artigo que a Europa "satisfez todos os caprichos do presidente dos Estados Unidos, aceitando aumentar os gastos em defesa para 5% do Produto Interno Bruto".
"O mesmo é dizer que se iniciou uma corrida aos armamentos no continente europeu. Julgo, no entanto, que o pior não foi o conteúdo, mas a forma. O patético espetáculo de vassalagem que marcou a cimeira", aponta.
José Sócrates ataca em particular o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, "esse lamentável político holandês que cumpre obedientemente as ordens dos seus senhores".
"O secretário-geral da NATO acha que o presidente dos Estados Unidos é o paizinho do mundo e que os restantes países não passam de crianças a quem é preciso, de vez em quando, mostrar o caminho a seguir. Entre a dignidade e a segurança, a Europa prescindiu da primeira -- e nunca terá a segunda, que nunca existirá sem a primeira", defende.
Para o antigo primeiro-ministro, na História recente, "talvez não haja espetáculo mais revelador do declínio da Europa enquanto ator político".
"Esta foi a cimeira da servidão voluntária, para recuperar o título de um famoso ensaio europeu. O aspeto mais deprimente é o argumento, usado por alguns, de que a bajulação do presidente Trump pode trazer vantagens à Europa. Este argumento soma a estupidez à humilhação, nada mais", considera.
José Sócrates contrapõe que "a humilhação só traz mais humilhação".
"Quem se humilha só pode esperar ser maltratado, não respeitado. Além do mais, este tipo de raciocínio não conhece a cultura americana. Acima de tudo, os americanos desprezam a vassalagem. A imagem da Europa nesta cimeira é a de uma potência que perdeu o respeito pelo seu próprio passado", advoga.
Em Haia, na cimeira da NATO, na perspetiva de José Sócrates, "salvou-se" o primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez.
"Que dignidade. Alguns lambe-botas do presidente Trump dizem que a Espanha se deixou isolar. Eu digo que essa solidão foi de uma extraordinária beleza, olé", acrescenta.
Leia Também: Sócrates apresenta terça-feira queixa em tribunal europeu contra o Estado