O candidato a secretário-geral do Partido Socialista (PS), José Luís Carneiro, apelou, esta quarta-feira, a "uma palavra de tranquilidade aos cidadãos de reafirmação do que são os valores fundamentais da vida em sociedade" por parte do primeiro-ministro, Luís Montenegro, e de outros membros do Governo, na sequência das agressões levadas a cabo por um grupo de extrema-direita contra um dos atores da companhia de teatro A Barraca, na noite de terça-feira, em Lisboa.
"Admito que esteja ainda a recolher informação e dados, mas é evidente que é desejável que possa haver uma palavra de tranquilidade aos cidadãos de reafirmação do que são os valores fundamentais da vida em sociedade. O nosso silêncio não pode ser cúmplice de atos, atitudes e comportamentos que atentem contra valores fundamentais", disse o socialista, em declarações à imprensa.
Carneiro apontou ainda que, na sua ótica, "quer a Administração Interna, quer a Justiça devem pronunciar-se sobre esta matéria", a par da tutela da Cultura, que já repudiou o ataque.
"É nestas alturas que se justifica, do meu ponto de vista, uma palavra pública, por um lado para repudiar, por outro lado para dar uma palavra de tranquilidade pública e de esclarecer o que está a ser feito para, o mais rapidamente possível, levar os responsáveis destes atos à justiça", reforçou.
Recorde-se que o ator Adérito Lopes foi agredido quando entrava para um espetáculo com entrada livre de homenagem a Camões, disse a diretora da companhia, Maria do Céu Guerra.
Em declarações à Lusa, a também atriz Maria do Céu Guerra contou que, foi por volta das 20h00, estavam os atores a chegar ao Cinearte, no Largo de Santos, quando se cruzaram à porta "com um grupo de neonazis com cartazes, programas", com várias frases xenófobas, que começaram por provocar uma das atrizes.
"Entretanto, os outros atores estavam a chegar. Dois foram provocados e um terceiro foi agredido violentamente, ficou com um olho ferido, um grande corte na cara", afirmou a também encenadora, de 82 anos, que disse que o ator em causa teve de receber tratamento hospitalar.
Fonte da Polícia de Segurança Pública (PSP) adiantou à Lusa que foi chamada pelas 20h15 ao Largo de Santos por "haver notícia de agressões", onde foi contactada por um homem de 45 anos, que "informou que, ao sair da sua viatura pessoal, foi agredido por um indivíduo".
A PSP, com as características do eventual suspeito fornecidas pelo ofendido e por um seu amigo, encetou várias diligências nas ruas adjacentes ao Largo de Santos, tendo sido possível localizar e intercetar um homem com 20 anos, suspeito de ser o autor da agressão, adiantou a mesma fonte.
A PSP identificou os intervenientes neste caso - suspeito, ofendido e testemunha - e vai comunicar todos os factos apurados ao Ministério Público.
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