Na antecâmara da Biblioteca Passos Manuel, na Assembleia da República, lê-se num placar: "Senhores deputados, nós e o futuro". A frase é de Francisco da Costa Gomes, antigo Presidente da República, na sessão inaugural da Assembleia Constituinte.
Hoje, a sessão inaugural é outra, a primeira da XVII legislatura, e os 230 deputados eleitos dirigem-se durante todo o dia até à biblioteca para o tradicional acolhimento.
Neste local, que tem até direito a espelho para os últimos retoques antes da fotografia, são recolhidos dados para a emissão do cartão de deputado e preenchidos vários formulários.
João Pedro Louro, líder da Juventude Social-Democrata e estreante nas andanças parlamentares, confessou à Lusa que sente "uma grande responsabilidade de representar o povo português e, sobretudo, dar voz às novas gerações".
O deputado social-democrata estabeleceu como prioridades a construção de um sistema de ensino e um mercado de trabalho "mais flexíveis", além da "proteção digital" de crianças e jovens e manifestou a expectativa de que a legislatura dure até ao fim, "a bem da estabilidade e também da governação".
Pelo Chega, Ricardo Lopes Reis é estreante como deputado mas já "está orientado" e conhece os cantos à casa. Foi assessor do partido no último ano e causou polémica depois de ter reagido no Twitter à morte de Odair Moniz, o cidadão cabo-verdiano que foi baleado mortalmente por um agente da PSP no bairro da Cova da Moura, com a frase: "Menos um criminoso... menos um eleitor do Bloco".
O agora deputado afirmou que abordou o tema com o presidente do Chega, André Ventura, que "as coisas estão resolvidas" e que agora a prioridade é "trabalho, trabalho, trabalho", manifestando um "sentido enorme de responsabilidade e de missão".
Eva Cruzeiro, do PS, para quem os corredores do parlamento ainda são uma novidade, confessou à Lusa estar "completamente perdida".
"O espaço é maior do que eu pensava, são muitos corredores, são muitas portas, este é um momento para treinar o meu sentido de orientação e ver se me consigo virar nos próximos dias", afirmou a rapper e ativista.
A deputada reconheceu que a esquerda tem "um grande desafio pela frente" e assumiu como prioridades o combate à violência doméstica, os crimes do digital, e a delinquência juvenil.
Pelo Livre, a nova deputada Patrícia Gonçalves manifestou "um sentimento de missão, depois de tantos anos a ajudar a construir um partido que se está a afirmar".
A agora deputada espera que os trabalhos parlamentares decorram "de uma forma equilibrada e respeitando o parlamentarismo".
Ao ombro, levava um saco de pano oferecido aos deputados com um bloco de notas, uma edição do Regimento da Assembleia da República, a Constituição e uma coletânea de livros.
Com um 'pin' na lapela da bandeira regional da Madeira, Filipe Sousa, duplo estreante -- enquanto deputado e representante do partido Juntos Pelo Povo (JPP) --, confessou-se nervoso mas com "sentido de missão" e a "enorme responsabilidade" de transmitir os problemas da "pérola do Atlântico".
Apesar de reconhecer que a eleição de deputado lhe irá mudar a rotina e de ainda não ter casa em Lisboa, Filipe Sousa diz ter feito as malas para uma legislatura de quatro anos e promete trabalhar para "criar pontes" e procurar "resolver os problemas que afetam o país real", sem entrar em "guerrilhas políticas ou ataques pessoais".
Entre as prioridades que define para esta legislatura, Filipe Sousa diz que não vai ser um "deputado de gabinete" e promete lançar a discussão sobre um novo referendo para a regionalização e a possibilidade de se criar, "no futuro, partidos regionais", apesar de antecipar que irá encontrar "resistências do centralismo".
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