O almirante Henrique Gouveia e Melo oficializou, esta quinta-feira, a sua candidatura à Presidência da República, tendo assumido que, "nos últimos três anos", sentiu, "de forma crescente, um apelo" para que se candidatasse.
"Portugueses, apresento-me diante de vós como candidato à Presidência da República. Nos últimos três anos, senti, de forma crescente, um apelo para que me candidatasse", começou por introduzir, perante sala cheia, na Gare Marítima de Alcântara.
O oficial da Marinha assinalou que, "no mesmo período, o mundo também mudou muito", com "nuvens carregadas de incerteza e de perigo no horizonte".
"A guerra voltou ao coração da Europa, destruindo a ilusão de uma paz garantida. O Ocidente vacila, divide-se, perde o rumo. Os Estados Unidos já não garantem segurança, lançam incerteza. A força tenta impor-se à razão. A economia global retrai-se e, com ela, esmorece a esperança. As democracias são atacadas de fora e corroídas por dentro. Portugal não está imune, nem isolado numa redoma protetora. São claros os sinais de cansaço, desanimo e desencanto na nossa jovem democracia. E é por tudo isto que aqui estou", complementou.
Gouveia e Melo assumiu ainda que não conseguiu "ficar de braços cruzados", face a esta conjetura.
"Amo este país e sinto que é meu dever agir, com a mesma entrega com que servi a Marinha, as Forças Armadas e Portugal durante 45 anos. Com a mesma coragem com que jurei dar a vida pela pátria, se necessário. Com o mesmo compromisso que sempre defendi a liberdade, a Constituição e os interesses de todos os portugueses. Apresento-me com a experiência de quem liderou em momentos difíceis e com a confiança de quem acredita de verdade que, juntos, conseguiremos ultrapassar grandes desafios", defendeu.
O almirante sustentou que esteve "sempre" com as populações, tendo dado como exemplo o seu papel durante os incêndios de Pedrógão Grande e na campanha de vacinação para a Covid-19, momentos em que "Portugal mais precisava de organização, confiança e liderança".
"Acredito que agora, mais do que nunca, precisamos de um Presidente diferente, um Presidente capaz de unir-nos, motivar e dar sentido à esperança, capaz de ser consciência e exemplo, de ajudar a mudar aquilo que há tanto tempo precisa de ser mudado. Um Presidente estável, confiável e atento, acima de disputas partidárias, longe das pressões e fiel ao povo que o elegeu, que não seja um mero espectador da vida política, que interpele e exija, quando necessário, pois representa todo o povo, que se faça ouvir, usando a palavra com contensão, com substância e com propriedade", disse.
Gouveia e Melo comprometeu-se, assim, a cumprir "com lealdade as funções que a Constituição" lhe confiam, caso venha a eleito pelos portugueses. Entre elas, enumerou a defesa da independência nacional, a garantia do funcionamento das instituições democráticas, ser árbitro e moderador, e a promoção da coesão nacional.
"Serei um Presidente que respeitará os partidos políticos, pilares fundamentais da democracia, assim como a separação de poderes, tendo sempre em mente que o Presidente da República não governa. Portugueses, não podemos aceitar o desânimo como destino, não podemos deixar que o desencanto tome conta do país e que a confiança se esgote", apelou.
"Há razões para acreditar": O que é que Gouveia e Melo pretende para o país?
O ex-chefe do Estado Maior Armada considerou "indiscutível" que se vivem tempos difíceis no plano externo e que "o mundo mudou, e não foi para melhor".
"Mas o que verdadeiramente nos trava não vem de fora. Está cá dentro. São as más decisões, as não decisões, o adiar permanente do futuro, a falta de coragem para fazer o que tem de ser feito", criticou.
Henrique Gouveia e Melo afirmou mesmo que, no presente, até se fica com a ideia de que os cidadãos estão "condenados a uma lógica de ciclos curtos, quando o país pede transformação, quando os portugueses exigem ação".
Mas, de acordo com o candidato presidencial, "há razões para acreditar" e o país tem "jovens que inovam, empresas que arriscam, cientistas que lideram, artistas que criam e desportistas que nos orgulham".
"Temos portugueses a brilhar no estrangeiro e imigrantes que escolhem Portugal como casa. Este é o nosso país. E é este Portugal que devemos celebrar e proteger, mas não podemos dar-nos por satisfeitos", advertiu.
Gouveia e Melo assinalou, então, que "persistem fragilidades" em Portugal, nomeadamente "uma pobreza estrutural, uma economia frágil que precisa de crescer mais e distribuir melhor, uma justiça lenta, desigual e distante, um Estado carente de modernização".
"Temos jovens que partem, famílias sem casa, idosos esquecidos, serviços públicos sob pressão e imigração sem integração. Portugal merece mais e, certamente, pode mais. É tempo de lutarmos pelo país que podemos e devemos ser. Não estamos condenados a falhar, a ser pequenos. Não temos de ser pobres", salientou, recebendo uma prolongada salva de palmas.
Depois de enunciar estes princípios, o almirante fez uma ligação aos objetivos da sua candidatura a Presidente da República: "É por isso que estou aqui, porque acredito em Portugal, porque sei que podemos mais."
"Estou aqui perante vós para vos convocar para um futuro com esperança, para um país que não se resigne, um país com vontade e ambição, para uma democracia que não fraqueje nestes tempos de incerteza. Está na hora de cumprir, de reformar, de realizar", sustentou, ouvindo de novo palmas dos apoiantes.
Além de "uma Defesa Nacional moderna, sólida e tranquila", quais as suas prioridades?
Gouveia e Melo disse bater-se por "um país onde os jovens tenham futuro, onde os mais velhos descansem com dignidade, onde ninguém seja pobre por destino ou falta de oportunidade, onde saúde, habitação e educação sejam direitos e não privilégios, onde a cultura seja central e onde o ambiente seja um compromisso entre gerações". Tudo isto num país que se quer "justo, próspero e solidário", que tenha "uma economia centrada nas pessoas, mais forte, mais competitiva, mais produtiva", porque "só assim poderemos manter o Estado Social e combater as desigualdades".
Entre os desafios, destacou as apostas na tecnologia, inovação, transformação digital, ciberespaço e espaço, e defendeu uma reforma da Administração Pública e da Justiça, embora sem especificar em que sentido. Falou em "descentralizar", mas "sem fragmentar", e prometeu "olhar para as ilhas, para o interior e para a diáspora".
"Ainda precisamos de uma Defesa Nacional moderna, sólida e tranquila, sem alarmismos, mas também sem ingenuidades", completou.
Perante várias centenas de apoiantes, terminou a intervenção de cerca de 15 minutos - sem direito a perguntas dos jornalistas - com uma referência ao seu percurso na Marinha, dizendo que aprendeu no mar que, "perante a tempestade, nunca se desiste, não se baixam os braços".
"E é isso que farei se me confiarem o vosso voto. Apresento-me, assim, ao serviço de Portugal, perante vós, com humildade, coragem, independência e esperança", prometeu, deixando um apelo com uma carga nacionalista.
"Unidos, somos uma força imparável", disse.
[Notícia atualizada às 20h41]
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