"O farol para este país são as mulheres que trabalham, que se levantam cedo, que se esforçam. O farol deste país são as mulheres que trabalham o dia inteiro e recebem menos que os homens. São as mulheres que vão trabalhar e chegam a casa e fazem o jantar e cuidam dos filhos. O farol deste país são as mulheres que não aceitam a misoginia, que lutam contra a violência, que exigem igualdade", defendeu a cabeça de lista do BE em Lisboa, numa "festa-comício" no LX Factory, na capital.
Numa intervenção centrada nas mulheres e no movimento feminista, Mariana Mortágua respondeu diretamente ao presidente do PSD e primeiro-ministro, Luís Montenegro, que disse no sábado sentir "a responsabilidade de ser o farol do país", com a oposição sempre a olhar para trás, apelando a que os portugueses que querem estabilidade "votem massivamente" na Aliança Democrática (AD).
A dirigente apelou diretamente ao voto das mulheres, defendendo que são "a mais poderosa força contra a direita, seja a extrema-direita ou a direita extrema".
Meses após a polémica de despedimentos de duas recém-mães, em 2022, que abalou recentemente o partido, Mortágua fez questão de salientar que "o Bloco tem no seu ADN os movimentos feministas que o criaram".
A dirigente recuou à fundação do BE, que "nasceu para garantir a legalização do aborto em Portugal" e lembrou que o partido se bateu pela violência doméstica como crime público e defendeu direitos das mulheres em período de menopausa na última legislatura.
"Mesmo quando o PSD estava contra. Mesmo quando o PS arrastava o passo. Nós estivemos sempre lá. Mesmo quando nos disseram que ainda não era tempo, que a sociedade não estava preparada. Estivemos sempre lá. Mesmo quando o PS negava os problemas do acesso ao aborto livre. Estivemos sempre lá. E temos um compromisso: a violação será crime público na próxima legislatura", frisou.
Mortágua, que discursou com o lenço símbolo da causa palestiniana aos ombros, uma 'kufiya', oferecido momentos antes de subir ao púlpito, deixou várias críticas à direita, por ter "medo da liberdade das mulheres" e temer a sua chegada a "lugares de poder e de fala".
"O ataque que a extrema-direita faz às mulheres é porque quer que recuemos, querem convencer-nos de que fomos longe demais, querem dizer-nos que a nossa luta é supérflua, que é inútil e arrastam a bitola do senso comum tentando encostar-nos à parede. (...) Nós perguntamos: agora? Agora que estamos juntas, agora que nos ouvem, acham que vamos recuar agora?", desafiou.
E se "as mulheres e o feminismo são a maior força para derrotar a extrema-direita e o ódio", Mariana Mortágua deixou três razões porquê, a começar pelo facto de as mulheres estarem a "defender a sua própria vida" contra misoginia que cresce nas redes sociais e "faz vítimas reais".
"Mexeu com uma, mexeu com todas", ouviu-se no pavilhão, que hoje se encheu com cerca de duas centenas de apoiantes.
A segunda razão, segundo Mortágua, é porque são as mulheres que cuidam, de si e da família, "de forma invisível, sem serem reconhecidas" e quando "a direita a escola pública, o Serviço Nacional de Saúde ou a Segurança Social", são as mulheres as primeiras a "sentir o embate".
"Porque quando a motosserra ferir, quando ela atacar as crianças, os mais velhos, os mais doentes, quem é que aparece para cuidar de toda essa gente que não as mulheres? Nessa altura, quando a motosserra começar a cortar a eito, vão chamar pela mãe, vão chamar pela avó, vão chamar pela irmã, vão chamar pela mulher, porque são elas que suportam a sociedade como estes alicerces suportam esta sala", enalteceu.
Sustentando que a luta do feminismo "é de todos e para todos", Mortágua argumentou que a terceira razão pela qual as mulheres são a força contra a extrema-direita é que elas "nunca deixam de sonhar".
Além do apelo ao eleitorado feminino, Mortágua pediu o voto também de todos os homens que "sabem que só há liberdade quando há igualdade".
Esta tarde, no Lx Factory, o BE organizou a sua segunda "festa-comício" desde o início da campanha eleitoral, depois da estreia no Porto, no sábado. O formato novo consiste numa espécie de comício em formato de festa cultural, onde são montadas várias bancas com comida, arte e jogos tradicionais.
Houve também espaço para animação musical, com uma roda de tambores na qual Mariana Mortágua chegou a participar durante uns minutos.
[Notícia atualizada às 19h15]
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