Doce tradicional de Aveiro, os ovos moles surgiram no século XV como remédio para a tuberculose, devido ao efeito que a gemada de ovos com açúcar tinha nos pulmões, fortalecendo-os.
Cerca de 500 anos depois, coube a Rui Rocha e ao cabeça de lista da IL em Aveiro, Mário Amorim Lopes, vestir o avental para preparar o tradicional doce conventual, mas com uma nova receita: a liberal.
No primeiro passo da receita -- separar as gemas das claras --, Rui Rocha não se atreveu a mexer nos ovos, deixando a tarefa para Mário Amorim Lopes, que, à medida que ia partindo os ovos, ia pregando a necessidade de "quebrar os impostos", as tributações autónomas, a burocracia (onde a gema se misturou com a clara) ou o IRS.
No final, o resultado não foi do agrado de nenhum dos dois: "Está muito alaranjado, não é possível pôr um condimento azul?", perguntou Rui Rocha, com uma das lojistas a dizer que não era necessário, porque as gemas já tinham "proteínas que cheguem".
"Não, não, precisa de mais, muito mais energia. Quanto mais energia, melhor", disse o líder da IL que, virando-se para os jornalistas, gracejou que é preciso "mudar o tom demasiado alaranjado que tem existido nos últimos tempos".
Depois, com uma colher de pau, o líder da IL começou a misturar as gemas dos ovos para juntar a uma calda de açúcar que deveria estar a ferver, mas rapidamente encontrou um percalço: o fogão de campismo para aquecer a calda era antigo e não funcionava.
"Não estou assim muito certo de que isto vá ferver", disse um Rui Rocha hesitante que, questionado se nem com o esforço da IL a calda aquece, reconheceu que estava a encontrar alguma resistência, mas garantiu que o seu partido não desiste perante condições adversas, mesmo eleitorais.
Depois das eleições, "as condições ideias era a IL ter uma maioria absoluta. Não teremos. Temos de nos reger por aquilo que os portugueses decidirem e, com aquilo que nos derem, fazer o melhor possível", disse.
Sem conseguir aquecer o preparo feito por Rui Rocha e Mário Amorim Lopes, foi trazido outro tacho já com as gemas misturadas ao açúcar, pronto para servir de recheio às hóstias em forma de búzios, barris ou conchas que o líder da IL dividiu em duas filas: num lado, estava a saúde, habitação, impostos e sistema eleitoral e, do outro, quatro unicamente dedicadas à burocracia.
Todas passaram pelo passo seguinte: o corte à tesoura, mas Rui Rocha quis dedicar-se apenas às hóstias da burocracia, para garantir que "cortava rente" e que ficava "bem apertadinha". Cortou tão rente, que a lojista lhe disse que "mais um bocadinho de margem era melhor".
"Não estou a cortar demasiado, estou a cortar o necessário", respondeu, entre risos, Rui Rocha, que, terminado o último passo, já dominava a receita dos ovos moles e, sobretudo, liberal.
"Tudo é preciso: construir, ligar a massa, fazer crescer, juntar os ingredientes certos, as pessoas certas, as políticas certas. E isso permite depois aliviar também os portugueses, as empresas daquilo que pesa e não cria valor", disse Rui Rocha, sem dúvidas de que a parte "mais fácil" no processo foi partir os ovos.
Era tanta a expectativa entre membros da comitiva da IL com o resultado da receita que, sem deixar que os ovos moles fossem ao forno, se precipitaram sobre o prato onde estava o preparo de Rui Rocha e Mário Amorim Lopes, com alguns jornalistas a também arriscarem o paladar.
No final, triunfante, o líder da IL virou-se para os jornalistas com um prato vazio na mão: "Não sobrou um", gracejou.
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