"Luís Montenegro escondeu do país, em violação das suas obrigações legais e formais, a lista de clientes da sua empresa, da qual recebeu avenças enquanto era primeiro-ministro. E o PSD agora, perante isto, está de cabeça perdida. É a única forma de avaliarmos o que se tem passado nos últimos dias, com instruções para a Polícia Judiciária vigiar telefones de deputados, de jornalistas. O PSD está de cabeça perdida", acusou Mariana Mortágua.
A bloquista falava na apresentação das prioridades eleitorais do BE, incluídas no manifesto "Mudar de Vida", que decorreu esta manhã numa livraria em Lisboa.
Depois de na quarta-feira o Expresso ter noticiado que o primeiro-ministro entregou uma nova declaração à Entidade para a Transparência sobre a Spinumviva, empresa fundada pelo chefe do executivo e entretanto passada aos seus filhos, Mortágua questionou se Montenegro esperava que "passassem as eleições para que o país ficasse a conhecer a sua lista de clientes".
"Luís Montenegro vai conseguir que fiquemos uma campanha inteira entretidos a discutir o «diz que disse» do deputado que «fez o que aconteceu», enquanto ninguém está a falar sobre as rendas que não se conseguem pagar, sobre o SNS que continua a ter maternidades e urgências fechadas, sobre o que se está a passar na Palestina, sobre os salários que não conseguem chegar ao fim do mês. E aqui estamos nós, numa campanha eleitoral, arrastados para o fundo pela empresa pessoal de Luís Montenegro e pelas suas falhas de transparência", criticou.
Na quinta-feira, depois de terem sido divulgados os novos dados, o deputado do PSD Hugo Carneiro pediu ao Grupo de Trabalho do Registo de Interesses no parlamento que peça à Entidade para a Transparência os registos de quem acedeu aos dados sobre o primeiro-ministro, de forma a descobrir quem partilhou a informação com a imprensa.
Estas declarações que já foram condenadas pelo Sindicato dos Jornalistas (SJ). Hugo Carneiro negou na rede social X ter sugerido ver registos de telefones de jornalistas.
Durante a apresentação do manifesto eleitoral, Mariana Mortágua defendeu que "a esquerda tem um dever" nestas eleições que é o de "apresentar uma proposta alternativa para o país, um rumo que dê esperança às pessoas".
Interrogada sobre uma nova geringonça à esquerda, com o PS, a bloquista respondeu que as propostas do BE só terão força com mais deputados do seu partido para fazer "o que o PS nunca quis fazer", mesmo com maioria absoluta.
"Não é nenhum governo minoritário de composição variável ao centro que vai conseguir resolver os principais problemas do país, até porque eu ouvi Pedro Nuno Santos a dizer a Luís Montenegro «nós temos a mesma resposta para a habitação, nada nos diferencia». O maior drama social do nosso país", criticou.
Tetos às rendas, taxar grandes fortunas e empresas digitais com um "imposto Musk" e mais direitos para trabalhadores por turnos são as três principais bandeiras do BE nesta campanha, além da defesa do SNS, da escola pública e da transição energética e climática.
Sobre a proposta de impor tetos máximos às rendas, que tem gerado críticas da oposição, incluindo do PS, Mortágua argumentou que não houve, até hoje, um reparo que tenha conseguido sequer "beliscar" a medida.
"Se há uma proposta que já conseguiu marcar a campanha eleitoral e ultrapassar as tricas, as politiquices, as coisas de mexerico, toda a política superficial que não diz nada a ninguém, foi os tetos nas rendas e foi o Bloco que a trouxe para o debate político", defendeu.
Paula Cosme Pinto, antiga jornalista e ativista pela igualdade de género foi apresentada como mandatária nacional da campanha do BE e defendeu uma maior representação feminina no parlamento.
Shahd Wadi, investigadora palestiniana, que surge em sétimo lugar na lista por Lisboa, lembrou o apagão que esta semana afetou Portugal e Espanha e alertou que essa é a realidade diária na Faixa de Gaza, onde o corte de bens essenciais como eletricidade ou água são usados como "arma de guerra".
[Notícia atualizada às 13h27]
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