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"25 de Novembro é continuação do 25 de Abril. A História não se apaga"

António Ramalho Eanes, o primeiro Presidente eleito democraticamente após o 25 de Abril, deu uma entrevista na qual falou não só sobre as comemorações do 25 de Abril, como também do estado atual do país, considerando que era preciso que os partidos "se unissem", dado que eram precisas respostas que só um "trabalho coletivo" consegue.

"25 de Novembro é continuação do 25 de Abril. A História não se apaga"
Notícias ao Minuto

14:55 - 19/04/24 por Teresa Banha

Política 25 de Abril

António Ramalho Eanes deu uma entrevista durante a qual falou sobre o 25 de Abril e as comemorações dos 50 anos e também do quão importante é a união entre os grandes partidos.

Questionado pela RTP1 sobre o que pensa sobre o 25 de Novembro ter ficado 'de fora' das comemorações, aquele que foi o primeiro Presidente da República democraticamente eleito após a Revolução, sublinhou que há "várias formas de Democracia", e aquilo que o 25 de Abril prometeu foi um sistema "constitucional pluralista, um Estado de Direito, eleições livres".

"Foi isso que se tentou e que se fez no 25 de Abril, nas eleições. Como realmente havia determinados grupos que tomaram posições diferentes e acabaram por recorrer à ação armada para impor as suas ideologias, a resposta tinha de ser aquela. Foi aquela", referiu, sendo depois questionado se se estava a referir ao elementos do Partido Comunista Português (PCP) da altura.

“Em primeiro lugar, à Extrema-Esquerda, porque acho que o Partido Comunista foi arrastado. O que posso dizer é que não percebo que estigmatizem e se esqueçam do 25 de Novembro porque o que o 25 de Novembro é a continuação do 25 de Abril. É a reafirmação de que as promessas feitas pelos militares à população portuguesa se mantêm com toda a força – seja como for, quaisquer que sejam os obstáculos”, considerou.

Em entrevista à emissora, Eanes lembrou ainda Ernesto Melo Antunes, que representou no Conselho de Estado o Movimento das Forças Armadas. "Melo Antunes teve ocasião de dizer que todos os partidos eram não necessários, mas indispensáveis. Porque a Democracia é a pluralidade e o confronto. De alguma maneira, a síntese que resulta desse confronto feito através de eleições", recordou sobre o militar, que garantiu a sobrevivência do PCP.

"Entendo que o esquecimento do 25 de Novembro não ajuda à Democracia. A História não se apaga. E é regressando à História que aprendemos a evitar erros", afirmou.

Ramalho Eanes negou ainda que a sua desvinculação das comemorações dos 50 anos da Revolução tenha estado relacionada com a exclusão desta data. "Não teve absolutamente nada a ver com esse facto", afirmou, rejeitando esclarecer as razões, que foram apresentada ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Até é natural, em Democracia, que de vez em quando existam maus Governos

A entrevista que aconteceu no programa 'Palavras que contam' passou de 1974 até  2024, tendo Eanes sido questionado sobre algumas comparações entre os dois tempos e, regressando 'à base', Eanes falou sobre a "característica dominante perversa" que era a "falta de liberdade". "Os cidadãos não tinham direito à sua cidadania. Depois do 25 de Abril, isso mudou. Eleições passaram a ser indiscutivelmente livres", apontou, recordando as palavras de António Barreto: "Os portugueses assumiram a responsabilidade do seu destino".

O antigo chefe de Estado, apontou ainda que esta situação permite mesmo que "existam maus Governo". "Até é natural, em Democracia, que de vez em quando existam maus Governos. Mas não é um mau Governo que prejudica o país", considerou, explicando que existe depois a substituição de Executivos

Em cima da mesma esteve ainda em conversa a ajuda internacional, nomeadamente, os fundos europeus, que Eanes classificou como "extremamente importantes para a criação do Estado Social português", sem rejeitar a ideia de que nem tudo o que estes fundos trouxeram foi bom - nomeadamente, quando Portugal se esqueceu de que era necessário insistir na atualização de empresas ou na preparação de pessoal que pudesse "competir" com a União Europeia (UE). "Como todas as coisas na vida, a UE teve uma boa contribuição para a Democracia e Estado Social português, e alguns efeitos nocivos", balanceou.

Ramalho Eanes deixou ainda um apelo aos partidos políticos, que se devem unir para discutir - com a ajuda da sociedade civil - as despesas respeitantes à parte social do país. "Será que não é possível os partidos se entenderem para estabelecerem uma estratégia mínima que permita resolver os grandes desafios com que os portugueses se confrontam agora e com que o futuro confronta Portugal?", questionou.

É indispensável que partidos políticos se entendam

Numa altura em que a Europa já está em guerra, Eanes disse que as Forças Armadas "caminham para uma irrelevância", e retrata as Forças Armadas atuais. "Tem vindo a haver uma degradação progressiva das Forças Armadas em relação às outras Forças de Segurança", afirmou, apontando que hoje não existem recursos suficientes.

Foi ainda levantada a questão "e se Portugal fosse atacado numa hipotética guerra mundial", a que Eanes respondeu, apontando que hoje em dia não se produz nada: "Tínhamos mísseis para duas saídas. Depois os F-16 não serviam para nada [....]. Hoje não temos nada. Compramos tudo".

Neste âmbito, o ministro da Defesa, Nuno Melo, foi 'chamado' à conversa, e Eanes questionado sobre o que esperava deste novo governante. "O que é necessário - que se definam políticas de recrutamento, de retenção, de modificação da condição militar - tornando as forças armadas mais atrativas - para termos jovens", defendeu, acrescentando que a união de que falou antes também era para este chamado.

"É indispensável que os partidos políticos - pelo menos os grandes - se entendam para fazer a definição. Isto não pode ser trabalho de um Governo de um partido político ou coligação. Tem de ser um trabalho coletivo, feito por todos", determinou.

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