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Caso não negoceie com Chega, Montenegro levará "PSD ao descalabro total"

O Notícias ao Minuto conversou com dois dos signatários do manifesto 'Portugal em Primeiro', que apela a que a liderança do PSD procure um entendimento com o Chega, apesar das reiteradas rejeições por parte de Luís Montenegro.

Caso não negoceie com Chega, Montenegro levará "PSD ao descalabro total"

Perante a intransigência - popularizada com a expressão "não é não" - do presidente do Partido Social Democrata (PSD), Luís Montenegro, na recusa a estabelecer qualquer tipo de acordo com o partido de extrema-direita Chega, um grupo de sete militantes sociais-democratas apela a que o líder da Aliança Democrática (AD) que foi, na madrugada desta quinta-feira, 21 de março, indigitado como primeiro-ministro, coloque "Portugal em primeiro lugar", sob pena de levar o partido "ao descalabro total". É que, na ótica de Rui Gomes da Silva, ex-ministro dos Assuntos Parlamentares do governo de Pedro Santana Lopes e um dos signatários do manifesto ‘Portugal em Primeiro’, o partido "deixará de ser relevante para qualquer maioria na Assembleia da República (AR)" sem o apoio do Chega.

Ainda que tenha admitido que, agora, "será difícil" que Montenegro volte atrás na sua palavra, Rui Gomes da Silva salientou, em declarações ao Notícias ao Minuto, que "a política não se pode sobrepor à matemática", tampouco "o orgulho e a sua posição pessoal é mais importante do que o interesse do partido".

"[Montenegro] foi pressionado pela opinião pública, pelas pessoas que, vivendo na política e em realidades do século passado, não perceberam que o mundo mudou e acham que tudo aquilo que disseram em 1985 continua a ser verdadeiro agora", apontou o antigo vice-presidente do PSD, que colocou também a culpa da posição do atual líder do PSD "na Europa e no Partido Popular Europeu, [que temem] o êxito de uma política com um partido mais à Direita e não quiseram que se repetisse em Portugal, porque isso faria a que cedessem nas suas próprias posições".

Uma vez que a Iniciativa Liberal (IL) não cresceu tanto como o Chega, que "quadruplicou o seu número de votos e de deputados ao lado, talvez, do Livre", um acordo com aquele partido seria "irrelevante" em termos numéricos.

"Agarrado a essa palavra dada", Luís Montenegro levará, na ótica de Rui Gomes da Silva, "o PSD a um descalabro total e a uma transformação de um PSD enquanto partido fundamental e pilar do regime a um partido de pouca expressão", no espaço "de quatro a seis anos". O partido deixará, assim, "de ser relevante para fazer qualquer maioria na AR", segundo o também advogado.

Sete militantes do PSD querem acordo com o Chega para "maioria sólida"

Signatários destacam a necessidade de construir "uma solução governativa à Direita, sem medos e muito menos condicionada por aquilo que deseja a extrema-esquerda".

Notícias ao Minuto | 11:48 - 19/03/2024

Já o primeiro signatário do manifesto, Miguel Corte-Real, defendeu em declarações ao Notícias ao Minuto que Montenegro deve mostrar "coerência", ao mesmo tempo que apontou que o reiterado "não é não" terá de ser reavaliado à luz dos resultados eleitorais obtidos no dia 10 de março.

"A reflexão que se pede é analisarmos os resultados como eles são. Todo esse tipo de afirmações são feitas antes das eleições. Não estou a dizer que não tem de haver coerência; claro que tem de haver coerência. Agora, depois das eleições, quem for indigitado como primeiro-ministro e tiver a responsabilidade de construir um Governo tem de olhar para as circunstâncias no papel de líder de Governo, para construir um Governo estável para o país. Luís Montenegro vai ser primeiro-ministro também deste milhão e cem mil pessoas que votaram no Chega, assim como também vai ser primeiro-ministro das pessoas que votaram nos partidos à Esquerda", argumentou o líder da bancada do PSD na Assembleia Municipal do Porto.

Miguel Corte-Real considerou, por isso, ser necessário que a liderança do PSD procure "encontrar pontos de entendimento" com o Chega, tal como fez "com o seu parceiro de coligação, o CDS, e com a IL".

"O país está no estado que sabemos, com muitos problemas em áreas como a Saúde e a Educação, e é fundamental o próximo Governo seja capaz de fazer reformas. Para fazer reformas é preciso tempo, portanto precisamos de ter um Governo estável, que possa governar durante quatro anos. Mas isso só vai acontecer se conseguirmos construir uma solução para essa estabilidade. Isso, sim, é que é pôr Portugal em primeiro", disse.

Por seu turno, Rui Gomes da Silva considerou ser "essencial [que se estabeleça] uma plataforma de entendimento político com participação [do Chega] no Governo, que sejam definidas o que é que são linhas vermelhas em relação a cada um dos partidos, e isso levaria a um denominador comum, que é o que vai ser consagrado no programa do Governo".

E complementou: "Está a provar-se que aquele mito de que o Chega era só André Ventura é falso; o que não havia era nenhuma alternativa. As pessoas não tinham oportunidade de se exprimir porque não eram convidadas para nada. […] Falemos do gueto em que meteram o Chega, um gueto gerado até pela não eleição de um vice-presidente da AR. Acho que o Chega tem de agradecer muito ao ainda presidente da AR [Augusto Santos Silva] sobre aquilo que fez e a tentativa de espezinhar e humilhar, fazendo com que o debate político fosse feito entre os todos poderosos, os donos disto tudo que podem dizer tudo e o seu contrário, da Esquerda, e depois a extrema-direita."

"Quem estabelece linhas vermelhas aos partidos são os eleitores"

Questionados quanto às preocupações de que o crescimento do Chega e a sua consequente integração no Governo pudesse ser um retrocesso político e democrático, particularmente num momento em que Portugal está prestes a celebrar os 50 anos do 25 de Abril, ambos os signatários do manifesto teceram duras críticas aos partidos à sua Esquerda, tendo apontado que os "portugueses traçaram linhas vermelhas" a estes coletivos, que "praticamente desapareceram".

"O povo não é soberano? Temos partidos na AR que são estalinistas, leninistas, maoistas, trotskistas... Esses podem ser tudo. Não aceitam a democracia que consideram burguesa, não querem a Europa, estão contra o Euro, a NATO, e um deles até está contra o apoio dado à Ucrânia neste conflito com a Rússia. À Direita não se pode ser nada", atirou Rui Gomes da Silva, enquanto Miguel Corte-Real recordou que "quem estabelece linhas vermelhas aos partidos são os eleitores, porque são os eleitores que definem que partidos é que estão ou não na AR".

"Os agentes políticos, os comentadores, essas forças vivas da televisão gostariam muito, mas não o fazem. Isso custa muito, com certeza, a muitos comentadores que se acham, de alguma forma, donos da moral política; mas não são, e estas eleições são prova disso", disse ainda o líder da bancada do PSD na Assembleia Municipal do Porto

Aliás, foi mais longe, tendo esclarecido que, ainda que tenha de ser fiel aos seus princípios, o PSD "terá de ter abertura a propostas de outros partidos que possam sustentar o Governo, como a IL e o Chega".

"Não me parece nenhum retrocesso [manter acordos com o Chega]; parece-me um pouco um retrocesso da democracia estarmos hoje, em 2024, 50 anos depois do 25 de Abril, a querer de cima para baixo impor decisões e opiniões sobre as pessoas. Isto é que me parece um verdadeiro atentado à democracia, termos um grupo de poucos a decidir por muitos. Isso é que me assusta e isso é que é preciso combater. […] Não vamos encontrar soluções com o que é solução com meia dúzia de portugueses. 50 anos depois, estamos aqui a discutir se a opinião de poucos vale mais do que a opinião de muitos. Estas eleições foram as mais votadas desde 1991, portanto foram as mais legitimadas. É uma responsabilidade extra que se deve ter quando se está a analisar as mesmas", concretizou.

"Há uma maneira de parar o crescimento do Chega, que é ter o Chega dentro do Governo"

Confrontado com a sua proximidade com André Ventura, Rui Gomes da Silva, que é padrinho de casamento do líder do Chega, assegurou que "sempre [separou] as [suas] amizades da análise política", tendo, até admitido que "esta solução de apelar à entrada do Chega no Governo é talvez a solução que mais prejudicaria o Chega em termos eleitorais".

"Como dizia Pedro Santana Lopes na noite eleitoral, há uma maneira de parar o crescimento do Chega, que é ter o Chega dentro do Governo. Nada mais certo. Se quiser dar um conselho a André Ventura, seria porventura não se imiscuir no Governo, e esperar que esta solução faça o seu caminho, até porque quem esperou este tempo pode esperar mais dois ou quatro anos", disse, reforçado que "se não me quisesse preocupar com o PSD, acho que a melhor estratégia é esta que o PSD vai caminhar".

E  finalizou: "Ou o PSD tem uma vocação maioritária e é o partido onde a Direita se revive, ou perderá aquilo que perdeu, que foi uma votação maciça no Chega. Até aqui podia dizer que era irrelevante e recuperável, mas agora já vai ser difícil, e nas próximas eleições vai ser ainda mais. Se esta realidade passar para as eleições autárquicas, aí já será completamente impossível reverter a situação política portuguesa."

Saliente-se que Luís Montenegro, antigo líder parlamentar do PSD nos tempos da troika, será o próximo primeiro-ministro de Portugal, depois de a AD ter vencido as eleições legislativas antecipadas do passado dia 10.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, indigitou na madrugada de hoje o social-democrata, que anunciou que apresentará ao chefe de Estado a composição do futuro Governo no dia 28 de março. Acertou, além disso, a tomada de posse para o dia 2 de abril.

O 19.º presidente do PSD assumirá a liderança do Governo nove anos depois de o partido ter deixado o poder, em 2015, sem ter tido experiência executiva, embora já tenha dito publicamente que recusou por três vezes ocupar cargos no Governo, particularmente com Santana Lopes e com Pedro Passos Coelho, por razões familiares.

Leia Também: Luís Montenegro, o resistente que vai levar o PSD de volta ao Governo

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