Em 2022, a freguesia de São Vicente e Ventosa, que pertence ao concelho de Elvas, distrito de Portalegre, foi notícia depois de o Chega ter conseguido mais de 28% de votos nas eleições legislativas, tornando-se na segunda força política deste "tranquilo lugar de casas caiadas de branco", tradicionalmente de Esquerda.
Esta quarta-feira, a poucos dias das eleições legislativas de 10 de março, São Vicente e Ventosa volta a ter destaque internacional, através da Reuters. Contam os jornalistas Sérgio Gonçalves e Miguel Pereira que neste "antigo reduto comunista de 730 pessoas", os cartazes do partido populista de Direita são mais numerosos do que os dos restantes partidos e no ar paira a ameaça de a percentagem de eleitores no Chega aumentar ainda mais.
Um possível indicador "precoce" de que Portugal, que só vive em democracia há 50 anos, após a queda de uma ditadura fascista, "pode não estar imune ao crescimento da extrema-direita por toda a Europa".
Num pequeno café da freguesia alentejana a conversa centra-se muitas vezes na popularidade do Chega, com muitos habitantes locais, incluindo opositores do partido, a preverem, segundo a Reuters, que este poderá, depois de ter terminado apenas atrás do PS em 2022, tornar-se o partido mais votado desta vez em São Vicente e Ventosa.
"Pelo que ouço nas ruas, o Chega vai subir muito, o que é lamentável e triste", realça João Martins, de 61 anos. Para o comunista, é difícil entender a "mentalidade das pessoas", como é que o município de classe trabalhadora se virou "para a extrema-direita".
Já o presidente socialista da junta de freguesia, João Charruadas, de 38 anos, admite que é um voto no Chega é um "voto contra o Governo central", uma vez que acredita que "esta freguesia não é racista, não é xenófoba".
No entender do autarca, os baixos salários, o aumento dos preços e a falta de investimento público são as principais razões pelas quais muitos habitantes locais, incluindo aqueles que costumavam votar em partidos de Esquerda, "estão a dar um grande impulso à extrema-direita". Argumentos estes que parecem estar em sintonia com o que a Reuters ouviu pela freguesia.
“As pessoas estão a ficar indignadas com o sistema. Temos cada vez mais bandidos e corrupção no nosso país", atira, por exemplo, Mário Gonçalves, proprietário de um minimercado local, de 35 anos, assumindo que o seu voto no Chega é "um ato de revolta", embalado pelas promessas "atrativas" de anticorrupção do Chega.
Leia Também: "Voto na AD é um voto contra os direitos das mulheres. No PAN é a favor"