Da Praça do Município até ao Rossio vai uma curta distância, mas a suficiente para deixar a larga distância a mobilização das outras iniciativas de rua da CDU nesta campanha eleitoral. Ao lado do atual secretário-geral do PCP seguiam figuras de relevo da Coligação Democrática Unitária (CDU, que junta PCP e PEV), como António Filipe (PCP) ou Mariana Silva (PEV), mas todas as atenções estavam centradas no encontro com os antecessores antes do comício.
Com um abraço sentido a Jerónimo de Sousa e Carlos Carvalhas à chegada ao Rossio, Paulo Raimundo enalteceu o "orgulho imenso" em receber os anteriores líderes na campanha. "São os pesos pesados. É mais uma batalhazinha, não é verdade? Ia-te dar um cravo, Carvalhas, mas já tens. E o Jerónimo também já tem... Pronto", afirma o atual secretário-geral.
Para trás ficavam poucas centenas de metros trilhados a passo lento, com cravos e bandeiras nas mãos. Às ruas cortadas para a passagem do desfile juntavam-se algumas pessoas nas varandas e a curiosidade de estrangeiros que tiravam fotos, antes de Paulo Raimundo subir ao palco para se mostrar entusiasmado com "extraordinária imagem" à sua frente.
"Há bocado perguntavam-me se isto era uma demonstração, um último suspiro de quem está quase a cair... Ui, quem faz isto, quem tem esta força e determinação não é de estar quase a morrer. É de estar bem vivo, a crescer e a alargar", atira, antes de um discurso no qual reiterou as principais bandeiras, do aumento dos salários e das pensões ao combate à precariedade e aos grandes grupos económicos.
São bandeiras que Carlos Lapa já conhece há muitos anos, quase tantos como os 81 anos de vida. Com duas bandeiras nas mãos, refuta à Lusa os prenúncios de morte ou desaparecimento que algumas vozes apontaram aos comunistas nos últimos tempos, à boleia de sondagens com resultados negativos para a CDU.
"A morte da CDU já está anunciada há muitos anos, só que o Partido Comunista já tem mais de 100 anos e para a semana comemora os 103 anos", recorda, justificando o apoio ao partido com uma vida de trabalho que começou ainda "muito novo" a ajudar o pai no talho, passou por França para fugir à tropa e que ainda não terminou. "Sou reformado e continuo a trabalhar porque as reformas não dão", refere, esclarecendo trabalhar ainda como técnico de contas.
Garante que "a expectativa é boa" para as eleições legislativas de domingo, mas deixa um alerta: "O problema é que muitas vezes a aceitação das campanhas não corresponde à realização dos votos. Temos de ter cuidado com as expectativas".
Carlos Lapa não veio sozinho. Consigo estava também o filho, Manuel Lapa, de 57 anos, mais tímido nas palavras, mas comprometido com o partido desde há dois anos, quando se registou como militante depois de sempre ter votado na CDU.
"Temos de esperar, fazer o nosso trabalho e no dia 10 os portugueses é que vão decidir o valor das sondagens. Por aquilo que temos sentido, acreditamos que vamos subir", nota, assumindo um olhar benevolente sobre a prestação de Paulo Raimundo à frente dos comunistas: "Tem vindo em crescendo. Tem uma forma diferente de falar, começou há pouco tempo e nos debates veio a crescer. Para a próxima será certamente melhor, porque vai aprender muito".
Do outro lado da praça, outro pai trouxe também a sua descendência ao comício, desta feita uma filha, que herdou igualmente a militância política. Depois da multidão que acorreu hoje à iniciativa dos comunistas, Joana Pires, de 52 anos, confessa estar confiante.
"A CDU nunca me tem deixado mal. Tem defendido sempre os trabalhadores e aquilo que eu defendo para o país", conta, garantindo que há futuro além das memórias do passado do PCP: "Acho que isto é uma prova de vida, sim. Continuamos com força, continuamos cá. O meu pai tem 80 anos e veio aqui. Isto é gente de garra, gente de luta e gente de trabalho".
A mesma luta que pareceu espantar Paulo Raimundo ainda nos primeiros momentos do comício. "E que força é esta? Que esperança é esta de que é feita a CDU e que hoje está a desaguar no Rossio?", pergunta, antes de reforçar "a oportunidade" de 10 de março.
No entanto, e enquanto não chega o dia das eleições, dançou-se no Rossio.
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