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"Absurdo". Governo e (quase todos os) partidos saem em defesa de Guterres

António Guterres afirmou, perante o Conselho de Segurança da ONU, que os ataques do Hamas "não vêm do nada", declarações que levaram o governo israelita a pedir a demissão imediata do responsável. Além disso, Israel decidiu não conceder vistos a representantes da ONU. A situação levou o Governo português e várias figuras partidárias a expressar solidariedade para com o também antigo primeiro-ministro. Já IL e Chega partilharam uma posição contrária.

"Absurdo". Governo e (quase todos os) partidos saem em defesa de Guterres
Notícias ao Minuto

16:14 - 25/10/23 por Carmen Guilherme com Lusa

Política Israel/Palestina

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, tornou-se no assunto do momento devido às suas declarações no Conselho de Segurança, na terça-feira, levando a indignação e críticas por parte de Israel. Face ao sucedido, foram várias as figuras da polícia portuguesa que se decidiram pronunciar sobre o sucedido.

Recorde-se que Guterres condenou inequivocamente os "atos de terror" e "sem precedentes" de 7 de outubro perpetrados pelo Hamas em Israel, mas admitiu ser "importante reconhecer" que os ataques do grupo islamita "não aconteceram do nada", frisando que o povo palestiniano "foi sujeito a 56 anos de ocupação sufocante".

O primeiro-ministro português, António Costa, foi uma das figuras que decidiu deixar uma mensagem de solidariedade a Guterres, considerando, em declarações enviadas à agência Lusa, que, perante a "tragédia humanitária", tem sido "exemplar" na afirmação humanista do Direito Internacional.

Também o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, manifestou-se solidário com o secretário-geral da ONU, afirmando que Portugal "compreende e acompanha" a posição do secretário-geral das Nações Unidas sobre o conflito entre Israel e o Hamas.

"Compreendemos e acompanhamos inteiramente a posição de António Guterres, que foi inequívoco quando condenou o terrorismo do Hamas, que é absolutamente inaceitável. Foi absolutamente cristalino na análise que fez", declarou João Gomes Cravinho à agência Lusa, lamentando a polémica entre o Governo de Israel e o secretário-geral da ONU.

A nível partidário, também a líder do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, decidiu manifestar-se.

"Estou solidária com António Guterres", declarou Mortágua no X (antigo Twitter). "Bastou dizer o óbvio para que António Guterres ficasse sob assédio do regime israelita. Face ao genocídio, são poucas as vozes que se ouvem pela paz e pelo direito internacional",  acrescentou.

Mas não foi a única. O líder do grupo parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, também recorreu à mesma rede social para comentar o tema. "Há uma deriva irracional do Governo de Israel que quer 'dar uma lição' à ONU, demitir António Guterres e negar vistos a representantes e funcionários da ONU. Quando a ONU passa a inimiga, quais são os valores que se pretendem impor ou as atrocidades que se querem cometer?", questionou.

Seguiram-se outras reações dos bloquistas, que se colocaram do lado de Guterres, como Joana Mortágua, que também condenou o facto de Israel negar vistos a representantes da ONU. "Absurdo, inédito e inaceitável. Esta decisão compromete toda a ajuda humanitária na região e é uma demonstração de poder colonial", apontou no X.

A deputada do Partido Socialista (PS) Isabel Moreira também saiu em defesa do secretário-geral da ONU. "Opiniões. Já sabemos. Pois a minha resulta de ouvir António Guterres. Não justificou o Hamas, pelo contrário. E foi firme na defesa do direito e no apelo a um cessar fogo nos termos em que o fez . Não contem comigo para desacreditar a ONU. A UE anda muito bem, se calhar", escreveu nas redes sociais.

Pouco depois, acrescentou: "1) Exigir a demissão do secretário-geral da ONU 2) comprometer a ajuda humanitária - há portanto um pretexto ou um contexto para Israel fazer esta coisa sem nome ?", questionou, no X.

Mais tarde, o PS, nas palavras de Carlos César, veio manifestar apoio às posições assumidas pelo secretário-geral da ONU, lamentando as "más interpretações" das suas palavras e criticando a "política de barricada" no conflito.

"Prestamos toda a solidariedade e apoio às declarações do secretário-geral das Nações Unidas. O que se tem passado nas últimas horas é fruto de uma má interpretação das palavras" de António Guterres, declarou o vice-presidente do Grupo Parlamentar do PS Francisco César.

Por sua vez, Rui Tavares, líder do Livre, realçou que quem critica Guterres "por também falar da 'ocupação sufocante' de que são vítimas os palestinos sabe a diferença entre justificar e entender".

"Mas interessa-lhe confundir e minar a credibilidade do SG da ONU. Só por si preocupante", alertou na rede social X.

Numa resposta a outro utilizador, Rui Tavares apontou ainda: "A tentativa de cancelamento do Guterres é também uma manobra política que deve ser identificada, num momento perigoso em que precisamos de mediadores mais do que nunca".

O Partido Comunista Português (PCP) também se pronunciou. Os comunistas consideraram que as declarações do secretário-geral da ONU vão no sentido da paz e "respeito pelo direito da Palestina", salientando que se enquadram num contexto de "décadas de incumprimentos das resoluções" das Nações Unidas por Israel.

"Consideramos que Portugal, ao nível da Presidência da República, Governo, Assembleia da República, tem de ter um posicionamento numa perspetiva de encontrar uma solução de paz, de cumprimento das resoluções das Nações Unidas e de respeito pelo direito da Palestina. As palavras do secretário-geral das Nações Unidas são neste sentido", declarou a líder parlamentar do PCP, Paula Santos, em conferência de imprensa no parlamento.

Inês de Sousa Real, líder do Pessoas–Animais–Natureza (PAN) afirmou que "qualquer pessoa que seja pela paz e humanista não pode deixar de acompanhar as palavras de António Guterres".

No X, Sousa Real defendeu que Guterres "não só condenou o atos praticados pelo Hamas, como não fez um branqueamento da história e menos ainda incentivou a escalada do conflito, sob a pretensa 'autodefesa'".

Por outro lado, a Iniciativa Liberal (IL) mostrou-se em desacordo com estas posições e condenou as palavras de Guterres.

"A Iniciativa Liberal condena as declarações de António Guterres. Mostraram desrespeito pelas famílias das vítimas de um hediondo ato de terror e barbárie humana, foram politicamente insensatas e diplomaticamente catastróficas", lê-se numa nota divulgada no X.

"Não há contexto que justifique as atrocidades cometidas pelo Hamas no passado dia 7 de outubro, nem é aceitável a normalização que decorre daquelas declarações para comportamentos verdadeiramente abomináveis. Guterres afundou as Nações Unidas no pântano, retirando-lhe qualquer capacidade de mediar o conflito e de interceder em favor de todas as vítimas inocentes. Absolutamente lamentável", acrescentou.

Também o presidente do Chega defendeu que o secretário-geral da ONU "não tem condições políticas" para continuar no cargo e propôs que a Assembleia da República condene as sua declarações.

Em declarações aos jornalistas no parlamento, André Ventura manifestou "incómodo e insatisfação" com as palavras do secretário-geral da ONU.

o vice-presidente do PSD Paulo Rangel defendeu que a clarificação feita pelo secretário-geral das Nações Unidas sobre as declarações que proferiu na terça-feira sanou a polémica, mas considerou que houve de facto uma frase "menos feliz".

"A clarificação que fez o secretário-geral das Nações Unidas, o nosso compatriota António Guterres, é uma clarificação importante. De facto, criou-se uma controvérsia em toda a imprensa internacional, porque as declarações de ontem [terça-feira], enfim, pelo menos não foram felizes, especialmente uma frase", sustentou Paulo Rangel, em declarações aos jornalistas no Parlamento Europeu (PE), em Bruxelas.

Na terça-feira, na abertura de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, numa intervenção em inglês, Guterres considerou que "é importante também reconhecer que os ataques do Hamas não aconteceram num vácuo", acrescentando que "o povo palestiniano tem sido submetido a 56 anos de ocupação sufocante".

Guterres defendeu que "as queixas do povo palestiniano não podem justificar os ataques terríveis do Hamas", assim como "esses ataques terríveis não podem justificar a punição coletiva do povo palestiniano".

Na mesma reunião, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Eli Cohen, acusou António Guterres de estar desligado da realidade e de mostrar compreensão pelo ataque do Hamas de 7 de outubro com um "discurso chocante".

Na rede social X, ex-Twitter, o embaixador israelita na ONU, Gilad Erdan, pediu a demissão imediata de António Guterres das funções de secretário-geral desta organização.

Hoje, Gilad Erdan anunciou a decisão de Israel de não conceder vistos a representantes da ONU, numa entrevista à Rádio do Exército israelita.

[Notícia atualizada às 22h51]

Leia Também: Liga Árabe sai em apoio de Guterres contra "chantagem israelita"

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