Aníbal Cavaco Silva admitiu esta sexta-feira, em entrevista à Rádio Observador, que não acha "normal" que António Costa, enquanto primeiro-ministro, tenha ficado em silêncio durante o último Conselho de Estado.

"Não quero pronunciar-me sobre aquilo que foi do conhecimento de todos, corroboro aqueles que disseram que não é normal. Devo dizer que, nos meus 28 anos de Conselho, não me recordo de uma situação destas, mas o senhor primeiro-ministro deve ter as suas razões, que eu respeito", declarou, garantindo ainda que enquando desempenhou funções de Chefe do Governo "nunca" ficou calado em frente aos conselheiros de Estado.

Ainda sobre o mesmo assunto, o ex-Presidente da República defendeu que o primeiro-ministro deve mostrar nas suas "intervenções que está melhor informado do que todos os membros do Conselho".

"Temos divergências políticas profundas"

Durante a mesma entrevista, no âmbito do lançamento do seu 25.º livro 'O Primeiro-Ministro e a Arte de Governar', que revelou já ter enviado a António Costa e que este até agradeceu, Cavaco Silva admitiu que "tem divergências políticas profundas" com o atual Chefe do Governo.

"Devo dizer que, contrariamente ao que muitos pensam, tenho uma relação pessoal normal com o senhor primeiro-ministro atual, mas é sabido — ele sabe, eu sei — que temos divergências políticas profundas", salientou.

E dá exemplos. "Há que ter cuidado com a mentira, a mentira corrói, houve aí uma semana que só se falava de mentiras na comunicação social", disse, referindo-se ao caso Galamba, descrevendo como "esquisito" que depois de tanta polémica tenha "continuado tudo na mesma na segunda-feira seguinte".

Apesar das críticas ao Governo, deixa elogios a um ministro de Costa: José Luís Carneiro, que considera ser uma "pessoa de bom senso".

“O primeiro-ministro não ganha no confronto com o Presidente"

Já em análise à atual relação entre António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa, Cavaco Silva sublinhou que "um primeiro-ministro deve fazer o possível para evitar que o Presidente da República atue de forma a impedir a concretização do programa do Governo, deve ser muito cuidadoso nas reuniões e no diálogo que mantém com o Presidente" e mostrar "uma completa disponilidade para explicar os diplomas de forma a que estes sejam todos promulgados".

"O primeiro-ministro deve evitar essas situações de conflito com o Presidente da República.  O primeiro-ministro não ganha no confronto com o Presidente da República", concluiu.

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