"Geringonça foi um modo conjuntural para uma solução de Governo"
O antigo ministro socialista Paulo Pedroso considera que a "Geringonça" foi um modo conjuntural de organização para uma solução de Governo, contrapondo que a Associação Causa Pública visa sobretudo fornecer instrumentos políticos para futuros executivos de esquerda.
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Política Paulo Pedroso
Esta análise foi transmitida à agência Lusa por Paulo Pedroso, membro da comissão instaladora da Associação Causa Pública, que se define ideologicamente como progressista de esquerda e que será este sábado formalmente constituída numa assembleia geral fundadora em Lisboa.
Interrogado se esta nova associação pretende reeditar a prazo a solução política "Geringonça", baseada num Governo minoritário do PS e que até 2022 teve suporte parlamentar do Bloco de Esquerda, PCP e PEV, o antigo porta-voz socialista sob a liderança de Ferro Rodrigues acentua que a Causa Pública não pretende assumir-se como ator do sistema político-partidário "em direção nenhuma".
"A Geringonça foi um modo conjuntural de organização das forças políticas à esquerda para uma solução de Governo. Cada um de nós tem um balanço individual sobre a Geringonça. A associação não nasce de um balanço sobre isso", adverte.
De acordo com o ex-militante do PS, une os fundadores deste 'think-tank' político o objetivo de que "hipotéticos futuros governos à esquerda, com a configuração que os cidadãos entenderem dar-lhes, possam dispor de instrumentos".
"Pessoalmente, entendo que a Geringonça é um precedente que deve ser avaliado nas suas forças e fraquezas, mas a nossa questão não é a da geometria partidária. É antes a de contribuir para o debate político pela circulação de ideias. A Causa Pública será uma instância de debate e produção de pensamento político", reforça.
Paulo Pedroso rejeita também a ideia de que a associação pretenda "social-democratizar" e evitar derivas totalitárias no espaço da extrema-esquerda, estabelecendo mesmo neste ponto uma total separação em termos de atuação, de posicionamento e de filosofia política face a correntes de extrema-direita.
"Em Portugal, por enquanto, não podemos dizer que haja alguma força extremista à esquerda. À esquerda, temos forças políticas organizadas com um passado bem conhecido. Se há experiência que a Geringonça demonstrou é que nenhuma força de esquerda esteve numa posição de maximalismo e radicalismo nos últimos anos", defende.
O antigo ministro socialista recusa por isso qualquer equivalência com "uma extrema-direita emergente, que põem em causa o próprio regime democrático e que assume não se reconhecer na Constituição de 1976".
"Isso não tem paralelo à esquerda. Toda a esquerda se reconhece na Constituição de 1976, toda a esquerda já demonstrou que pode contribuir para soluções de Governo. Não olhamos para nenhuma força com representação parlamentar à esquerda como representante de qualquer extremismo", acrescenta.
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