Em declarações aos jornalistas no parlamento, Rui Rocha defendeu que o relatório foi feito "contra a realidade, contra a própria Assembleia da República" e "contra os próprios portugueses".
"Há uma diferença brutal entre aquilo que é dito no relatório e o que os portugueses puderam acompanhar ao longo de dias, de semanas e, portanto, há aqui uma total mistificação. Estamos perante uma obra de ficção que contraria a realidade e o que os portugueses sabem", criticou.
Rui Rocha afirmou que a IL faz uma "avaliação obviamente negativa daquilo que é a conclusão e a recomendação" do relatório e não irá "participar em farsas" nem em "tentativas de apresentar uma verdade que contraria aquilo que os portugueses viram e acompanharam".
"Nós, perante isto, nem sequer faremos nenhum tipo de proposta de alteração do relatório, porque nós não participamos em farsas", frisou.
O líder da IL recordou que, no início da comissão de inquérito à TAP, o primeiro-ministro tinha dito que "desejaria que a verdade fosse apurada doesse a quem doesse", mas considerou que essas verdades "foram metidas debaixo do relatório".
"Aquilo que vemos aqui é, neste relatório, um trabalho meticuloso no sentido de que, face a estas conclusões e recomendações, o próprio primeiro-ministro não pode retirar nenhuma consequência política", disse.
Rui Rocha questionou se a elaboração do relatório não "terá sido precedido de reuniões preparatórias", considerando que "seria difícil fazer um serviço mais ao encontro daquilo que são os desejos de António Costa do que aquilo que foi feito".
Entre as várias críticas feitas ao relatório, o líder da IL destacou em particular o facto de o documento afirmar "que não houve ingerência política na gestão da TAP", começando por questionar se a reunião preparatória entre deputados do PS e a presidente executiva da TAP não constitui um exemplo de ingerência política.
"Depois, tivemos um pedido de esclarecimento de dois ministérios - o das Infraestruturas e o das Finanças - relativamente à situação da saída de Alexandra Reis e soubemos depois que o secretário de Estado de um destes ministérios interveio na elaboração da resposta a este pedido de esclarecimento. (...) Isto é ou não uma interferência política?", interrogou.
Rui Rocha referiu ainda que houve uma "clara participação" do Governo na definição do valor da indemnização da ex-secretária de Estado do Tesouro Alexandra Reis, voltando a questionar se isso não constitui outro exemplo de interferência política.
"Aquilo que se viu ao longo de semanas é uma realidade completamente diferente daquilo que este relatório veio trazer: percebe-se bem o embaraço da senhora deputada relatora, (...) porque não é para todos estar numa posição daquelas em que se está a tentar convencer os portugueses de algo diferente, diametralmente oposto, àquilo que tiveram oportunidade de ver", disse.
Rui Rocha sublinhou ainda que no relatório não há "referências adequadas, com a profundidade desejada" sobre os 3.200 milhões de euros que o Estado investiu na TAP, questionando qual foi a "avaliação política" que foi feita sobre esse investimento.
O relatório preliminar conclui que "não se registam situações com relevância material que evidenciem uma prática de interferência na gestão corrente da empresa por parte das tutelas".
A CPI apurou também "não existirem evidências de que a tutela acionista da TAP, o Ministério das Finanças, tivesse tido conhecimento do processo de saída de Alexandra Reis".
Os partidos podem apresentar até 10 de julho propostas de alteração a esta versão preliminar. A discussão e votação do relatório em comissão parlamentar de inquérito está marcada para 13 de julho e a sua apreciação em plenário para 19 de julho.
[Notícia atualizada às 12h52]
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