Às 9h30, hora marcada para levantamento de credenciais para a XIII Convenção Nacional do Bloco de Esquerda (BE), a fila começou a avolumar-se à porta do pavilhão do Casal Vistoso, em Lisboa, com delegados e militantes que não se queriam atrasar para abertura dos trabalhos.

O dia começou de madrugada para muitos dos presentes, que vieram de outros pontos do país e com vontade de participar em todas as horas deste fim de semana de convenção bloquista.

Bea Damas Morais tem 22 anos, veio de Coimbra e chegou de manhã cedo vinda num autocarro disponibilizado pelo Bloco de Esquerda para participar pela primeira vez numa Convenção Nacional.

A jovem apoia a moção A, encabeçada por Mariana Mortágua, e espera que da transição deste fim de semana resulte uma "renovação de espírito" que, diz, "é uma coisa que já estava a esperar há algum tempo".

Apoia Mariana Mortágua pela sua "visão de esperança" e pelas referências, no seu programa, à luta para "melhorar a vida das pessoas": "a vida boa", nas palavras da previsível sucessora de Catarina Martins.

"Se não tentarmos transformar este medo e esta raiva que as pessoas sentem na esperança para uma vida melhor e para um país melhor, o que vai acontecer é que as pessoas vão cair para ideologias fascistas, ideologias de violência que acabam por só piorar a situação", teme a bloquista.

Bea diz que gosta muito de Catarina Martins, mas que Mariana Mortágua a representa melhor. "Dentro de mim sinto que prefiro a Mariana", disse, e prosseguiu com elogios à forma "mais direta" como a candidata à liderança do partido fala.

Também de Coimbra, veio o jovem Rodrigo Sousa. Tem 18 anos e veio ainda mais cedo do que a sua conterrânea Bea. Chegou durante a tarde de sexta-feira para ajudar na organização da convenção e assistir à sessão internacional organizada pelo BE no final desse dia.

Estava numa longa fila para almoçar com a "amiga de camaradagem" Beatriz Realinho, uma jovem lisboeta de 22 anos, e os dois foram categóricos em concordar com a ideia de Mariana Mortágua como figura que os representa como jovens, às suas lutas e ao partido.

"O Bloco é um partido bastante jovem, e é jovem na sua história também, e a Mariana representa isso mesmo. A Mariana representa estas lutas todas. Representa a luta pela habitação, a luta pela igualdade, a luta contra a discriminação, a luta feminista, a luta LGBT", enumerou", defendeu Beatriz.

Rodrigo não rejeita assumir responsabilidade no futuro e espera repostas aos "muitos desafios" que os bloquistas têm pela frente.

Eleito delegado pela plataforma Crescer pela Raiz, João Patrocínio, de 27 anos, diz que não apoia nem a moção A (Mariana Mortágua)nem a moção E (Pedro Soares) e que não conseguiu propor uma moção ou orientação política "devido às exigências do número de subscritores".

Professor do ensino secundário, João Patrocínio afirma que se vai abster na hora de votar as moções de estratégia mas admite ver em Mariana Mortágua "uma camarada que mostrou imenso trabalho".

Contudo, diverge da proposta de Mariana Mortágua e luta por um programa diferente: "Nós sempre fomos contra os acordos com o PS e continua a ser esse um dos nossos valores principais", afirmou.

Já Noémia Nunes, com 70 anos, mostra-se "agradavelmente surpreendida" por chegar à Convenção e não conhecer quase ninguém.

Gosta de ver os "muitos jovens" presentes na vida do partido, não só na Convenção como também, por exemplo, nas manifestações.

Noémia Nunes milita no BE desde a sua fundação, oriunda da União Democrática Popular (UDP), uma das forças políticas que se viria a integrar no Bloco de Esquerda na sua origem.

Apesar de notar muita diferença entre os tempos da sua militância na UDP com os tempos atuais da vida do Bloco, Noémia diz que "o essencial e o âmago" se mantêm. Juntou-se ao extinto partido pela "maneira de estar, aquilo que se defendia, o socialismo".

A militante vai votar na Moção A mas "de um modo geral" não reconhece um antagonismo entre as moções em debate.

"Acho-a (Mariana Mortágua) muito competente. Faz muito bem o trabalho de casa. É muito sucinta. Faz as perguntas certas. Gosto", elogiou.

A XIII Convenção Nacional do BE, que vai eleger a nova liderança, começou no sábado, em Lisboa, com um arranque dominado pelo discurso de despedida de Catarina Martins, a apresentação e discussão das moções em disputa e as intervenções dos delegados.

Os 654 delegados poderão escolher entre duas moções: a A, encabeçada pela deputada Mariana Mortágua e com muitos nomes da atual direção, e a E, que junta críticos e cujo porta-voz à convenção é o ex-deputado Pedro Soares.

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