Catarina Martins vai sair da liderança do Bloco de Esquerda (BE) em maio, não se recandidatando na próxima convenção do partido, anunciou a mesma em conferência de imprensa, esta terça-feira, a partir de Lisboa.

"Comuniquei aos e às ativistas do Bloco de Esquerda que não serei candidata a coordenadora na próxima Convenção Nacional do Bloco", anunciou.

"É o momento para que a coordenação do Bloco seja assumida por outra pessoa", acrescentou a coordenadora do BE, justificando a sua decisão com a "instabilidade da maioria absoluta", ou seja, "por razões políticas".

A crise "multiplicada dentro do Governo e em choque com a luta popular é o sinal do fim de um ciclo político", disse.

Em jeito de balanço dos últimos anos, Catarina Martins disse que no Bloco "não há períodos muito longos de funções como a governação". "O que me fez decidir neste momento foi pensar que é agora que o Bloco deve começar a preparação da mudança política que já aí está", acrescentou.

"Vou estar presente em todas as lutas"

Catarina Martins enfatizou que "neste tempo novo estarão os velhos fantasmas, os ódios racistas que são o retrato de uma política mesquinha e vão estar os poderes de sempre, como a oligarquia que se alimenta da especulação financeira e urbanística, e está também a certeza de que é preciso virar à Esquerda".

"Esta renovação que desejo promover vai multiplicar a energia do Bloco", afirmou, garantindo que não vai "andar por aí".

A ainda líder garante que continuará a apoiar o Bloco de Esquerda "em todas as lutas" e considerou os 10 anos em que esteve à frente do partido como "um tempo extraordinário", em que o partido colocou "a Direita fora do Governo".

"Eu estou aqui, eu sou daqui. O Bloco é o partido onde estou e vou estar presente em todas as lutas, a luta toda como sempre. É com muita confiança que eu olho para o futuro do meu partido", assegurou.

Catarina Martins tranquila com sucessão

Durante a conferência, Catarina Martins manifestou "absoluta tranquilidade" de que há pessoas "com capacidade, força e preparação" para a substituir no cargo, esperando uma convenção com "soluções de unidade no partido" marcada para maio.

"Em relação ao futuro devo dizer-vos também que se posso tomar esta decisão é porque tenho a absoluta tranquilidade de saber que no Bloco de Esquerda há muitas pessoas com a capacidade, a força e a preparação para assumir estas funções e que portanto sei que vamos ter seguramente uma convenção tão participada como capaz de criar as soluções de unidade no partido", respondeu apenas quando questionada sobre eventuais sucessores ao cargo.

Sobre a continuação como deputada depois da reunião magna de maio, a líder do BE disse: "Não é uma questão neste momento. Eu tenho o meu mandato, estou a assumi-lo".

Questionada sobre uma eventual candidatura às próximas europeias, Catarina Martins reiterou que hoje estava a anunciar "aquilo que exige este momento".

"Este é o momento para que a coordenação do Bloco seja assumida por outra pessoa. Não estou a anunciar nem mais nem menos do que isto, com a tranquilidade de ter feito o melhor que sabia durante este período, com a tranquilidade de saber que o Bloco tem hoje um amplo reconhecimento popular pela sua coerência e também tem muitas pessoas com toda a capacidade e a preparação", reiterou.

Sobre a possibilidade de integrar as listas a algum órgão do partido, por exemplo a Mesa Nacional, mesmo depois de sair da coordenação, a bloquista remeteu essa decisão para a preparação da convenção, o que fará "em coletivo" com os seus camaradas.

"Estou a comunicar a minha decisão quando estamos a iniciar os trabalhos de preparação da convenção por lealdade para com toda a gente que no Bloco se organiza para esta convenção e para que todas as moções e listas que concorrem à direção tenham toda a informação que precisam", tinha começado por explicar na sua intervenção.

Recorde-se que Catarina Martins é coordenadora do BE desde 2014. Contudo, estava na liderança do partido desde 2012, altura em que assumiu, junto com João Semedo, um modelo de liderança bicéfala.

A convenção do partido está agendada para os dias 27 e 28 de maio, em Lisboa.

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