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'Qatargate'. Caso é "sistémico" para alguns eurodeputados portugueses

O escândalo de corrupção conhecido como "Qatargate" é avaliado de forma divergente entre eurodeputados portugueses, alguns considerando-o circunscrito ao grupo de acusados e outros vendo-o como reflexo de um problema "sistémico" nas instituições europeias.

'Qatargate'. Caso é "sistémico" para alguns eurodeputados portugueses
Notícias ao Minuto

08:03 - 18/01/23 por Lusa

Política Qatargate

A eurodeputada eleita por Malta Roberta Metsola cumpre hoje um ano desde que foi eleita presidente do Parlamento Europeu (PE). Pouco mais de um mês depois de iniciar funções precisou de consolidar a posição dos 705 eurodeputados de 27 Estados-membros quanto à guerra que Moscovo iniciou no território ucraniano.

Mas a 'pedra no sapato' foi e continua a ser o escândalo de corrupção descoberto no final do ano passado e que levou à queda da vice-presidente Eva Kaili e de vários eurodeputados. A investigação prossegue, mas os alicerces do PE abalaram e Metsola prometeu firmeza nas decisões para impedir que algo semelhante ocorra.

"Integridade, transparência e responsabilidade". As três palavras fazem hoje parte dos discursos da presidente do Parlamento Europeu, que não quer que os eurodeputados olhem para a instituição como uma "torre de marfim".

Mas a eurodeputada socialista Maria Manuel Leitão Marques lamentou à Lusa que Roberta Metsola "se tenha esquecido de defender mais assertivamente a honra e o trabalho de todos os outros deputados não visados pela investigação em curso, que são 702".

"Embora a criação de uma 'task force', atualmente em discussão, possa ser uma importante ferramenta interna para realizar reformas, não é suficiente para lidar com denúncias muito graves, como as que ocorreram recentemente. Por isso, será necessário criar uma Comissão Especial sobre Integridade, Transparência e Corrupção, com um mandato limitado e bem definido", sustentou, a propósito daquilo que a instituição pode fazer.

O centrista Nuno Melo é da opinião que o "Qatargate" está "circunscrito a um número muito reduzido de deputados, todos do mesmo grupo político, quase todos de uma única nacionalidade e sem qualquer capacidade de influenciar mais de 700 eurodeputados".

"A regra", prosseguiu o presidente do CDS-PP, é haver uma "esmagadora maioria dos eurodeputados, de todos os partidos, que trabalha todos os dias para reforçar e consolidar o projeto europeu".

João Pimenta Lopes, eurodeputado do PCP, critica a adoção de uma "abordagem enviesada a estes casos, restringindo o problema a 'interferências por parte de países terceiros'".

Na ótica da representação dos comunistas portugueses em Estrasburgo, "é necessário abordar as questões de natureza sistémica que revelam a promiscuidade entre o poder económico e político, de que são exemplo a institucionalização de lóbis e as chamadas 'portas giratórias' entre o exercício de cargos públicos e os grupos económicos e financeiros". E em nenhuma ocasião pode ser questionada "a capacidade de intervenção política" dos deputados do PE.

"Portas giratórias" é também a preocupação de José Gusmão, eleito do Bloco, pois "continuam a ter uma grande capacidade de influenciar deputados ou comissários europeus".

"Basta ver os percursos profissionais de muitas pessoas que estiveram no PE ou na Comissão ou em agências regulatórias da União Europeia. Os políticos honestos não enriquecem quando exercem as suas funções, enriquecem depois se não tiverem pudor", acrescentou.

Já sobre as palavras que Roberta Metsola tem dito sobre o assunto, o eurodeputado bloquista lamentou a "posição de vitimização", mas enalteceu que "foi feito o que tinha de ser feito imediatamente, a destituição de Eva Kaili".

"A ideia de que há um ataque ao PE [...]. O parlamento não foi atacado, pelo menos por ninguém de fora, temos é de pensar nas nossas fragilidades e na forma como o Parlamento Europeu assegura o escrutínio e a responsabilização dos seus membros", completou.

O eurodeputado social-democrata Paulo Rangel considerou que o "Qatargate" é, "sem dúvida, um dos momentos mais sérios e mais graves" desde a fundação do PE, em março de 1958.

Contudo, Rangel levantou uma suspeita: "Olhando para os valores que estão em causa e a existência de dinheiro vivo em quantidades enormíssimas, não é muito provável que o intuito dos corruptores pudesse ser apenas aquele que se diz."

Contudo, independentemente de haver "outro móbil a justificar estes crimes", o eurodeputado está seguro de que se nada for feito o escândalo pode "exponenciar os extremismos e os populismos".

Roberta Metsola fez bandeira do seu mandato o combate à corrupção - e das suas causas - dentro da instituição e o reforço dos mecanismos que o garantem. Dramatizou desde o primeiro momento que a credibilidade da instituição estava manchada e apontou que o problema não se repetiria depois da reforma preanunciada do Parlamento Europeu.

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